O termo “tecnologia climática” virou clichê. Sem foco, não há futuro sustentável

O rótulo que ajudou a colocar a crise climática na agenda agora atrapalha o progresso. Precisamos de categorias específicas, métricas claras e inovação focada

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Matt Rogers 5 minutos de leitura

Nos últimos tempos, o termo "tecnologia climática" deixou de ser uma categoria que definia empresas de energia limpa e passou a ser uma expressão guarda-chuva que, quanto mais é usada, mais perde o sentido.

A mudança climática é o desafio e a oportunidade mais vasto e complexo que nossa civilização enfrenta hoje. Isso também significa que não podemos nos dar ao luxo da ambiguidade. Precisamos de responsabilidade. Precisamos de progresso.

Precisamos promover a reengenharia de infraestruturas com tecnologias avançadas que protejam o futuro ao mesmo tempo em que resolvem problemas urgentes e complexos. Agora.

Isso quer dizer que precisamos de precisão. Também temos que reconhecer que as infraestruturas e os mercados que nos serviram por tanto tempo estão falhando e precisam ser reconstruídos para antecipar e atender aos desafios futuros.

O mundo necessita, com urgência, de soluções que façam avançar áreas muito especializadas, com métricas e desafios próprios, como armazenamento de energia, baterias, segurança alimentar e desenvolvimento de combustíveis sustentáveis. E precisamos de profissionais preparados para enfrentar esses problemas específicos.

A AMBIGUIDADE É INIMIGA DO PROGRESSO

O progresso exige clareza. Tecnologia de energia é uma coisa; tecnologia de resíduos outra coisa. Tecnologias de transporte, armazenamento de energia, agricultura e sustentabilidade alimentar, remoção de carbono, são categorias específicas com desafios definíveis e resultados mensuráveis. Cada uma está firmemente ligada à infraestrutura e requer engenharia dedicada, especialização e diferentes fontes de capital.

Por exemplo, armazenamento em grade não é um “problema de tecnologia climática”, é um desafio energético específico com métricas concretas: custo por quilowatt-hora, capacidade de armazenamento, duração e eficiência. Armazenamento em grade trata de otimizar oferta e demanda, com objetivos financeiros, políticos e de engenharia – não é uma questão moral.

Chegou a hora de a tecnologia climática passar por uma rigorosa redefinição.

Devemos conectar a promessa e o hype de soluções de software movidas a IA às suas aplicações no mundo real. Por quê? Porque resolver esses problemas específicos exige mais do que processamento de dados.

Realizar a promessa da IA de transformação e aprimoramento só é possível se ela entrar no mundo físico e mudar a mecânica das formas de trabalho. Chamar as soluções para esses problemas de tecnologia climática é um desserviço, porque o rótulo já não captura a escala e o alcance do que é necessário.

O QUE É TECNOLOGIA CLIMÁTICA DE VERDADE

Em vez de nos apoiar em palavras bonitas que oferecem pouco mais que promessas, precisamos construir e investir em tecnologias que sejam melhores, mais rápidas e mais baratas do que as anteriores e que resolvam problemas reais.

A biotecnologia é um bom exemplo. Em vez de agrupar tudo sob um termo amplo como health tech, os pioneiros do setor criaram categorias claramente definidas, como imunoterapia, CRISPR, desenvolvimento de vacinas de mRNA, oncologia, longevidade, e assim por diante.

Cada área abordou um conjunto específico de problemas e atraiu talento e capital para resolvê-los. O resultado? Avanços.

Crédito: Thomas Vogel/ iStock

O software também se especializou nos últimos anos, o que ajudou a acelerar o progresso. A tecnologia da informação deu lugar a disciplinas técnicas específicas, como cibersegurança, computação em nuvem e ferramentas empresariais.

O foco por categoria permitiu que empresas ganhassem participação de mercado e se diferenciassem com experiência do cliente e responsabilidade no centro de suas operações.

Chegou a hora de a tecnologia climática passar pelo mesmo nível de redefinição rigorosa. E não é apenas porque estamos nos aproximando de “pontos de inflexão” críticos (o que de fato estamos). É porque o custo econômico por não agir é grande demais.

a utilidade do termo tecnologia climática está se esgotando.

Tudo precisa ser construído para o futuro com precisão de engenharia e com um problema específico em mente. Precisamos de soluções de infraestrutura e hardware para problemas específicos, como reciclagem de plástico para uso industrial, tornar o cimento neutro em carbono, eletrificar o transporte de carga, repensar a produção de proteína e remover carbono em escala.

Não podemos expandir a economia do futuro sem encarar toda tecnologia sob a perspectiva das necessidades climáticas concretas.

Por exemplo, a firma de investimentos que eu cofundei, a Incite, investiu na Monarch, uma startup com uma frota de veículos elétricos movidos a IA e soluções tecnológicas para clientes agrícolas que vão de fazendas de leite a municípios e vinícolas.

A Monarch lançou recentemente a MonarchOne, uma plataforma física de IA ponta a ponta para fabricantes de equipamentos gerenciarem o trabalho de forma mais eficiente e usarem dados para direcionar operações em diferentes ambientes. A Monarch não é uma empresa de tecnologia climática. É uma companhia de IA e robótica com benefícios ambientais claros.

UM PASSO ADIANTE

Tecnologia climática é um termo que cumpriu sua função como um grito inicial de mobilização. Colocou uma crise urgente no radar dos mercados de capitais, das salas de conselho e das agendas de políticas públicas. Tornou inevitável a inovação voltada para cuidar do planeta.

No entanto, agrupar um produto ou tecnologia nessa categoria tão ampla abre espaço para mais greenwashing e ambiguidade, quando o que precisamos é progresso, foco e responsabilidade. Devemos desmontar o termo guarda-chuva em áreas específicas centradas em infraestrutura que exigem trabalho urgente.

A tecnologia é crucial para reduzir impactos ambientais negativos. Mas a utilidade do termo tecnologia climática está se esgotando. Vamos aproveitar a oportunidade para construir e investir na infraestrutura física, no software, nos aplicativos e nas tecnologias que vão impulsionar oportunidades econômicas e melhorar a vida das pessoas pelo mundo afora.


SOBRE O AUTOR

Matt Rogers é cofundador da Nest e cofundador e CEO da Mill. saiba mais