Participação de mulheres trans e o futuro do esporte feminino

No Most Innovative Companies Summit, participantes abordaram o futuro dos esportes femininos e o papel das mulheres transgênero

Créditos: Chaos Soccer Gear/ Unsplash

AJ Hess 3 minutos de leitura

Há mais de 50 anos, foi aprovada nos Estados Unidos uma lei histórica, conhecida como Title IX. Ela proibiu a discriminação com base no sexo em programas educacionais financiados pelo governo federal. Seu efeito se deu gradualmente, trazendo a meninas e jovens mulheres oportunidades competitivas que não tinham antes. Nos últimos anos, o progresso tornou-se inegável. 

Durante o Most Innovative Companies Summit, evento promovido pela Fast Company, o o futuro dos esportes femininos foi tema de um painel do qual participaram Deja McClendon, jogadora profissional de vôlei e membro do comitê executivo de jogadores da Athletes Unlimited; Jon Patricof, cofundador e CEO da Athletes Unlimited; e Jessica Robertson, cofundadora e diretora de conteúdo da Togethxr. Eles também falaram sobre o papel das mulheres trans neste futuro.

1,2 bilhão de pessoas assistiram à Copa do Mundo Feminina da FIFA 2019, tornando esse o evento esportivo feminino mais assistido de todos os tempos.

“Houve um aumento no interesse por investir em esportes e cresceu também a compreensão do valor do conteúdo sobre esse assunto, seja nas categorias masculinas ou femininas”, disse Patricof, descrevendo uma “era de ouro” do investimento esportivo. “Hoje, há muito mais caminhos para se conectar com os fãs e menos intermediários.”

Estima-se que 1,2 bilhão de pessoas assistiram à Copa do Mundo Feminina da FIFA 2019, tornando o torneio o evento esportivo feminino mais assistido de todos os tempos. Os acordos de patrocínio para esportes femininos cresceram 20% em 2022.

Nos Estados Unidos, o campeonato de basquete universitário feminino de 2023 atraiu uma média de 9,9 milhões de espectadores. Ao atingir o pico de 12,6 milhões de espectadores, ficou marcado como o evento esportivo universitário mais visto no canal ESPN+.

Números como esses fazem McClendon ficar “extremamente otimista” sobre o futuro dos esportes femininos e sobre o potencial de igualdade salarial, “porque o aumento do interesse é tão perceptível”.

"Olhe para os números de agora. Acho que isso deveria se traduzir diretamente no que estamos recebendo de volta pelo nosso trabalho. O retorno ainda está demorando e estamos dispostas a esperar, mas não tanto tempo”, disse a atleta.

PARTICIPAÇÃO DE MULHERES TRANS

Além da equidade salarial, os esportes femininos também geraram recentemente conversas sobre racismo e foram alvo de discursos transfóbicos. Os esportes femininos, analisa Robertson, costumam ser “um prato cheio para debater muitos 'ismos' na cultura: racismo, questões LGBTQIA+, questões de gênero, igualdade salarial e muito mais”.

Os Conselhos Mundiais de Atletismo votaram a favor da exclusão de mulheres trans de competições e eventos femininos de elite.

No mês passado, os Conselhos Mundiais de Atletismo votaram a favor da exclusão de mulheres trans de competições e eventos femininos de elite. Nos últimos dois anos, mulheres trans foram banidas de esportes em 10 estados norte-americanos.

Quando questionada sobre o papel das mulheres trans no futuro dos esportes femininos, a resposta de Robertson foi bastante clara. “Mulheres trans pertencem ao esporte. Não há estudos científicos que comprovem que haja vantagem física significativa”, alegou.

“Vejo que esse é um assunto que pode ser difícil para muitas pessoas entenderem, mas a polêmica está servindo para marginalizar ainda mais um grupo de pessoas que já foram radicalmente marginalizadas desde sempre.”

McClendon concordou e destacou o impacto negativo que as políticas antitrans têm sobre os jovens atletas. “Não faz sentido para mim. O esporte contribui muito para você como ser humano. Você aprende muito. Isso enriquece a sua vida. Não consigo imaginar uma sociedade que exclua as crianças trans desses eventos e espaços.”


SOBRE O AUTOR

AJ Hess e editor da seção Worklife da Fast Company. saiba mais