Ondas do mar já contêm mais “químicos eternos” do que a poluição industrial

A maresia espalha os PFAS no ar e na terra, criando um ciclo vicioso de substâncias químicas eternas que nunca desaparecem

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Kristin Toussaint 3 minutos de leitura

Os PFAS, popularmente conhecidos como “químicos eternos” ou “químicos permanentes” estão onipresentes no meio ambiente. Só nos EUA, há mais de 57 mil locais contaminados com esses produtos. Eles estão presentes na água potável, no solo, nos produtos e no mar.

E, de acordo com uma nova pesquisa, quando as ondas quebram nas praias de todo o mundo, elas pulverizam centenas de milhares de partículas de PFAS no ar, criando um ciclo no qual esses produtos químicos vão da terra para o mar e vice-versa.

Os PFAS (substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas) são uma classe de produtos químicos sintéticos amplamente utilizada para tornar os produtos resistentes a manchas, graxa e água.

Eles foram apelidados de "químicos eternos" porque não se decompõem facilmente e, portanto, permanecem no ambientes por milhares de anos. E estão associados a efeitos prejudiciais à saúde, incluindo câncer, diminuição da fertilidade, atrasos no desenvolvimento e muito mais.

Quando os produtos químicos eternos contaminam a terra, chegam aos lençóis freáticos e, depois, ao oceano. Os cientistas costumavam pensar que, uma vez lá, as partículas afundariam e se diluiriam nas profundezas das águas. Mas pesquisadores descobriram que não é bem assim.

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Um estudo recente da Universidade de Estocolmo, publicado na "Science Advances", detalha um efeito bumerangue no qual o vapor do mar espalha para sempre os produtos químicos no ar e na terra.

"É um ciclo preocupante da terra para o mar e de volta à terra", explica Ian Cousins, principal autor do estudo e professor de ciências ambientais da Universidade de Estocolmo. "Os PFAS são emitidos na terra e depois levados para o mar. Eles voltam à terra por meio de aerossóis de pulverização marítima, e assim o ciclo continua. Essa descoberta traz toda uma nova dimensão ao termo 'produtos químicos eternos'."

Isso acontece porque as bolhas de ar coletam os PFAS quando eles sobem na água do mar. Quando as ondas batem contra a superfície, a bruma marinha faz com que essas bolhas de ar se rompam, liberando todos os produtos químicos eternos nelas contidos, que têm alta concentração de partículas de PFAS.

RISCO MAIOR EM ÁREAS LITORÂNEAS

A quantidade de PFAS pulverizada no ar foi, em alguns casos, mais de 100 mil vezes maior do que a encontrada em uma amostra de água do mar. A concentração é tão alta que as ondas chegam a emitir mais PFAS no ar do que a poluição industrial. 

Para o estudo, os pesquisadores navegaram de Southampton, no Reino Unido, até Puntas Arenas, no Chile, medindo a concentração de PFAS na maresia ao longo do caminho.

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"Já havíamos realizado experimentos de laboratório que mostraram que os PFAS eram altamente enriquecidos em aerossóis na bruma marinha, portanto não ficamos totalmente surpresos [com as descobertas]", conta Cousins. "Mas ficamos surpresos com o fato de que a quantidade de PFAS nos aerossóis marinhos coletados em campo era ainda maior do que no laboratório."

As descobertas mostram que tanto as pessoas quanto os ecossistemas ao longo das áreas costeiras correm um risco maior de exposição ao PFAS e aos efeitos à saúde decorrentes disso.

A quantidade de PFAS no ar foi mais de 100 mil vezes maior do que a encontrada em amostras de água do mar.

Cientistas dinamarqueses já encontraram algumas evidências de que o mar é a principal fonte de PFAS ao longo da costa de seu país. Os pesquisadores de Estocolmo dizem que isso se alinha com suas descobertas e mostra que as comunidades litorâneas de todo o mundo podem sofrer o impacto da exposição ao PFAS.

Várias empresas estão trabalhando em formas de eliminar os PFAS na água potável e evitar a disseminação da contaminação do solo. Mas, quando se trata de retirar esses produtos químicos eternos do oceano, "isso é basicamente impossível", ressalta Cousins. "Eles estão tão espalhados no mar que custaria muito para filtrá-los."

Os pesquisadores esperam que seu trabalho ajude os órgãos reguladores a perceber que "usar esses produtos químicos extremamente persistentes é uma péssima ideia. Precisamos encontrar alternativas para os muitos usos dos PFAS".


SOBRE A AUTORA

Kristin Toussaint é editora assistente da editoria de Impacto da Fast Company. saiba mais