Por que investir na Amazônia?

O futuro da floresta e das pessoas que nela vivem está diretamente conectado ao futuro do planeta

Crédito: Fast Company Brasil

Miller Augusto e Heiko Spitzeck 5 minutos de leitura

O conceito de investimento sempre foi associado, principalmente, à busca por retorno financeiro. No entanto, com a crescente importância das práticas sustentáveis, se torna essencial refletir sobre como equilibrar lucro e propósito, além do porquê questões sociais e ambientais podem influenciar o retorno, criar ou destruir valor. Isso se aplica, especialmente, ao pensar em investir na Amazônia.

A região enfrenta desafios ambientais profundos, como o desmatamento, a degradação do solo e as mudanças climáticas, que não afetam apenas a biodiversidade única da floresta, mas também as comunidades tradicionais que dependem desses recursos para sobreviver. 

Isso em conjunto influencia a viabilidade de atividades empresariais na região como, por exemplo, se o rio está baixo – como as empresas escoam a produção? Se as comunidades ficam doentes, quem vai vir para trabalhar? 

A falta de infraestrutura básica, como saúde e educação, afeta diretamente a população local e, consequentemente, a qualidade da mão de obra local. Além de meras considerações de negócio, essas comunidades vivem, ainda, sob a constante ameaça de práticas ilegais, como grilagem de terras e a exploração predatória dos recursos naturais.

Em uma região que abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, muitos ribeirinhos enfrentam escassez de água potável em seu dia a dia. Segundo o Instituto Trata Brasil, na região Norte, menos de 60% da população tem acesso a água tratada e apenas 13% dispõe de rede de esgoto.

Nos últimos anos, diversos investimentos têm sido direcionados à Amazônia, com um foco crescente em ações de sustentabilidade e restauração ambiental. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, já desembolsou mais de R$ 10 bilhões para projetos na Amazônia Legal em 2024 – um aumento de 83% em relação ao ano anterior.

Esses recursos estão sendo aplicados em iniciativas de transição energética e projetos sustentáveis, como o Arco da Restauração, que visa restaurar milhões de hectares de florestas e capturar grandes quantidades de carbono até 2050.

Crédito: Getty Images/ iStock

Esse tipo de investimento demonstra como é possível alavancar recursos para impulsionar a transformação da região, preservando o meio ambiente enquanto são criadas novas oportunidades econômicas. Com a crescente preocupação em relação às mudanças climáticas, vão aparecer mais oportunidades de investimentos lucrativos.

As empresas desempenham um papel fundamental nesse processo. Elas podem ser agentes de mudança positiva ao adotar práticas de investimento sustentáveis, que não apenas geram lucro, mas também promovem a preservação ambiental e o fortalecimento das comunidades locais.

COMO INVESTIR NA AMAZÔNIA COM LUCRO E PROPÓSITO

O futuro do investimento está no equilíbrio entre lucro e propósito. Investir na Amazônia, com foco no desenvolvimento social e na sustentabilidade ambiental, é um exemplo claro de como essas duas esferas podem coexistir de maneira harmoniosa.

O retorno gerado por esse tipo de investimento vai além do financeiro, criando impactos positivos e duradouros, que não apenas transformam a região amazônica, mas também estabelecem um modelo de negócios sustentável que pode ser replicado globalmente. 

A região enfrenta desafios ambientais profundos, como o desmatamento, a degradação do solo e as mudanças climáticas.

Existem exemplos que ilustram boas práticas, como a Natura. Focada na bioeconomia, a empresa trata de investir na Amazônia para extrair produtos naturais como óleos, extratos e cosméticos, atraindo consumidores e investidores e gerando impactos positivos no meio ambiente. 

Atualmente, a empresa utiliza 39 bioingredientes, adquiridos de 85 cadeias de fornecimento, trabalhando com 39 comunidades que abrangem 8,3 mil famílias, das quais 7.039 estão na Amazônia, contribuindo para a conservação de dois milhões de hectares de floresta e almejando atingir três milhões até 2030. 

A startup Amazon Bioprotein também merece destaque. Eles buscam combater a fome e promover segurança alimentar transformando o cariru – uma hortaliça tradicional da região, rica em nutrientes – em suplemento proteico natural de alta qualidade.

Alinhada aos princípios da economia circular, a empresa utiliza processos sustentáveis que minimizam o desperdício e promovem eficiência no uso de recursos, além de trabalhar em parceria com comunidades locais, incentivando a agricultura familiar e garantindo uma cadeia de produção ética.

Com foco em soluções acessíveis e de alto valor nutricional, a Amazon Bioprotein provoca impacto social, ao mesmo tempo em que oferece alternativas saudáveis e naturais no mercado global. 

UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO

Como investidores, apoiar iniciativas voltadas ao desenvolvimento sustentável da Amazônia, por meio de startups e projetos locais, permite integrar a geração de renda, a preservação ambiental e o estímulo a novos negócios.

Além disso, fortalece setores inovadores que encontram ampla aceitação em outras regiões do país. Acreditamos que esse apoio é essencial para impulsionar inovações tecnológicas capazes de viabilizar uma transformação sustentável na região. 

Esse investimento traduz a interdependência global que é compartilhada: o futuro da floresta e das pessoas que nela vivem está diretamente conectado ao futuro do planeta.

é possível alavancar recursos para impulsionar a transformação da região sem causar danos ao meio ambiente.

.As ações voltadas para a inclusão social, o fortalecimento da educação e a geração de renda sustentável não beneficiam apenas os moradores locais, mas também ajudam a construir um novo modelo de desenvolvimento que pode servir de exemplo para o mundo.

Ao priorizar o desenvolvimento social na Amazônia, cria-se a oportunidade de promover um ciclo positivo no qual a preservação ambiental se integra a uma estratégia mais ampla de transformação social.

Ao agir dessa forma, é possível contribuir para um futuro mais equilibrado, sustentável e próspero – não apenas para a região, mas para toda a humanidade. É o famoso “win-win-win” dos norte-americanos – o ganha-ganha-ganha – em que as empresas ganham dinheiro, as comunidades ganham melhor qualidade de vida e o planeta ganha um clima menos aquecido.


SOBRE O AUTOR

Miller Augusto é fundador e CEO do Grupo Ivy. Heiko Spitzeck é diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral. saiba mais