Petrolíferas não aprovam a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris

As mudanças das políticas em torno da participação dos Estados Unidos nas discussões sobre o clima não é bom para as empresas norte-americanas

Créditos: Darwel/ Vitalii Petrushenko/ Getty Images

Valerie Volcovici e Sheila Dang 4 minutos de leitura

As grandes empresas de petróleo dos Estados Unidos estão contentes porque o presidente Donald Trump quer incentivar o desenvolvimento de energia doméstica. No entanto, elas afirmam que sua decisão de retirar os EUA do Acordo de Paris e dos esforços internacionais sobre a questão do clima não vai ajudar nos planos de investimento na transição global para energia limpa.

Esse posicionamento reflete uma rara discordância entre Trump e as grandes petroleiras – um dos grupos mais importantes de sua base de apoio –, que sempre foram vistas como os vilões principais da mudança climática, por serem responsáveis pela extração e venda dos combustíveis fósseis que estão acelerando as mudanças climáticas. 

Retirar os EUA do Acordo de Paris – de novo – foi uma das várias medidas tomadas por Trump no primeiro dia de mandato, todas voltadas a aumentar ainda mais a produção de energia doméstica, já em níveis recordes. A ideia é enviar um recado para o resto do mundo de que os EUA não vão mais participar de esforços multilaterais para combater as mudanças climáticas.

Trump chamou o pacto para limitar o aquecimento global de “fraude” e disse que esses acordos colocam os EUA em desvantagem competitiva em relação à China. Mas representantes do setor dizem que retirar os EUA do Acordo de Paris só vai limitar a capacidade de Washington de influenciar a transição energética global e expor as grandes empresas de petróleo norte-americanas a um ambiente regulatório desigual.

Marty Durbin, presidente do Instituto Global de Energia da Câmara de Comércio dos EUA, que representa as empresas de energia do país, afirmou que elas preferiam que Trump mantivesse os EUA no pacto.

“Embora preferíssemos que o governo dos EUA continuasse envolvido no processo climático da ONU, o setor privado está comprometido em desenvolver as soluções necessárias para atender às necessidades energéticas de uma economia global em crescimento, ao mesmo tempo em que enfrenta o desafio climático”, declarou.

Bethany Williams, porta-voz do Instituto Americano de Petróleo – que tem entre seus membros a Exxon Mobil e a Crevron –, afirmou que o grupo “sempre apoiou as metas do Acordo de Paris”.

RETIRAR OS EUA DO ACORDO DE PARIS É UM MAU NEGÓCIO

O CEO da Exxon, Darren Woods, fez um apelo logo no início do mandato de Trump, durante a COP29 em novembro, no Azerbaijão, para não retirar os EUA do Acordo de Paris, dizendo que o ciclo de sair e voltar criaria uma incerteza política de longo prazo para as empresas.

A Exxon e outras grandes petroleiras estão planejando investimentos a longo prazo em tecnologias destinadas a combater as mudanças climáticas, como hidrogênio verde e captura de carbono, enquanto também tomam decisões sobre novas explorações de petróleo e gás.

Quando questionada sobre a decisão de retirar os EUA do Acordo de Paris, a presidente do Conselho Americano de Exploração e Produção (AXPC), que representa os perfuradores independentes dos Estados Unidos, disse que era importante para a indústria do país fazer parte da discussão global sobre o clima.

"É fundamental que qualquer conversa sobre como enfrentar as mudanças climáticas tenha uma abordagem global e também reconheça que os Estados Unidos são líderes mundiais tanto na produção de energia quanto na redução de emissões", disse Anne Bradbury, CEO da AXPC.

as mudanças das políticas em torno da participação internacional no clima coloca as empresas dos EUA em risco.

No passado recente, uma mudança na indústria de energia dos EUA, com o abandono do carvão, contribuiu para uma queda de cerca de 17% nas emissões de dióxido de carbono do país EUA desde 2007, de acordo com dados do governo.

Wynne Lawrence, especialista em risco de responsabilidade climática do escritório de advocacia Clyde & Co, também disse que as mudanças das políticas em torno da participação internacional no clima coloca as empresas dos EUA em risco.

“Retirar os EUA do Acordo de Paris vai aumentar a ambiguidade regulatória, criando mais complexidade. Isso pode levar a disputas legais enquanto as empresas lidam com a incerteza gerada pelas mudanças nas estratégias de transição dentro das próprias empresas e nas cadeias de suprimentos”, afirmou Lawrence.

Nos últimos anos, as grandes petroleiras começaram a enviar executivos para as conferências anuais da ONU sobre o clima, onde apresentaram seus investimentos em projetos de energia limpa e cortes nas emissões de gases do efeito estufa.

Frank Maisano, principal consultor do escritório de advocacia Bracewell, que representa clientes da indústria de energia, disse que “não faz sentido abrir mão de um lugar na mesa de debates”.


SOBRE A AUTORA

Valerie Volcovici e Sheila Dang são repórteres da agência Reuters. saiba mais