Por que empresas devem manter dados atualizados sobre riscos climáticos

Especialista em sustentabilidade diz que é hora de as empresas obterem o conhecimento necessário para se preparar para o que está por vir

Créditos: Chris LeBoutillier/ Pexels/ pngwing

Diane Osgood 4 minutos de leitura

Sua empresa está se baseando em dados obsoletos para gerenciar o risco empresarial? Se for esse o caso, é melhor atualizá-los o quanto antes. Por diversas razões. 

As empresas, hoje, enfrentam perigos sem precedentes, tendo em vista a complexidade e a abrangência dos riscos ambientais. Esses riscos se estendem a todos os setores dos negócios, principalmente operações, cadeia de suprimentos e funcionários. Entre outras origens, eles surgem de crises relacionadas a:

• Alterações climáticas

• Escassez de água

• Perda de biodiversidade

• Insegurança alimentar

As estratégias empresariais exigem, portanto, dados e análises de risco atualizados – coisa que a maioria dos líderes não está obtendo. Sem uma visão clara do presente, as empresas ficam mal preparadas para o que está por vir.

ONDE ESTÃO OS DADOS?

“Estamos presenciando mudanças no meio ambiente que achávamos que só chegariam nos próximos 10, 20 ou mesmo 50 anos”, analisa Thomas Armstrong, ex-diretor do Programa de Pesquisa de Mudanças Globais dos EUA, responsável pelo Programa Nacional de Avaliação de Mudanças Climáticas.

“A Covid nos pegou de surpresa e afetou grandes partes da cadeia de suprimentos global. Meu receio é que esse tenha sido apenas o começo do que está por vir, com a convergência de múltiplas crises interrelacionadas.”

Estamos presenciando mudanças no meio ambiente que achávamos que só chegariam nos próximos 10, 20 ou mesmo 50 anos.

Para evitar surpresas ruins, as organizações precisam integrar esses riscos em suas operações, na cadeia de suprimentos e nas estratégias. Estratégias robustas exigem dados atualizados e insights em tempo real.

“Infelizmente, as empresas dependem de relatórios do governo, que nem sempre acompanham as mudanças que estão ocorrendo. Isso pode levar a grandes falhas”, afirmou Armstrong.

Muitas vezes, as principais informações ambientais sobre o presente não estão disponíveis. Leva tempo para gerar relatórios oficiais sobre os impactos das mudanças ambientais. Por exemplo, uma inundação que acontece uma vez a cada mil anos significa que, com base em dados estatísticos passados, há uma chance em mil de que tal evento ocorra em um determinado ano. No entanto, nos EUA houve quatro eventos de inundação de mil anos só em 2022.

Exemplos como esses mostram que as estatísticas de probabilidade de eventos perigosos estão desatualizadas. Isso quer dizer que as estratégias de gerenciamento de risco que dependem dessas estatísticas andam mal-informadas.

UMA NOVA ABORDAGEM

“Dados os novos entendimentos de como a mudança climática pode destruir a riqueza mais rapidamente do que os líderes de negócios pensavam, as empresas devem integrar rapidamente os riscos e oportunidades relacionados ao clima no seu planejamento estratégico”, explicou o futurista Sanjay Khanna.

Para começar, é necessário obter bons dados e análises personalizadas da exposição e vulnerabilidade da empresa a riscos ambientais. A mudança climática é um grande impulsionador.

É por isso que dados climáticos atualizados de todos os locais de operações e dos principais parceiros da cadeia de suprimentos são essenciais. O próximo passo é integrar o conhecimento extraído desses dados ao gerenciamento de riscos e às estratégias de negócios.

é necessário obter bons dados e análises personalizadas da exposição e vulnerabilidade da empresa a riscos ambientais.

Muitas empresas se beneficiam dos insights de especialistas que entendem essas crises convergentes e conseguem traduzir melhor os riscos em estratégias operacionais. Isso requer modelagem e planejamento sem precedentes de experiência para impactos climáticos e ambientais.

Poucas empresas contam com essas capacidades internamente. Por isso, elas precisam buscar especialistas, como cientistas do clima, futuristas, estrategistas de sustentabilidade e especialistas em gerenciamento de riscos. Esses profissionais têm acesso aos dados mais atualizados,

Para construir uma abordagem verdadeiramente abrangente, dados e percepções precisam ser amplamente compartilhados dentro da empresa, independentemente de qual parte da organização patrocina a análise.

Diretores de operações, de gerenciamento de riscos, de sustentabilidade e gerentes da cadeia de suprimentos precisam trabalhar juntos para lidar com esses riscos antes que seja tarde demais.

NECESSIDADES DE DADOS GLOBAIS

Os riscos não são algo isolado em uma parte do mundo. Assim a empresa precisa considerar os dados de todos os locais que participam de sua cadeia de valor. Armstrong e outros líderes climáticos preveem que as cadeias de suprimentos que dependem de mão de obra barata são particularmente vulneráveis.

É hora de as empresas correrem contra o tempo e atualizarem seus próprios dados de riscos climáticos e ambientais.

“A globalização permitiu que as empresas terceirizassem a produção para lugares onde o trabalho é mais barato e as regulamentações ambientais são fracas. No entanto, é difícil trabalhar por um salário miserável, fabricando bens de consumo baratos se a pessoa não tem sequer água para beber ou se está sempre passando mal por conta da exaustão e do calor.  Essa é a realidade em algumas das maiores economias de exportação, como Índia, China e Bangladesh”, alerta Jeremy T. Mathis, professor de segurança ambiental da Universidade de Georgetown.

Da mesma forma, não faz muito sentido expandir as operações – fábricas ou call centers – em regiões que muito provavelmente sofrerão com ondas de calor, escassez de água e quedas de energia.

Os riscos complexos e interconectados das mudanças climáticas, da perda de biodiversidade, da escassez de água e da insegurança alimentar não vão esperar que os relatórios do governo os registrem.

É hora de as empresas correrem contra o tempo e atualizarem seus próprios dados de riscos climáticos e ambientais, aprimorando o conhecimento necessário para aplicá-los. É preciso se preparar para o que está por vir.


SOBRE A AUTORA

Diane Osgood é especialista em sustentabilidade e fundadora da Osgood Consulting. saiba mais