Paris prioriza bicicletas, restringe carros e vê poluição do ar cair pela metade

Depois da proibição de carros em mais de 100 ruas, da eliminação de vagas de estacionamento e da adição de ciclovias, a poluição do ar está caindo fortemente

Crédito: François-Xavier Chamoulaud/ Unsplash

Adele Peters 3 minutos de leitura

Dez anos atrás, as ruas de Paris estavam sempre tomadas por carros e poluição. Mas agora, quem pedala por um dos principais bulevares durante o horário de pico, estará cercado por uma fila de outros ciclistas e por um ar bem mais limpo.​

“Andar de bicicleta aqui é uma delícia. É praticamente como se você estivesse em Copenhague”, diz Vincent Thorne, pesquisador em mobilidade sustentável na Paris School of Economics, que se mudou para a cidade há pouco mais de um ano.​

Desde que a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, assumiu o cargo em 2014, as ruas da cidade passaram por uma transformação radical, em que o uso de carros sofreu grandes mudanças. Mais de 100 ruas foram fechadas para veículos. Dezenas de milhares de vagas de estacionamento foram eliminadas. Centenas de quilômetros de ciclovias foram adicionados.

Como resultado, o tráfego de carros continua diminuindo. Um novo relatório mostra o que essas mudanças significam para a qualidade do ar local: os níveis de poluentes caíram cerca de 50% em comparação com 2005. É assim que Paris reduz a poluição.​ 

A Airparif, organização que monitora a qualidade do ar da cidade, constatou que os níveis de material particulado (PM 2.5) – pequenas partículas de fuligem, poeira ou fumaça que podem se alojar nos pulmões – caíram 55% nos últimos 20 anos. A poluição por dióxido de nitrogênio, um dos principais ingredientes da névoa tóxica, caiu 50%.​

COMO PARIS REDUZ A POLUIÇÃO DO AR

Quando Anne Hidalgo começou a lutar para acelerar a transição da cidade para o transporte sustentável, foi motivada tanto pela necessidade de reduzir as emissões climáticas quanto pela péssima qualidade do ar de Paris, que frequentemente ultrapassava os limites de saúde estabelecidos pela União Europeia.

O prefeito anterior, Bertrand Delanoë, havia introduzido a rede de compartilhamento de bicicletas, junto com uma rede de compartilhamento de carros elétricos, e fechado o tráfego na margem esquerda do Sena.

Hidalgo foi além, transformando a margem direita em uma área para pedestres e convertendo uma rodovia movimentada em um parque e caminho para pedestres. Uma nova zona de baixas emissões baniu os carros mais poluentes da região central.​

A cidade começou a se livrar das vagas de estacionamento, substituindo algumas delas por árvores e outros espaços verdes. Os limites de velocidade foram reduzidos. As ruas próximas às escolas foram fechadas, facilitando e tornando esses locais mais seguros  para os alunos caminharem.

Hidalgo adotou o conceito da cidade de 15 minutos, a ideia de que todos deveriam viver a uma curta distância de caminhada ou pedalada do seu trabalho e das suas tarefas diárias.

Para ajudar, a cidade está requalificando alguns edifícios de uso único, transformando escritórios em moradias, lojas, espaços de coworking, pré-escolas e os adaptando para outros usos sob um mesmo teto. A rede de ciclovias da cidade continua a se expandir.​

ADESÃO DA POPULAÇÃO

A maneira como as pessoas se deslocam até o trabalho mudou rapidamente. Entre 2022 e 2023, o uso das ciclovias dobrou durante o horário de pico. Em algumas ruas, as bicicletas começaram a superar os carros.​

Alguns dos ciclistas podem não ter trocado especificamente o carro, diz Thorne, o pesquisador de mobilidade. Muitos parisienses já usavam transporte público, por exemplo. Mas mesmo que algumas pessoas antes pegassem o metrô, se agora usam bicicleta, quer dizer que há mais espaço no trem. Com isso, alguns motoristas ficam mais dispostos a usar essa opção, em vez de pegar o carro.​

A qualidade do ar de Paris muitas vezes ultrapassava os limites estabelecidos pela União Europeia.

Thorne tem estudado o impacto da adição de ciclovias na poluição do ar na cidade de Nova York, onde descobriu que a infraestrutura para bicicletas ajudou algumas pessoas a substituir pequenas corridas de táxi.

A situação em Paris é provavelmente diferente, diz ele. Em muitas ruas, faixas inteiras de tráfego foram convertidas em ciclovias. A redução do espaço nas ruas para os carros está convencendo as pessoas a dirigir menos em geral. Algumas também devem estar caminhando ou usando transporte público em vez de andar de bicicleta.​

Conforme o tráfego diminui e Paris reduz a poluição, a cidade se torna um lugar melhor para se viver. ​


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais