O que a Ikea aprendeu ao desistir da meta de ser “carbono positiva”

A nova meta da gigante dos móveis é reduzir o total de emissões em 50% até 2030 e em pelo menos 90% até 2050

Crédito: Ikea

Adele Peters 4 minutos de leitura

Seis anos atrás, a Ikea fixou a meta de se tornar “carbono positiva” até 2030, o que significa que a empresa planejava conseguir reduzir mais emissões do que a quantidade emitida por ela.

O Inter Ikea Group, a empresa controladora da marca Ikea, apresentou novos planos para reduzir as emissões em toda a sua cadeia de suprimentos, desde a troca de materiais até a adoção de vans de entrega movidas a energia elétrica.

O grupo começou a fazer experiências com consertos de móveis e a levar de volta produtos antigos para serem consertados. Também trabalhou para mudar rapidamente para energia renovável.

Para atingir essa meta, a empresa planejou reduzir as emissões em apenas 15% até o final da década. Para lidar com os 85% restantes, o plano era contar com a remoção de carbono na cadeia de suprimentos. As florestas que fornecem madeira para seus móveis, por exemplo, podem, teoricamente, capturar mais CO2, dependendo de como são gerenciadas.

Mas, no início deste ano, a empresa mudou para uma meta mais agressiva: agora planeja reduzir suas emissões totais em 50% até 2030. Para a maior empresa de móveis do mundo, isso significa eliminar cerca de 15,5 milhões de toneladas de CO2 até 2030, em comparação com sua linha de base de 2016 – ou seja, quase a mesma quantidade de poluição anual gerada por 2,6 milhões de carros a gasolina.

A Ikea não usa mais a expressão climate positive (positiva para o clima), em parte porque não existe uma definição padrão aceita para esse termo. A nova meta está alinhada com a orientação net-zero da iniciativa Science Based Targets, organização que ajuda as empresas a estabelecer metas de emissões.

A Ikea sabia que precisava agir mais rapidamente para enfrentar a mudança climática. “Só se passaram seis anos, mas, nesse período, o mundo mudou significativamente e vemos que já estamos perigosamente próximos da marca de 1,5ºC. Isso foi o suficiente para que nos convencêssemos a fazer essa mudança”, diz Sriram Rajagopal, diretor de clima e poluição do ar do Inter Ikea Group.

O plano consiste em encontrar novas maneiras de inovar em toda a cadeia de valor, onde até mesmo pequenas mudanças podem fazer a diferença. Para cada um dos produtos da empresa, os designers estão procurando opções de materiais com baixo teor de carbono.

Crédito: Ikea

Uma nova linha de pratos é feita de resíduos de cerâmica de chão de fábrica – algo que o setor nunca havia reciclado antes. Um novo travesseiro é feito de resíduos têxteis. Os produtos feitos de alumínio agora usam uma porcentagem maior de material reciclado. Para alguns produtos, a empresa está ajustando os designs para possibilitar o uso de menos material.

Os designers também estão trabalhando para fazer com que os produtos durem mais. A Ikea continua a incentivar mais reutilização de seus produtos, inclusive por meio de um mercado on-line de segunda mão.

Para ajudar a reduzir as emissões durante o uso, a empresa está tornando os produtos mais eficientes, como suas lâmpadas de LED, que consomem cerca de um terço a menos de energia do que a versão anterior.

Crédito: Ikea

Nas fábricas, a Ikea está ajudando seus fornecedores a fazer a transição para a energia renovável mais rapidamente. Um novo centro de distribuição na China tem quase cinco mil painéis solares no telhado e no estacionamento, estações de carregamento de veículos elétricos para os funcionários e para caminhões elétricos.

Reduzir as emissões pela metade até o final da década é totalmente viável, diz Christina Niemelä Ström, chefe global de sustentabilidade da Ikea Supply e responsável pelas atribuições estratégicas de sustentabilidade do Inter Ikea Group.

“Foi muito importante para nós, antes mesmo de colocarmos essa meta em prática, que estivéssemos confiantes de que conseguiríamos alcançá-la”, diz ela.

Crédito: Ikea

Ao reduzir as emissões, a empresa planeja, em separado, começar a medir os benefícios de carbono de um melhor gerenciamento florestal e da agricultura em sua cadeia de suprimentos, embora os métodos de medição ainda estejam em estágio inicial.

O Protocolo de Gases de Efeito Estufa, um padrão global para medir emissões, lançará novas orientações em 2025. À medida que a Ikea se aproxima da meta de reduzir as emissões em 90% até meados do século, ela espera que a remoção de carbono proveniente da natureza compensa os 10% que faltam.

A Ikea está tentando ter um impacto além de sua própria cadeia de suprimentos. Quando trabalha com fornecedores para ajudá-los a migrar para a energia renovável, por exemplo, pede que eles façam isso em toda a sua produção, não apenas nos produtos feitos para a Ikea. A Ikea também quer incentivar outras marcas a seguirem na mesma direção.

“Algumas dessas medidas podem ser bastante rápidas”, diz Ström. “As soluções já estão disponíveis no mundo. Acho que o que todos precisamos fazer, inclusive a Ikea, é acelerar a aplicação e a implantação dessas ideias.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais