Petrolíferas deveriam pagar trilhões por danos ao meio ambiente

A Exxon lucrou US$ 56 bilhões no ano passado. Sob um novo modelo proposto, ela teria que pagar US$ 18 bilhões por ano em reparações climáticas

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Adele Peters 4 minutos de leitura

Quando ocorre um desastre climático, as pessoas que mais sofrem com as consequências geralmente têm pouca ou nenhuma responsabilidade pela causa do problema.

Veja, por exemplo, a recente onda de calor no sul e sudeste da Ásia – que foi 30 vezes mais intensa devido às mudanças climáticas –, seguida por um ciclone que devastou campos de refugiados em Bangladesh e Mianmar. No entanto, as emissões históricas desses países representam uma fração insignificante das emissões dos Estados Unidos.

Estima-se que, entre 2025 e 2050, os danos econômicos causados pelas mudanças climáticas atinjam US$ 99 trilhões.

Em alguns casos, as seguradoras ajudam a cobrir as despesas com os danos. O restante dos custos é assumido pelos contribuintes através de agências de recuperação de desastres.

No ano passado, os países ricos finalmente concordaram em apoiar um fundo de “perdas e danos” para mitigar os impactos climáticos em nações de baixa renda. Mas alguns defendem que as empresas de combustíveis fósseis, responsáveis pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa, deveriam arcar com uma parcela significativa desse ônus.

Um novo estudo publicado na revista “One Earth” propõe uma forma de calcular exatamente quanto as petrolíferas deveriam pagar.

DISTRIBUIÇÃO DE RESPONSBILIDADES

Entre 2025 e 2050, com base em uma pesquisa realizada com centenas de economistas do clima, estima-se que os danos econômicos totais causados pelas mudanças climáticas sejam astronômicos: US$ 99 trilhões, dos quais quase US$ 70 trilhões podem ser atribuídos diretamente às emissões de combustíveis fósseis.

“Provavelmente estamos subestimando os danos”, afirma Richard Heede, coautor do trabalho e diretor do instituto Climate Accountability.

Embora as cifras sejam altas, são menores do que os lucros da maioria dessas empresas.

O estudo propõe um novo modelo para distribuir igualmente a responsabilidade entre as empresas de combustíveis fósseis, os governos que demoram para agir e os consumidores que utilizam produtos como petróleo e gás – alguns podem argumentar que os produtores de combustíveis fósseis deveriam pagar mais, mas esse modelo é apenas um ponto de partida.

Em seguida, é calculado quanto cada um dos maiores produtores deve pagar com base em suas emissões históricas a partir de 1988, “quando as empresas de petróleo e gás não tinham desculpas para não estarem cientes dos danos causados por seus produtos”, argumenta Heede.

Sob este modelo, a Saudi Aramco, que teve as maiores emissões, teria que pagar US$ 43 bilhões por ano. A Exxon deveria pagar US$ 18 bilhões anualmente; enquanto a Shell e a BP pagariam um pouco menos, seguidas por outras empresas, incluindo a Chevron e a produtora de carvão Peabody Energy.

Embora as cifras sejam altas, são menores do que os lucros da maioria dessas empresas. No ano passado, a Exxon registrou um lucro de US$ 56 bilhões.

PROBLEMA POLÍTICO

O estudo argumenta que, mesmo que elas paguem essa quantia a cada ano, ainda teriam a obrigação de reduzir suas emissões, seguindo o plano da Agência Internacional de Energia para que a indústria energética atinja a neutralidade de carbono até 2050, incluindo a interrupção de investimentos em novos projetos de combustíveis fósseis. Os autores afirmam que, se as empresas se comprometerem a acelerar a transição, o valor das reparações climáticas poderá ser reduzido.

A indústria de combustíveis fósseis se beneficia de centenas de bilhões de dólares em subsídios.

No entanto, o estudo não detalha exatamente como o modelo seria gerenciado. “Não sabemos ao certo como as reparações podem ser exigidas, quem deveria gerenciá-las e quem deveria decidir como esses fundos serão distribuídos e investidos”, diz Heede. “Tudo está aberto para discussão. A intenção era apresentar uma metodologia sólida para permitir que outros comentem e levem a ideia adiante.”

A questão política também é uma incógnita, embora alguns líderes – como o secretário-geral da ONU, António Guterres – tenham afirmado que os lucros das empresas de combustíveis fósseis deveriam ser taxados para ajudar a pagar pelos desastres climáticos.

“A indústria de combustíveis fósseis está se beneficiando de centenas de bilhões de dólares em subsídios e lucros exorbitantes, enquanto os orçamentos domésticos diminuem e nosso planeta sofre”, disse Guterres em um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas no ano passado.

“Peço a todas as economias desenvolvidas que taxem os lucros exorbitantes das empresas de combustíveis fósseis. Esses fundos devem ser redirecionados de duas maneiras: para os países que sofrem perdas e danos causados pela crise climática e para as pessoas que estão enfrentando o aumento dos preços de alimentos e energia.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais