Parece couro, mas acredite: é feito com casca de camarão

Há também uma opção vegana, feita com cogumelos

Crédito: Daniel Cano/ Monica Feudi

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

Todos os anos, a indústria alimentícia gera até oito milhões de toneladas de cascas de caranguejo, lagosta e camarão, muitas das quais são despejadas de volta ao oceano ou terminam em aterros sanitários. Mas agora, uma startup de biomateriais chamada TômTex quer reaproveitar todo esse material. 

A empresa sediada no Brooklyn criou uma espécie de “couro” feito a partir de resíduos de cascas de frutos do mar – ou, mais precisamente, de um polímero extraído delas, chamado quitosana. Já os veganos, podem optar por uma versão feita de cogumelos.

Outra boa notícia é que o processo de fabricação não usa tratamentos químicos (apenas química verde) e é completamente livre de plástico, ao contrário da maioria dos couros sintéticos no mercado.

Crédito: Daniel Cano

A TômTex foi fundada em 2020 por Uyen Tran, designer vietnamita e pesquisador de materiais que buscava desenvolver um material ecologicamente correto e que usasse resíduos como fonte primária. Naquele mesmo ano, ele desenvolveu pela primeira vez esse material biodegradável.

Agora, a TômTex está lançando seu primeiro produto em colaboração com o designer de moda Peter Do. As peças, um top e uma calça, foram confeccionadas em couro TômTex, que levou uma camada de cera de abelha para ficar com o acabamento brilhante.

o processo de fabricação não usa tratamentos químicos, apenas química verde, e é completamente livre de plástico.

A empresa trabalha com organizações no Vietnã que coletam conchas de frutos do mar e escamas de peixe e depois extraem a quitosana, que a TômTex compra em pó. O pó é então misturado com água e outros aglutinantes não tóxicos (qualquer substância mais tóxica do que o sal marinho foi proibida). A mistura é despejada em um molde, desidrata durante a noite e se transforma em um tecido macio e durável.

“A beleza do nosso material é que tudo nele é personalizável”, diz o cofundador e CEO da TômTex, Atom Nguyen. De fato, os moldes permitem vários padrões que imitam couro de crocodilo ou pele de cobra.

Também pode ser tingido com pigmentos naturais, como carvão ou açafrão. A espessura pode variar dependendo de quanta mistura é despejada no molde, e o desempenho do material pode ser ajustado alterando os tipos de aglutinadores.

Devido a esse nível de personalização, Nguyen diz que cada material pode ser desenvolvido com uma variedade de clientes, de acordo com as suas especificações.

Crédito: Daniel Cano

Agora que o TômTex já se lançou na indústria da moda, Nguyen prevê uma ampla variedade de aplicações em outros bens de consumo, como capas de telefone, painéis e assentos de veículos.

Os regulamentos para esses materiais são incrivelmente rigorosos, mas o empreendedor acredita que levará de um a dois anos para regularizar a situação em parceria com uma montadora, revelando que já há conversas em andamento com uma “grande marca de carros da Alemanha”.

As roupas foram produzidas em cerca de quatro semanas. Por enquanto, o material é desenvolvido em lotes, em um laboratório, o que dificulta a produção em massa. Mas a equipe espera explorar indústrias existentes, como a de papel, e alavancar seus processos de fabricação.

Em alguns anos, é provável que você pegue a estrada sentado sobre um assento de carro de luxo feito de cascas de camarão. E, se a estética atual do material serve como uma amostra do que virá, talvez nem note a diferença.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais