Por que os investimentos “de impacto” são tão pouco impactantes?

É hora de corrigir o que está dando errado e pensar de forma mais colaborativa

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Daniel Epstein 4 minutos de leitura

O último relatório do IPCC revelou que estamos diante de um cenário de agora ou nunca para o planeta. Precisamos de soluções inovadoras para a crise climática, e isso exigirá um enorme investimento financeiro. O investimento para reverter o impacto ambiental precisa crescer 18% este ano. 

Mas os mercados de capitais têm entendido tudo errado. Estamos presos em um ciclo de greenwashing, de individualismo e de homogeneidade que continua priorizando retornos de curto prazo e vantagens financeiras em detrimento de um verdadeiro impacto de longo prazo.

Ao refletirmos sobre o que de fato significa investir no planeta, precisamos fazer mudanças sérias no cenário de investimentos, antes que seja tarde demais.

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O QUE NÃO ESTÁ FUNCIONANDO 

Uma questão importante é que as atuais regulamentações para investimento de impacto não são adequadas para o seu propósito. Os mecanismos que respaldam o chamado “investimento sustentável” são subjetivos e inconsistentes, e as empresas conseguem manipular facilmente suas pontuações, concentrando-se em métricas mais fáceis ou não divulgando informações negativas.

Uma investigação do Financial Times de 2021 apurou que alguns fundos conhecidos por sua forte retórica sobre o enfrentamento de questões de direitos humanos estavam, ao mesmo tempo, emprestando dinheiro a regimes que cometiam abusos.

Estamos presos em um ciclo que prioriza retornos de curto prazo e vantagens financeiras em detrimento de um verdadeiro impacto de longo prazo.

Isso tudo prejudica a credibilidade dos investimentos de impacto de duas maneiras. Primeiro, porque favorece que a diligência prévia (due diligence) de um investidor termine simplesmente em um conjunto de boas intenções que não saem do papel.

Segundo, porque retém o capital de empresas cujos negócios são realmente impactantes. Os dois lados perdem: os investidores estão perdendo lucros tanto quanto os empreendimentos estão deixando de gerar impacto positivo. 

Em vez de confiar apenas em medidas superficiais de sustentabilidade, os investidores deveriam priorizar empresas cujo negócio principal, ou o DNA de seu modelo de negócios, esteja alinhado com a solução de um desafio social ou ambiental. Seja tirando milhões de toneladas de CO2 da atmosfera, seja evitando que os resíduos de estádios de futebol sejam despejados em aterros sanitários ou resolvendo a crise hídrica da agricultura.

Os investidores precisam olhar além das manchetes e apoiar as soluções tangíveis para os maiores problemas do mundo. Ao investir em empresas cujo modelo está diretamente ligado à solução de um desafio global premente, os investidores também acabarão superando o desempenho do mercado.

COLABORAÇÃO ACIMA DAS COMPETIÇÕES 

Também precisamos priorizar a vantagem colaborativa sobre o investimento competitivo de soma zero. Embora as multinacionais tenham os recursos, muitas vezes elas sofrem para inovar e acompanhar a rapidez das mudanças no que diz respeito a soluções baseadas em tecnologia e ciência.

Para acompanhar o ritmo das mudanças, as multinacionais precisam encontrar novos caminhos para trabalhar ao lado de empreendedores disruptivos.

O “Unreasonable Impact Program” que criamos com o apoio do banco Barclays é um exemplo em que investidores e empreendedores juntos removeram 80 milhões de toneladas de emissões de gases do efeito estufa (GEE) da atmosfera e desviaram mais de 500 mil toneladas de resíduos de aterros sanitários nos últimos cinco anos. O programa facilita conversas entre líderes da indústria e empreendedores em crescimento que resolvem problemas climáticos.

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Os resultados foram vantajosos para ambas as partes: até o momento, as empresas apoiadas pelo programa Unreasonable Impact levantaram mais de US$ 10 bilhões em financiamento e investidores e empresas obtiveram acesso antecipado a empresas que estão mudando o mundo.

A maioria das interrupções em investimento de impacto parece parar na etapa do financiamento. Mas há muitos outros caminhos que podem acelerar uma forma mais ecológica de capitalismo, ao mesmo tempo em que garantem que os investimentos tenham um desempenho melhor.

Pensar em investir de forma mais holística abre espaço para a colaboração entre grandes parceiros públicos e privados e os empreendedores que desenvolvem soluções rentáveis para a crise climática.

A IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE

Por último, precisamos reforçar a diversidade. Gestores de ativos liderados por mulheres ou minorias gerenciam menos de 1% dos US$ 70 trilhões em ativos sob gestão em todo o setor. Abrir espaço para diversos empreendedores e investidores é um bom negócio – simples assim.

É preciso ir além da sustentabilidade superficial e começar a obter lucros na proteção do planeta.

Uma pesquisa mostrou que empresas diversificadas têm maior probabilidade de superar seus concorrentes menos diversificados, em parte porque estão mais bem equipadas para entender e atender a uma base de clientes diversificada.

Pense no exemplo da Navajo Power, um empreendimento de rápido crescimento (apoiado pela minha organização) que desenvolve projetos de energia em escala de serviços públicos otimizados para o empoderamento econômico de povos indígenas dos EUA.

A empresa, liderada por uma equipe diversa e brilhante, está posicionada para gerar retornos financeiros robustos para os investidores, ao mesmo tempo em que entrega benefícios sociais e ambientais.

A visão tradicional do investimento de impacto está ultrapassada. Precisamos ir além da sustentabilidade superficial e começar a obter lucros na proteção do planeta.

Se conseguirmos fazer a conexão entre atender ao imperativo moral de proteger o único planeta que temos e a oportunidade financeira inerente ao apoiar os empreendimentos que farão isso acontecer, poderemos dizer que estamos realmente investindo no nosso futuro.


SOBRE O AUTOR

Daniel Epstein é o CEO do Unreasonable Group, organização dedicada a apoiar uma bolsa internacional para empreendedores em estágio de ... saiba mais