O que mais é preciso para desenvolver fontes renováveis de energia

A Lei de Redução da Inflação é um passo importante, mas os EUA precisam de mais regulamentações para obter o máximo de impacto

Crédito: DeepMind/ Unsplash

Daniel Cohan 5 minutos de leitura

A nova Lei de Redução da Inflação dos EUA oferece vários subsídios, por exemplo, para carros elétricos e bombas de calor, e incentivos para quase todas as formas de energia limpa. Mas investir em tecnologia é apenas um passo para resolver o problema das mudanças climáticas.

Os parques eólicos e solares não poderão ser construídos sem linhas de transmissão suficientes para fazer com que a energia chegue aos clientes. O carbono capturado e o hidrogênio limpo precisam de oleodutos. Poucos empreiteiros são treinados para instalar bombas de calor. E os consumidores pensarão duas vezes antes de comprar veículos elétricos se não houver estações de carregamento suficientes.

Em meu novo livro sobre soluções climáticas, discuto esses e outros obstáculos que impedem a transição para energia limpa. Superá-los é o próximo passo, enquanto o país descobre como cumprir as metas climáticas mais ambiciosas que o Congresso norte-americano já aprovou.

Há dois fatores decisivos para isso: a implementação de ações para reduzir as emissões no mercado interno e o corte de custos em tecnologias limpas, para que outros países também possam reduzir suas emissões.

INFRAESTRUTURA E OBSTÁCULOS

Vários estudos preveem que, até 2030, a Lei de Redução da Inflação conseguirá reduzir o nível de emissões de gases de efeito estufa dos EUA para cerca de 40% abaixo do registrado em 2005. Isso significa uma redução de aproximadamente um bilhão de toneladas por ano. Ainda assim, este número fica aquém da meta do presidente Joe Biden de reduzir pelo menos 50% das emissões até 2030.

Os subsídios da Lei de Redução da Inflação tornarão as tecnologias limpas mais baratas. No entanto, o que o país precisa para conter as emissões domésticas é de mais infraestrutura e regulamentações ambientais mais rígidas.

Em termos de infraestrutura, os créditos fiscais para carros elétricos não servirão de nada sem postos de carregamento suficientes. Os EUA têm cerca de 145 mil postos de gasolina, mas apenas 6,5 mil postos de carregamento rápido.

Os EUA têm cerca de 50 mil estações públicas de recarga, que ficam mais difíceis de encontrar à medida que se viaja mais para o interior do país

Projetos eólicos, solares e de baterias capazes de produzir mais de 1,3 mil gigawatts já estão prontos para serem construídos, mas, há anos, sofrem com a falta de conexão às redes de energia e aguardam aprovação dos operadores regionais. Além disso, ainda há vários obstáculos regulatórios para a construção de infraestrutura de energia limpa.

Líderes democratas do Senado e da Câmara prometeram aprovar uma legislação para facilitar a obtenção de licenças para linhas de transmissão de energia e oleodutos, mas isso exigiria apoio do Partido Republicano, o que ainda permanece incerto.

Os governos estaduais e locais e os operadores de redes regionais também desempenham papéis fundamentais na aprovação de novas infraestruturas e projetos de energia limpa. Mas precisam convencer os que são contra as linhas de transmissão, tubulações e instalações que serão necessárias para energia limpa. É necessário ainda simplificar os processos de aprovação para painéis solares em telhados.

ESFORÇOS REGULATÓRIOS

Também precisaremos de regulamentos para complementar a Lei de Redução da Inflação. Ao reduzir os limites de emissão de gases de efeito estufa e outros poluentes através da Lei do Ar Limpo, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA pode estimular o fechamento de antigas usinas de energia movidas a combustíveis fósseis, exigir a captura de carbono em novas e reduzir as emissões em uma série de indústrias.

Presidente Joe Biden assina a Lei de Redução da Inflação (Crédito: Drew Angerer/ Getty)

Limites de emissões mais estritos podem forçar veículos a gasolina e diesel a se tornarem mais eficientes e acelerar a adoção de carros elétricos. Regras mais rígidas de relatórios e melhor monitoramento de vazamentos serão necessários para aplicar os impostos sobre emissões de metano da Lei de Redução da Inflação.

Os estados também têm bastante poder regulatório. Dez já estabeleceram padrões de energia 100% limpa ou renovável. Califórnia e Oregon criaram requisitos para combustíveis mais limpos.

Outros como Nova York e Washington estão implementando estratégias climáticas abrangentes. Quanto mais estados seguirem o exemplo, mais rapidamente as emissões poderão ser reduzidas. Os novos subsídios federais facilitarão este processo.

FINANCIAMENTO DE PESQUISA E IMPACTO GLOBAL

Todos os novos gastos têm o potencial de reduzir drasticamente as emissões no mercado interno norte-americano, mas terão pouco impacto no exterior sem ações adicionais.

Outros países só adotarão tecnologias limpas se forem acessíveis. Mas os subsídios da Lei de Redução da Inflação estão disponíveis apenas para cidadãos e empresas dos EUA. Isso pode fazer com que fornecedores de energia solar aumentem sua participação de mercado no país, porém deverá haver pouco impacto na redução de preço em mercados internos dominados por fabricantes asiáticos de baixo custo.

ainda há vários obstáculos regulatórios para a construção de infraestrutura de energia limpa.

Nas próximas décadas, outras iniciativas de financiamento de tecnologias podem impulsionar progressos no exterior. A Lei de Redução da Inflação, por exemplo, fornece bilhões de dólares para tecnologias limpas de hidrogênio e captura de carbono que ainda não são comercialmente viáveis, mas podem se tornar através de ampla adoção.

O CHIPS and Science Act, assinado por Joe Biden no início de agosto, autoriza US$ 67 bilhões em financiamento para indústrias de carbono zero e pesquisas climáticas. Além disso, dobra o orçamento do programa ARPA-E do Departamento de Energia, que financia pesquisas sobre as tecnologias mais avançadas.

Isso será bastante importante sobretudo para tornar o hidrogênio limpo barato, para viabilizar a energia geotérmica em mais lugares e para desenvolver novas formas de armazenamento de energia. Junto com os subsídios, poderá impulsionar a pesquisa, o desenvolvimento e a implementação necessária para tornar essas tecnologias acessíveis em todo o mundo nas próximas décadas.

Após anos de impasses, há motivos para comemorar a aprovação de três projetos de lei que farão mais para reduzir as emissões dos EUA do que qualquer legislação na história. Mas será necessário muito mais para alcançar as metas climáticas do país e tornar a energia limpa mais acessível.


SOBRE O AUTOR

Daniel Cohan é professor associado de engenharia civil e ambiental na Rice University. saiba mais