Por que o Google Maps vai começar a mostrar rotas mais lentas

Crédito: Fast Company Brasil

Mark Wilson 3 minutos de leitura

Se queremos salvar o planeta, temos de abrir mão de algumas partes do nosso estilo de vida acelerado. Assim como o Victory Speed Limit obrigou os carros a desacelerarem na Segunda Guerra Mundial para consumir menos combustível, os designers de hoje estão perguntando: “Você optaria por um caminho mais longo se soubesse que isso é melhor para o meio ambiente?

E essa é a pergunta que o Google está fazendo em sua iteração mais recente do Google Maps.

Em um futuro próximo, o Google mudará a lógica do Google Maps. Em vez de mostrar o caminho mais rápido, indicará a rota mais “verde”. Com base em dados do National Renewable Energy, do Departamento de Energia dos EUA, a empresa calculará fatores como consumo de combustível, inclinação da rota e concentração de trânsito para traçar uma rota que favoreça o clima (a companhia não respondeu aos pedidos de entrevista).

Na maioria dos casos, o usuário nem notará a diferença. O Google listará percursos com estimativas de tempo bem parecidas com as alternativas menos “climate friendly”. No entanto, caso a decisão de ser mais consciente custe muito mais tempo, o app oferecerá a opção de escolher outro caminho. Será possível até mudar as configurações para sempre acessar as rotas mais rápidas. Mas é pouco provável que os usuários façam isso: um estudo descobriu que 95% das pessoas nunca mudam as configurações padrão dos apps.

Durante anos, o Google estimulou nossa falta de disposição em vasculhar e mudar as configurações para colher nossos dados. Agora, está impulsionando essa tendência para priorizar o meio ambiente. É uma reviravolta e tanto.

Para delimitar as rotas eco-friendly, a companhia escolheu um ícone de folha verde (a falta de originalidade é compensada pela facilidade de reconhecimento). E até mesmo dados quantificáveis serão disponibilizados para encorajar a pessoa a escolher a alternativa mais verde. O Google mostrará duas rotas: uma rápida, de 15 minutos, e uma de 17 minutos, que é o caminho mais saudável para o meio ambiente, pois emitirá 8% a menos de CO2.

E quanto aos trens e bicicletas, que são opções melhores do que dirigir carros? O Google incluirá esses meios de transporte no programa de emissão também: por meio de machine learning, a empresa mapeará se a pessoa pedala ou pega ônibus com frequência para mostrar as melhores rotas. Nas configurações, será possível selecionar os meios de transporte por preferência.

Ou seja, o novo design do Google Maps encorajará, de forma discreta, um comportamento mais consciente. Às vezes esses estímulos serão invisíveis (o percurso mais verde será padrão). E em outras vezes os estímulos serão mais explícitos (a interface lista os fatos e te leva a escolher, por si mesmo, se é hora de ser eco-friendly ou de chegar mais rápido).

Minha única dúvida é se essas opções do Maps podem vir a ter consequências. O Waze foi criticado muitas vezes por direcionar motoristas para ruas de bairro outrora quietas, e que não foram feitas para serem rotas de trânsito na hora do rush. Será que o mesmo pode acontecer com os percursos verdes? Ou será que os caminhos verdes de repente se tornarão congestionados e menos sustentáveis?

Também me pergunto se o Google consegue encontrar o equilíbrio entre dar um tapinha nas costas e estimular o bom comportamento do usuário. Motoristas de carros como picapes, que consomem bastante combustível, podem escolher continuamente as rotas verdes e se sentirem recompensados por isso – quando na verdade eles poderiam considerar o uso da bicicleta e do transporte público.

O fato é que o Google impacta o comportamento humano como poucas empresas. Eles o fazem de suas áreas de café: chegam aos nossos e-mails, onde a Inteligência Artificial do Google autopreenche nossas mensagens com sugestões algorítmicas. Se de fato estamos entregando nossa autonomia às decisões de uma máquina, precisamos que ela priorize nosso bem-estar em todos os sentidos.


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais