Para entender como funcionam as cidades, a Toyota construiu uma – do zero
Woven City é onde a Toyota está testando novas tecnologias e ideias para o futuro do ambiente urbano

Ao sul do Monte Fuji, em um terreno de mais de 700 mil metros quadrados onde antes funcionava a fábrica Higashi-Fuji da Toyota, está em curso uma das mais ambiciosas experiências urbanas do mundo.
Lançada em 2024, a primeira fase da Woven City foi concluída no ano passado e já abriga 360 moradores – em sua maioria funcionários da Toyota, suas famílias, pesquisadores e aposentados. A cidade deverá alcançar uma população de cerca de duas mil pessoas.
O nome Woven City (Cidade Tecida) é uma referência tanto às redes de mobilidade entrelaçadas que compõem sua estrutura quanto às origens da Toyota na indústria têxtil. O projeto combina mobilidade, infraestrutura digital e interação humana em uma proposta inédita de urbanismo experimental.
WOVEN CITY, UMA CIDADE OPERACIONAL
Ao contrário de bairros planejados ou cidades inteligentes tradicionais, Woven City foi concebida como um “sistema operacional urbano”: um laboratório vivo que aprende com dados reais e se ajusta com base no feedback de seus moradores.
Inspirada no conceito japonês de kaizen (melhoria contínua), a cidade propõe uma nova lógica de urbanismo, onde os cidadãos são cocriadores, e não apenas usuários passivos de serviços públicos.

A cidade é composta por grupos diversos – de famílias e engenheiros a aposentados e pesquisadores – garantindo uma variedade de perspectivas e experiências no desenvolvimento e aprimoramento da vida urbana.
A própria Toyota enxerga o projeto como uma evolução natural da ideia de veículos definidos por software para o conceito mais amplo de uma “cidade definida por software”.
Por meio de sensores e tecnologias de gêmeo digital (digital twin), planejadores podem simular cenários urbanos e otimizar sistemas como energia, saneamento, iluminação e gestão de resíduos antes de implementá-los fisicamente.
MOBILIDADE AUTÔNOMA E COLABORAÇÃO CORPORATIVA
A Toyota incorporou diversas empresas parceiras ao ecossistema da cidade. A Daikin, por exemplo, testa sistemas adaptativos de qualidade do ar nas residências. A UCC Japan opera cafés móveis para incentivar o convívio social.
Já DyDo e Nissin testam quiosques de nutrição que monitoram preferências alimentares em tempo real, ajustando ofertas de acordo com os hábitos dos moradores.

As construções seguem padrões sustentáveis, com uso predominante de madeira neutra em carbono e telhados equipados com painéis solares. Toda a infraestrutura crítica – como eletricidade, água e internet – foi instalada no subterrâneo, melhorando tanto a segurança quanto a estética do ambiente urbano.
As ruas foram pensadas para facilitar testes com veículos autônomos, em trajetos onde a convivência com pedestres e ciclistas ocorre de forma segura e controlada. As faixas laterais das avenidas são destinadas exclusivamente a veículos lentos e autônomos, como os e-Palette – vans elétricas e inteligentes que transportam pessoas, mercadorias e até servem como lojas móveis.

Com base em dados de fluxo de pedestres, o sistema pode indicar a instalação de cafés temporários ou pequenas praças quando há queda de movimento, tornando os espaços públicos mais dinâmicos.
A CIDADE SUBTERRÂNEA
Uma rede de túneis com cerca de 25 mil metros quadrados conecta os 14 prédios da cidade. Ali circulam veículos e robôs autônomos encarregados da entrega de mercadorias e da gestão de resíduos – um sistema eficiente e praticamente invisível.
Um dos pilares da infraestrutura sustentável é uma micro rede de hidrogênio descentralizada, alimentada por painéis solares, células de combustível fixas e cartuchos portáteis de hidrogênio.

Estes cartuchos, leves e substituíveis, fornecem energia suficiente para alimentar eletrodomésticos por várias horas. Quando moradores idosos relataram dificuldades em lidar com eles, o sistema foi redesenhado para incluir elevadores e comandos por voz.
Uma densa rede de sensores monitora variáveis como fluxo de pedestres, consumo de energia, condições ambientais e uso de espaços públicos. Esses dados alimentam um processo contínuo de simulação e reconfiguração urbana, permitindo ajustes como o redesenho de áreas verdes ou a alterações na iluminação pública para aumentar a segurança e o uso noturno.

Diferente de muitas iniciativas de “cidades inteligentes” que priorizam tecnologia pela tecnologia, Woven City se destaca por colocar os habitantes no centro do projeto. Trata-se de um modelo urbano que aprende com as pessoas e evolui com elas – uma cidade que se constrói e reconstrói todos os dias, a partir da vida que nela pulsa.