Patagônia está eliminando os “produtos químicos eternos” de suas roupas

Centenas de produtos são feitos com PFAS. Veja como marcas de roupas estão eliminando esses produtos químicos tóxicos

Créditos: Thaisign/ NYS444/ iStock

Adele Peters 5 minutos de leitura

A Patagonia decidiu remover os “produtos químicos eternos”, ou PFAS, presentes em sua jaqueta impermeável Torrentshell – um processo que levou cinco anos. Foi um dos últimos esforços da empresa para alcançar seu objetivo final: eliminar esses compostos de todos os seus produtos, incluindo tecidos, zíperes e fios, até 2025.

Os PFAS, um grupo de milhares de produtos químicos diferentes, têm sido utilizados por décadas porque são eficazes em tornar superfícies resistentes a manchas ou à água. Eles são encontrados em tudo, desde embalagens de alimentos e fio dental até nas telas dos nossos smartphones.

Mas também são um desastre ambiental. Os produtos químicos eternos, como o nome sugere, podem levar séculos para se decompor na natureza. Estudos têm associado esses compostos a várias doenças, desde câncer de rim até doenças da tireoide.

A 3M, uma das maiores fabricantes de PFAS, planeja parar de produzir esses produtos químicos até o final do próximo ano, após o encerramento de um processo judicial de vários bilhões de dólares para limpar água contaminada. Novas regulamentações também estão pressionando as marcas a encontrar alternativas aos PFAS.

As novas leis significam que empresas de vestuário agora precisam correr para garantir que seus produtos estejam em conformidade. Algumas marcas, como a Patagonia, começaram a enfrentar esse desafio muito antes. A empresa iniciou pesquisas para encontrar alternativas ao PFOA, um tipo de PFAS, em 2006.

Crédito: Patagonia

No entanto, o processo não foi fácil. Uma das etapas iniciais envolveu a conversão de uma substância química – moléculas de “C8” de cadeia longa – para outro tipo chamado C6, que na época era considerado mais seguro.

“Assim que concluímos a conversão, muitos estudos começaram a surgir dizendo: ‘essas coisas provavelmente são tão ruins quanto o que você acabou de substituir’”, conta Matt Dwyer, vice-presidente de impacto e inovação de produtos da Patagonia. Então a empresa recomeçou do zero, e os desafios continuaram.

“Foi uma série de tentativas fracassadas”, diz Dwyer. “Muitas empresas vinham até nós dizendo: ‘temos a solução mágica’, e depois descobríamos que ou não funcionava, ou funcionava muito bem, mas estava contaminado com PFAS.”

NEM TUDO TEM QUE SER IMPERMEÁVEL

Em alguns casos, é possível para as marcas eliminar completamente os revestimentos à prova d'água em produtos em vez de usar diferentes produtos químicos. "Descobrimos que substâncias que tornam superfícies à prova d'água estavam sendo usadas em lugares onde não eram necessárias", diz Kirsten Blackburn, que lidera programas ambientais e de justiça social na empresa de calçados Keen.

A empresa, que começou a trabalhar para se livrar dos PFAS em 2014, conseguiu eliminar mais da metade dos produtos químicos apenas removendo-os de produtos onde não eram necessários. Outras optaram por eliminar completamente certos produtos, como a Levi Strauss, que parou de fabricar as calças impermeáveis Commuter por não ter encontrado outro tipo de revestimento que tivesse o mesmo desempenho.

Depois que a Keen suspendeu a impermeabilização em alguns produtos, concentrou-se em encontrar alternativas para o restante. Foram quatro anos de trabalho, mais de mil horas de testes de campo e um investimento de US$ 1 milhão.

Crédito: Keen

"Tivemos que gastar muito tempo buscando e testando alternativas para garantir que pudessem repelir a umidade, resistir a manchas e ainda assim serem seguras para os seres humanos e o meio ambiente", diz Blackburn.

Para a Patagônia, a questão principal era não reduzir o tempo de vida útil dos produtos. “O melhor que podemos fazer pelo planeta é manter as coisas em uso na natureza pelo maior tempo possível. Nossa abordagem estava totalmente enraizada na qualidade e na manutenção do desempenho.”

A jaqueta foi particularmente complicada de redesenhar devido à sua estrutura: uma membrana respirável à prova d’água em meio a um material laminado. Adicionar novos acabamentos impermeáveis afetou alguns de seus outros atributos, então a equipe teve que continuar testando outras opções. Após um longo processo de tentativa e erro, eles encontraram algo que funcionava da maneira que desejavam.

SOLUÇÕES COMPARTILHADAS

Os fornecedores também precisaram ser convencidos a fazer mudanças. A Patagonia havia testado uma versão sem PFAS de sua jaqueta Nano Puff e estava pronta para começar a produção, mas o fornecedor disse que precisava de mais tempo para se sentir confortável em produzi-la. O lançamento teve que ser adiado.

Agora, a empresa tem uma lista de nove produtos químicos diferentes para escolher, dependendo das necessidades do produto e do local de fabricação. As soluções não existiam quando a Patagonia começou a trabalhar no problema, de acordo com Dwyer, mas isso mudou.

“Não vai demorar mais 10 anos para que outras marcas continuem e concluam esse trabalho, porque as soluções foram ampliadas – e já estão disponíveis”, diz ele. “As fábricas têxteis sabem como aplicá-las para obter altos níveis de qualidade.”

Crédito: Deposiphotos

Além disso, se outra marca precisar, a Patagonia oferece ajuda. “Um dos pilares da nossa filosofia é: se é bom para o planeta, por que deveríamos mantê-lo apenas para nós mesmos?”, diz Dwyer.

As marcas que demoraram mais a agir estão começando a mudar suas práticas por causa das novas leis estaduais nos EUA e legislações semelhantes propostas na União Europeia. Agora, defensores argumentam que as leis precisam ir além e abranger qualquer uso de PFAS, não apenas embalagens de alimentos, brinquedos e roupas.

“Não podemos continuar focando em uma categoria de produto de cada vez”, afirma Anna Reade, cientista sênior e diretora de defesa dos PFAS na Natural Resources Defense Council, uma organização ambiental sem fins lucrativos.

“Existem centenas de usos de PFAS em toda a nossa economia e esses produtos químicos já são encontrados em níveis acima do limite na água potável.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais