O que pede a 7ª Carta da Presidência da COP30: prontidão, coragem e legado

Precisamos de uma nova lógica empresarial, capaz de assumir riscos, enfrentar contradições e transformar cada decisão de negócio em um passo rumo à regeneração

Crédito: Eoneren/ Getty Images

Ligia Camargo 4 minutos de leitura

A 7ª Carta da Presidência da COP30, assinada pelo embaixador André Corrêa do Lago, chega como um convite e também como um teste de coragem. O setor privado é chamado a assumir seu papel não apenas como apoiador da agenda climática, mas como protagonista da transformação que já se anuncia como irreversível.

A transição para uma economia de baixo carbono não é uma opção futura; ela já está em curso, redesenhando empregos, investimentos e competitividade. O que se espera agora é que as empresas não hesitem, mas compreendam que seu protagonismo será medido não em discursos, e sim por entregas.

O desafio, contudo, é ir além da retórica da colaboração. Se o multilateralismo se fortalece nas plenárias e o Acordo de Paris ganha vida nos textos oficiais, é na prática dos negócios e no cotidiano das comunidades que a ação climática se torna credível. A Amazônia, palco da COP30, não pode ser tratada como símbolo apenas, mas como laboratório real da urgência e da esperança.

Estar em Belém será importante, mas permanecer será ainda mais decisivo. O legado não será escrito em novembro de 2025, mas nos anos que seguirão, quando veremos quem de fato transformou compromissos em sistemas duradouros de inovação e regeneração.

É nesse ponto que a provocação deve ser feita. Será que as empresas brasileiras estão preparadas para aceitar que competitividade e sustentabilidade não são mais agendas paralelas, mas a mesma equação? Será que temos coragem de admitir que os modelos de crescimento que nos trouxeram até aqui já não nos levarão adiante?

A 7ª Carta nos lembra que a hora de agir é agora. Eu acrescentaria: a hora de ousar é agora. O setor privado que se limitar a responder demandas externas corre o risco de ficar obsoleto; aqueles que assumirem a dianteira, redesenhando suas cadeias e colocando impacto positivo no centro, serão os que prosperarão.

SETOR PRIVADO COMO COAUTOR DE SOLUÇÕES

A COP30 pode ser um divisor de águas justamente porque acontece no Brasil, em um território onde a urgência climática e a oportunidade de inovação se encontram com intensidade única. Mas para que isso aconteça, é preciso mais do que presença institucional.

Precisamos de uma nova lógica empresarial, capaz de assumir riscos, enfrentar contradições e transformar cada decisão de negócio em um passo rumo à regeneração. A credibilidade será conquistada não pela eloquência das promessas, mas pela consistência das práticas.

Nesse sentido, exemplos concretos já existem. A Heineken Spin tem mostrado que é possível pensar em rede, colaborando com comunidades, parceiros e governos para criar soluções que unem regeneração ambiental, inovação tecnológica e impacto social.

Essa atuação não se coloca como resposta isolada, mas como parte de um movimento coletivo que já dialoga com a lógica defendida na 7ª Carta: transformar o setor privado em coautor de soluções e não apenas em patrocinador de intenções.

Se queremos que o Brasil deixe um legado após a COP30, é justamente nesse tipo de engajamento sistêmico que devemos nos inspirar.

Essa é a provocação que levo a Belém. A COP30 será um marco diplomático e político, mas também precisa ser um ponto de inflexão na forma como avaliamos a participação empresarial.

QUE LEGADO DEIXAREMOS APÓS A COP30?

A Amazônia e o Brasil, exigem que empresas não apenas tragam suas soluções, mas que também estejam dispostas a escutar, aprender e permanecer. Porque o verdadeiro impacto não será medido nos dias de plenária, mas na capacidade de transformar comunidades, economias e ecossistemas nos anos que virão.

Ao setor privado cabe a coragem de reconhecer que liderança climática não se resume a relatórios de sustentabilidade, mas à disposição de rever modelos de crescimento e colocar impacto positivo no centro das decisões estratégicas.

A credibilidade será conquistada não pela eloquência das promessas, mas pela consistência das práticas.

É por isso que respondemos à 7ª Carta com convicção e ousadia. Não como coadjuvantes, mas como arquitetos de um futuro em que competitividade se mede também pela capacidade de regenerar, inovar e deixar benefícios duradouros para as pessoas e para o planeta.

O legado que será lembrado não é o da presença em Belém, mas o da capacidade de transformar o país em referência mundial de inovação climática, competitividade sustentável e coragem empresarial.

Esse é o espírito que precisamos levar à COP30 e, sobretudo, trazer de volta dela: um compromisso que não termina em 2025, mas que se desdobra como prática cotidiana de um novo Brasil a partir de 2026.


SOBRE A AUTORA

Ligia Camargo é diretora de Sustentabilidade do Grupo Heineken. saiba mais