O que são nanoplásticos e porque ameaçam a saúde e o meio ambiente

Recentes avanços tecnológicos possibilitaram a detecção e análise dos nanoplásticos e com isso a preocupação em torno deles está aumentando

Crédito: Fast Company Brasil

Mohan Qin 4 minutos de leitura

Notícias sobre microplásticos sendo detectados em diversos lugares – no oceano, em terras agrícolas e até mesmo no nosso corpo – estão cada vez mais comuns. Mas agora, um novo termo está chamando a atenção: nanoplásticos.

Eles são um tipo de microplástico caracterizado por seu tamanho extremamente reduzido. Enquanto os microplásticos geralmente têm menos de cinco milímetros de diâmetro, os nanoplásticos têm entre um e mil nanômetros. Para efeito de comparação, um fio de cabelo humano tem cerca de 80 mil a 100 mil nanômetros de largura.

O aumento da preocupação com essas nanopartículas se deve aos recentes avanços tecnológicos que permitiram que os pesquisadores as detectem e analisem com mais eficiência. 

Devido ao seu tamanho, elas são facilmente transportadas por longas distâncias e por uma variedade maior de ambientes do que os microplásticos. Além disso, podem penetrar com mais facilidade em células e tecidos de organismos vivos, o que poderia resultar em efeitos toxicológicos diferentes e mais agudos.

Estudos realizados nos últimos dois anos encontraram nanoplásticos no sangue humano, em células do fígado e pulmões e em tecidos reprodutivos, como a placenta. 

Em todo o mundo, eles foram detectados no ar, na água do mar, na neve e no solo. E agora há evidências de que são mais comuns do que os microplásticos maiores no ambiente.

DE ONDE VÊM E PARA ONDE VÃO

Os nanoplásticos são formados quando produtos do dia a dia, como roupas, embalagens, móveis, sacolas, brinquedos e produtos de higiene pessoal, se degradam. Este processo pode ocorrer devido a fatores ambientais, como a exposição à luz solar, ou pelo desgaste mecânico.

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Assim como as partículas de plástico maiores, eles podem ser compostos por vários tipos de polímeros, incluindo polietileno, polipropileno, poliestireno e policloreto de vinila. Como produtos plásticos são amplamente utilizados, é difícil evitar a exposição a essas nanopartículas.

Quando atingem a escala nanométrica, eles apresentam questões e desafios únicos devido ao seu tamanho e às diferentes propriedades e composições das superfícies. Podem penetrar facilmente em células e tecidos que partículas maiores não conseguem. Quando se acumulam em organismos vivos, podem potencialmente causar efeitos biológicos adversos.

O destino dos nanoplásticos no ambiente ainda é um tema de pesquisa. Os cientistas ainda não sabem se eles se degradam ainda mais em partículas menores, ou em polímeros, que são sua estrutura básica.

DETECÇÃO DE NANOPLÁSTICOS

Detectá-los é uma tarefa desafiadora devido ao seu tamanho e às diversas composições e estruturas químicas. Os pesquisadores estão desenvolvendo diferentes abordagens para detectar nanonplásticos, utilizando técnicas como espectroscopia Raman, cromatografia e espectrometria de massa. Estes métodos permitem identificar as formas e analisar as propriedades das partículas.

Em um estudo recente, pesquisadores da Universidade de Columbia, em Nova York, utilizaram uma nova tecnologia capaz de detectar e contar nanopartículas de plástico, com alto nível de sensibilidade e especificidade, em água engarrafada.

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Ao contrário de estudos anteriores, que só conseguiam detectar uma quantidade limitada, este estudo descobriu que cada litro de água engarrafada analisado continha mais de 100 mil partículas de plástico, a maioria das quais eram nanoplásticos.

Mais estudos precisam ser realizados até que os cientistas possam concluir se todas contêm essas nanopartículas. Mas esta nova técnica abre caminho para mais pesquisas.

PARTÍCULAS DE NANOPLÁSTICO SÃO TÓXICAS?

A toxicidade dos nanopláticos é outro campo de pesquisa importante. Alguns estudos sugerem que eles podem representar riscos significativos para os ecossistemas e para a saúde humana. Além disso, um estudo indica que podem ser um fator de risco para doenças cardíacas.

Os cientistas ainda não sabem se os nanoplásticos se degradam em partículas ainda menores.

Outra preocupação é que poluentes químicos, metais pesados e patógenos possam aderir a eles e se concentrar no ambiente. Este processo poderia expor organismos vivos a altas concentrações dessas substâncias nocivas.

É sabido que detritos plásticos maiores podem se fragmentar em nanoplásticos, mas ainda há muito a aprender sobre como os fragmentos se degradam ainda mais.

Pesquisadores estão trabalhando para detectar e entender como essas nanopartículas se comportam em diversos ambientes, para que possam desenvolver estratégias eficazes para gerenciar e mitigar seus efeitos nas pessoas e no planeta.

Este texto foi reproduzido do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE A AUTORA

Mohan Qin é professora assistente de engenharia civil e ambiental na Universidade de Wisconsin. saiba mais