O único jeito de reduzir a poluição por plástico: produzir menos plástico

Dos potenciais mecanismos para combater a poluição plástica, um limite na produção mundial é o mais debatido, mas não há consenso

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Costas Velis 4 minutos de leitura

Um acordo internacional para acabar com a poluição plástica deverá ser selado este ano em Busan, na Coreia do Sul. Durante a penúltima rodada de negociações, realizada em Ottawa, no Canadá, Ruanda e Peru propuseram uma meta de redução de 40% no peso dos plásticos primários produzidos em todo o mundo até 2040, em comparação com 2025.

Esta é a primeira vez que um limite na produção é considerado nas negociações da ONU com o objetivo de desenvolver um instrumento juridicamente vinculativo para acabar com a poluição plástica. Dos potenciais mecanismos, este tem sido o mais debatido, porém, não foi incluído no texto preliminar do tratado – pelo menos até agora.

Todos os esforços para modelar cientificamente a extensão da poluição plástica no futuro pressupõem que será necessário restringir a quantidade de plástico produzido anualmente no mundo (entre outras medidas) para conter sua presença prejudicial no meio ambiente.

Um estudo realizado em 2020 constatou que a produção primária de plástico – a criação de novos polímeros sintéticos, em grande parte a partir de combustíveis fósseis – precisaria ser reduzida em 47% até 2040, em comparação com 2016. Este cenário envolveria uma redução considerável na produção e a substituição do plástico por papel e materiais compostáveis.

Mesmo cortando a produção pela metade e adotando todas as outras estratégias, ainda restaria uma poluição residual em 2040. Quase 50 milhões de toneladas ainda continuariam indo parar nos oceanos e rios a cada ano ou se acumulando em terra, onde poderiam ser queimadas e gerar ainda mais poluição.

Em um relatório de 2022, a OCDE estimou que reduzir a demanda em 33% em relação a 2019 (e aumentar a taxa de reciclagem, ao mesmo tempo em que se previne o vazamento de plástico do processo de gestão de resíduos) eliminaria quase totalmente os resíduos plásticos mal geridos até 2060 – ou seja, aqueles que acabam poluindo o meio ambiente.

Uma combinação de medidas como estas é considerada a solução mais eficaz para a redução da poluição. Porém, o modelo da OCDE prevê que mais de 50 milhões de toneladas continuarão sendo mal geridas anualmente em 2040. Para acabar com o acúmulo e a queima de plásticos no meio ambiente, teríamos que esperar mais duas décadas.

substituir o plástico por papel e papelão não melhoraria a situação se estas embalagens continuarem a ser queimadas a céu aberto.

Uma simulação realizada em 2023 estabeleceu uma meta ainda mais ambiciosa para eliminar a poluição plástica até 2040. Nela, limitar a produção é um elemento essencial, junto com outras 15 medidas políticas globais que poderiam reduzir o volume de resíduos plásticos mal geridos em 90% e o uso de plástico virgem em 30% ao ano até 2040, em comparação com 2019. Isso representaria uma redução de 60% em relação aos níveis de 2040 sem restrições à produção.

A meta de redução de 40% proposta em Ottawa está de acordo com o que esses modelos sugerem ser necessário para reduzir a poluição plástica nas próximas décadas. No entanto, não se sabe se isso seria plausível. Com a produção aumentando, ainda não está claro que tipo de política seria capaz de reduzi-la em apenas 15 anos – e quais seriam os efeitos colaterais disso.

O QUE SERÁ NECESSÁRIO?

Reduzir a produção de plástico exigiria mudanças significativas nas nossas vidas, para as quais há poucos precedentes. Isso poderia envolver grandes mudanças na forma como nos comportamos como consumidores e como os produtos são projetados e entregues.

Entre 1,7 bilhão e 2,5 bilhões de pessoas no mundo todo ainda não dispõem de coleta de lixo.

Um corte de 40% na produção implicaria uma redução na quantidade de embalagens e plásticos de uso único fabricados em todo o mundo. Esses produtos representam cerca de metade de toda a produção e vão para o lixo rapidamente.

Cada ano sem a imposição de um limite aumenta o tamanho do corte que terá que ser feito no futuro e a necessidade de adotar outras medidas para resolver o problema.

O QUE DIZEM OS MODELOS

A combinação de políticas e inovação técnica necessária para eliminar a poluição plástica é altamente debatida. Mas cortes drásticos na produção estão presentes em todos os cenários.

Supõe-se que um ritmo de mudança menos dinâmico seja necessário para medidas “a jusante” – aquelas associadas ao momento em que o plástico se torna resíduo, como durante o descarte e a reciclagem. Algumas das ênfases em limites de produção nos modelos derivam do fracasso dos serviços de gestão de resíduos em impedir que o plástico acabe no meio ambiente.

Crédito: Pixabay

Dado que entre 1,7 bilhão e 2,5 bilhões de pessoas ainda não dispõem de coleta de lixo, alguma forma de redução na quantidade de plástico novo produzido a cada ano pode parecer atraente – e consistente com a ideia de economia circular e da hierarquia de resíduos, que prioriza a prevenção.

Mas substituir o plástico por papel e papelão não melhoraria a situação se estas embalagens ainda continuassem a ser queimadas a céu aberto.

Independentemente do grau, caminho e ritmo dos cortes, é necessária uma mudança fundamental na nossa relação com o plástico. Como meta, 2040 parece próximo demais para uma produção significativamente menor, mas isso não pode nos impedir de agir.

Este texto foi reproduzido do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Costas Velis é professor da área de eficiência de recursos na Universidade de Leeds. saiba mais