Óleo de palma incentiva o desmatamento – com a ajuda da sua marca favorita
Produto é utilizado em tudo, desde sorvetes até detergentes, e sua produção está vinculada à desmatamento generalizado
A probabilidade de você usar produtos com óleo de palma é bastante alta: o ingrediente está presente em metade de todos os produtos nas prateleiras dos supermercados, desde sorvetes e batons até xampus e detergentes.
A cada ano, o mundo produz cerca de 70 milhões de toneladas de óleo de palma, vindas principalmente da Indonésia e da Malásia, onde a produção tem impulsionado o desmatamento.
Um novo mapa chamado PalmWatch, da organização sem fins lucrativos Inclusive Development International, torna o desmatamento visível e o relaciona às marcas que utilizam esse óleo de palma em seus produtos.
O mapa foi desenvolvido em parceria com o Instituto de Ciência de Dados da Universidade de Chicago e mostra o desmatamento em uma escala que vai do amarelo claro – indicando uma pequena perda de cobertura de mata – ao vermelho profundo, à medida que essa perda aumenta.
Indonésia e Malásia estão cobertas por pontos laranja e vermelho escuro (assim como algumas áreas na África e na América do Sul ao longo do Equador).
Clicando em uma dessas áreas sombreadas, são exibidos detalhes sobre os moinhos que produzem óleo de palma, uma pontuação de desmatamento para esse moinho (calculada a partir de dados históricos de perda de cobertura florestal) e uma lista das marcas de consumo que compram insumos desse moinho. Os usuários podem ver dados por marca.
Em uma área vermelha escura do mapa perto de Brunei, por exemplo, o moinho Biogrow City Plantations está vinculado a Johnson & Johnson, L'Oréal, PepsiCo, Procter & Gamble, entre outros. O gráfico mostra o fornecimento de marcas de 2017 a 2021. As informações provêm de divulgações públicas das próprias marcas de consumo.
Os dados sobre quais marcas usam quais moinhos são claros. Já aqueles sobre o desmatamento vinculado a cada moinho são um pouco menos claros. O PalmWatch estima uma área de floresta a que cada um pode ter acesso e de onde provavelmente colhem os frutos de palma.
A estimativa começa olhando para um raio de 50 quilômetros ao redor de um moinho – segundo pesquisadores, uma distância padrão para o transporte de produtos agrícolas (como frutos de palma) até um local de processamento.
Em seguida, os pesquisadores criam uma forma ao redor de cada moinho dentro dessa distância, com base na rede viária e nas plantações estimadas nas proximidades.
Usando dados de perda de cobertura florestal de 2000 a 2022, os pesquisadores analisaram o desmatamento específico dentro dessas regiões. Um ícone de camada no mapa permite que os usuários percorram os anos de desmatamento.
No geral, a quantidade de desmatamento causada pelo óleo de palma diminuiu em relação aos picos registrados. Um estudo de 2019 apontou que o desmatamento por óleo de palma na Indonésia atingiu o auge em 2009, quando o produto foi responsável por quase 40% da perda de cobertura florestal do país.
Em 2016, esse índice caiu para menos de 15%. É que a devastação ambiental causada pela produção do óleo de palma incentivou investimentos em alternativas, desde versões de fermentação de precisão até ingredientes livres de palma que imitam as propriedades do óleo.
No entanto, o desmatamento causado por essa atividade na Indonésia voltou a crescer e, emm 2023, aumentou pelo segundo ano consecutivo. Cerca de 74,1 mil acres de floresta foram desmatados no ano passado para dar lugar a plantações de óleo de palma, contra 54,4 mil acres em 2022.
Segundo os pesquisadores que criaram o mapa, ele também destaca a hipocrisia de compromissos com o meio ambiente ou altas classificações de investimento ESG por marcas que ainda contribuem para o desmatamento causado por seus fornecedores.