O que a ciência descobriu sobre carros elétricos e poluição sonora

Crédito: PNG Tree/ Sascha Bosshard/ Unsplash

Erica D. Walker 4 minutos de leitura

Se todas as pessoas, em todos os lugares do mundo, recebessem de graça e ao mesmo tempo um carro elétrico – e se seus donos fossem obrigados a manter velocidades muito baixas por estradas bem conservadas – o mundo seria muito diferente.

Mas isso não significa que ele seria mais tranquilo.

As pessoas podem reagir de formas diferentes aos mesmos sons. Como fundadora do Community Noise Lab (Laboratório de Poluição Sonora) da Escola de Saúde Pública da Universidade Brown, estou particularmente interessada em como nós, seres humanos, decidimos o que é som e o que é ruído – aquilo que chamamos de som indesejado.

Percebemos os sons que experimentamos em nossas vidas diárias de várias maneiras, do baixo ao alto. Eles podem nos fazer sentir felizes, nervosos ou despertar muitos outros sentimentos.

Esses sentimentos podem afetar a saúde, provocando relaxamento ou estresse. Estudos mostram ainda que a exposição crônica a ruídos pode afetar o sono e a audição, além de contribuir para problemas de saúde como doenças cardíacas.

RUÍDO PRODUZIDO PELOS CARROS

Sabemos que os carros movidos a gasolina fazem muito barulho, especialmente em rodovias onde é permitido trafegar em alta velocidade. Em 1981, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) estimou que quase 100 milhões de pessoas em todo o país foram expostas anualmente a ruídos do tráfego tão altos que se tornavam prejudiciais à saúde. Na época, esse número correspondia a cerca de 50% da população do país.

em altas velocidades, pode não haver muita diferença entre carros movidos a gasolina e veículos elétricos ou híbridos.

Muitos fatores influenciam o barulho que um carro faz na estrada, incluindo seu design, a velocidade e as condições físicas da estrada. Em média, os que se deslocam a cerca de 48 km/h nas estradas locais produzirão níveis sonoros que variam de 33 a 69 decibéis. Esse nível fica no intervalo entre os de uma biblioteca silenciosa e de uma máquina de lavar louça barulhenta.

Já entre os carros que viajam em velocidades comuns em estradas interestaduais, que é de cerca de 112 km/h, os níveis de som chegam até 89 decibéis. Isso é equivalente a duas pessoas gritando uma com a outra.

Os carros elétricos e híbridos (gás-elétricos) emitem sons muito baixos em baixas velocidades porque não possuem motores de combustão interna que produzam ruídos e vibrações.

Inclusive, para garantir que os pedestres consigam ouvir os veículos elétricos e híbridos se aproximando, a Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário exige que eles emitam sons que variem entre 43 e 64 decibéis quando rodam a menos de 30 km/h. Cada fabricante escolhe os sons que servirão de alarme.

Contudo, em altas velocidades, pode não haver muita diferença entre carros movidos a gasolina e veículos elétricos ou híbridos. Isso ocorre porque, quanto mais rápido os carros se movem, mais altos são os sons que resultam de outros fatores, como o ruído dos pneus e o do vento.

RUAS MAIS SILENCIOSAS PARA TODOS

A infraestrutura também contribui para o nível de ruído. Rachaduras, depressões e buracos nas pistas podem aumentar os níveis de som quando os carros passam.

Comunidades de baixa renda tendem a conviver com ruas e rodovias de pior qualidade. Portanto, a falta de manutenção pode se sobrepor a quaisquer melhorias na paisagem sonora de uma comunidade que adote carros elétricos.

o ruído é um estressor ambiental significativo, que afeta negativamente a saúde e o bem-estar de todos.

Outra forma de reduzir o ruído do trânsito seria construir mais ciclovias, sobretudo em comunidades mais pobres, e incentivar as pessoas a substituir o carro, quando possível, por esse meio de transporte mais barato, mais saudável, mais limpo e mais silencioso.

Os veículos elétricos ainda estão fora do alcance da maioria, porque muitos dos modelos disponíveis custam mais caro do que os carros a gasolina. Na verdade, os benefícios de mudar para veículos elétricos – como custos mais baixos de combustível, ar mais limpo e ruas um pouco mais silenciosas – estão sendo aproveitados até agora principalmente por pessoas que vivem em comunidades mais ricas e podem comprá-los.

Muita gente pensa no ruído como um incômodo menos urgente do que outras questões ambientais, como a poluição do ar e da água. Como resultado, os governos falham em planejar o ruído, medi-lo, mitigá-lo ou regulá-lo de forma significativa.

A verdade é que o ruído é um estressor ambiental significativo, que afeta negativamente a saúde e o bem-estar de todos, especialmente daqueles mais vulneráveis.

No Community Noise Lab, nosso objetivo é esclarecer as implicações do ruído na saúde pública, defender medições mais padronizadas do som e estudar o ruído junto com outros poluentes ambientais, como a poluição da água e do ar, trabalhando ao lado de comunidades vulneráveis ​​nos Estados Unidos.


SOBRE A AUTORA

Erica D. Walker é professora assistente de epidemiologia da Escola de Saúde Pública da Universidade Brown. saiba mais