Novo tipo de estúdio pode reduzir a pegada de carbono da indústria do cinema

O Electric Owl terá um conjunto de comodidades ecológicas para o que tem sido, tradicionalmente, uma "indústria do desperdício"

Crédito: Electric Owl Studios

Talib Visram 4 minutos de leitura

O estado da Geórgia, no sul dos EUA, se tornou o novo point para a produção de filmes e programas de TV, conforme as empresas estão começando a buscar opções mais baratas e mais espaçosas fora de Los Angeles e de Nova York.

Em 2022, as produções na Geórgia arrecadaram US$ 4,4 bilhões. A capital, Atlanta, abrigou as filmagens recentes de séries como “Stranger Things”, “Ozark” e, é claro, “Atlanta”.

À medida que os negócios crescem, os estúdios desenvolvem maneiras próprias de atrair as principais produtoras. Um desses novos players aposta que seu foco na sustentabilidade vai atrair empresas que precisam atingir metas ambientais, mas cujas decisões acabam se resumindo ao melhor custo-benefício geral.

Os fundadores do Electric Owl Studios acreditam que suas ofertas ecologicamente conscientes podem ajudar uma indústria que emite muito carbono a reduzir sua pegada, mas mantendo os custos baixos. O local é um campus de quase 30 mil metros quadrados, distribuídos em seis estúdios de som, além de guarda-roupas enormes e espaços de fábrica para construção de cenários.

Crédito: Electric Owl Studios

Esse é o primeiro campus de estúdio do mundo com certificação ouro LEED, construído especificamente com essa prioridade. Ele conta com painéis solares, sistemas HVAC de alta eficiência, 48 estações de carregamento de veículos elétricos, carrinhos de golfe movidos a energia solar e oportunidades para reciclagem de materiais e compostagem de alimentos.

Construir um estúdio que coloca a sustentabilidade em primeiro lugar foi importante para os fundadores da Electric Owl dentro de uma indústria que “tradicionalmente é conhecida por desperdiçar muito”, diz o cofundador Dan Rosenfelt. Seu parceiro, Michael Hahn, é um incorporador imobiliário que já revitalizou diversas propriedades abandonadas em Los Angeles e Atlanta.

Rosenfelt, por seu lado, é “o cara do cinema”. Ele começou a carreira procurando sets para “O Sexto Sentido” e “Corpo Fechado”, do diretor M. Night Shyamalan.

Depois, trabalhou no desenvolvimento de produções com nomes como George Clooney. Mais tarde, dirigiu estúdios em Los Angeles e Atlanta. Ainda assim, nenhum dos dois tinha experiência em sustentabilidade. Mas eles enxergaram uma lacuna no mercado.

Dan Rosenfelt e Michael Hahn (Crédito: Electric Owl Studios)

As produções de cinema e TV consomem uma quantidade enorme de energia e geram toneladas de resíduos. De acordo com um relatório do British Film Institute, os filmes maiores produzem 2.840 toneladas de CO2. Cerca de 30% é proveniente do uso de energia.

Os maiores culpados por esse gasto são a iluminação intensa e o ares-condicionados necessários para que o calor não “derreta a maquiagem dos rostos dos atores”. Todas as luzes do Electric Owl são de LED, que usa muito menos energia. Os painéis solares no local fornecem cerca de 30% da energia.

No que diz respeito aos resíduos, todos os materiais dos cenários serão reciclados (em um forte contraste com as normas da indústria, onde os conjuntos demolidos geralmente vão parar em aterros sanitários).

O Electric Owl está trabalhando em parceria com a empresa Lifecycle Building Center, que coleta peças dos cenários e as vende para outras produções; e com grupos como Habitat for Humanity para doar restos de madeira.

Esses movimentos estão alinhados com o que os principais produtores de Hollywood estão tentando fazer com relação às suas metas de sustentabilidade. A Netflix pretende reduzir pela metade suas emissões de gases de efeito estufa até 2030. A NBCUniversal pretende ser neutra em carbono até 2035.

Crédito: Electric Owl Studios

Embora já existam lotes de estúdios sustentáveis no Canadá e na Europa, o Electric Owl parece estar à frente do resto nos EUA, compara Emellie O'Brien, CEO da Earth Angel, consultoria que trabalha com empresas para tornar suas produções mais ecológicas.

A consultoria, que trabalhou nas produções de “Pantera Negra” e da série “Severance”, presta serviços como fornecimento de fontes alternativas de combustível para geradores a diesel, que respondem por cerca de 15% das emissões totais no set.

Mas, independentemente do quão comprometido um produtor esteja com a sustentabilidade, o maior fator é o custo. “Eles adoram elementos verdes, mas também são uma indústria lucrativa”, aponta Rosenfelt.

O que o Electric Owl conseguiu fazer foi priorizar a inclusão de recursos de sustentabilidade sem aumentar o orçamento (e sem, portanto, repassar os custos para as produções). No fim das contas, acrescentaram apenas 1% ao total.

A chave do sucesso era encontrar os parceiros certos. Por exemplo, para a energia solar, eles fizeram parceria com a empresa local Cherry Street Energy, que instalou os painéis gratuitamente e cobra do estúdio uma taxa de quilowatt-hora. “Não poderíamos comprar painéis solares e pagar pela instalação nós mesmos”, explica Rosenfelt.

Se os preços forem competitivos, as instalações verdes são uma forma de se destacar da multidão, conclui Rosenfelt. “Queremos ser como uma espécie de hotel boutique ecológico que abriga equipes de filmes e programas de TV.”


SOBRE O AUTOR

Talib Visram escreve para a Fast Company e é apresentador do podcast World Changing Ideas. saiba mais