Precisamos falar sobre o estereótipo do CEO: homem e branco

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Recentemente, um momento que deveria ter sido grandioso para mim – ler meu primeiro artigo publicado em uma revista de alcance nacional sobre negócios – se converteu em um soco no estômago. Ao clicar no link que o editor me enviou, minha alegria inicial foi interrompida quando olhei para a imagem na minha frente e fiquei com os olhos cheios d`água. 

O quê? Por quê? Como assim??? Eu estava incrédula. Sim, aquele era o meu artigo sobre erros comuns que líderes cometem e sobre como corrigi-los. Era o meu artigo, cuidadosamente escrito com base no conhecimento que acumulei em mais de 15 anos comandando a minha própria empresa. Mas vinha encabeçado por uma imagem genérica, dessas de bancos de imagens, onde havia um homem branco diante de seus colegas, presumivelmente representando o “líder” na situação retratada.

Como uma mulher negra, vou dizer uma coisa: esse tipo de coisa dói. O descuido e a obtusidade representados naquela única foto são tão primários! É inacreditável que, em pleno 2022, o viés implícito que nossa sociedade ainda carrega é de que “CEO” é sinônimo de “homem branco”.

Durante um tempo, me permiti sentir toda a mágoa e raiva que aquela imagem provocou. Mas, no fim das contas, decidi que poderia transformar aquela experiência em um momento de luta. Afinal, a conscientização está no centro de todos os esforços de mudança. Se as pessoas não estão cientes do fato de que seus pressupostos são preconceituosos, então como poderemos mudar?

Se as pessoas não estão cientes do fato de que seus pressupostos são preconceituosos, como poderemos mudar?

Ao refletir sobre como conscientizar os outros partindo da minha experiência e sobre como as pessoas podem fazer um trabalho individual para lidar com pressupostos racistas e machistas enraizados como aquele, meus pensamentos naturalmente se alinharam em um modelo de aprendizado de três fases. Espero que, ao compartilhar esse modelo, consiga  inspirar consciência e mudanças  em sua vida e em seu trabalho.

FASE 1: COMECE DESCONSTRUINDO SEUS PRÓPRIOS PRECONCEITOS

Você não precisa de um psicólogo ou de um especialista para lhe dizer que, como seres humanos, somos todos produto do ambiente em que fomos criados. Onde as pessoas erram, no entanto, é ao presumir que, por causa de nossos preconceitos, não temos a capacidade de controlar a forma como reagimos. Ao achar que nos falta a capacidade de escolher nossas atitudes.

Convido a passar algum tempo registrando, meditando ou refletindo conscientemente sobre o que termos como “líder”, “CEO” e “presidente” significam para você. Como essas pessoas são, fisicamente? Como se expressam? Que tipo de roupa estão vestindo? Que traços de caráter elas têm? Como se comportam em momentos de crise? Feche os olhos e observe as imagens que aparecem. Como eu disse, a conscientização é o ponto de partida para a mudança.

Essa primeira fase do processo de aprendizagem é toda de conscientização e descobertas. Quais são seus preconceitos internos? E, agora que você os conhece, será que vai enfrentar seus próprios preconceitos através de suas ações?

FASE 2: TRANSFORME CONSCIÊNCIA EM AÇÃO

Depois de aprender a questionar seus preconceitos, essa mentalidade questionadora pode se tornar seu modo rotineiro de pensar e de agir. 

Um ponto de partida ideal é questionar e desconstruir a própria diversidade no local de trabalho, seja como CEO de sua empresa ou como funcionário de uma agência de médio porte. De acordo com a sua função, você tem a capacidade de olhar em volta e decidir se a composição demográfica do ambiente profissional está alinhada com as ações que deseja realizar.

Pergunte a si mesmo: está se cercando apenas de pessoas que se parecem e que pensam como você? Cercar-se de clones só o levará a um beco sem saída. De fato, pesquisas mostram que a diversidade produz ganhos financeiros valiosos para as empresas, e não perdas. Uma cultura de trabalho de indivíduos dentro do padrão vigente apenas suprime o talento de uma equipe, em vez de estimulá-lo.

Esta fase do processo de aprendizagem é sobre questionamento e desconforto. Faça esforços para se cercar de pessoas que desafiam sua maneira de pensar, que o encorajam a pensar fora da caixa e que valorizam uma diversidade de perspectivas.

FASE 3: LIDERANÇAS REALMENTE SÃO SEMPRE ASSIM?

Esta fase de aprendizado é mais baseada em análise e números. Afinal, conhecer os dados e aumentar a conscientização só ajudará à medida que você avançar conscientemente escolhendo que atitudes deve tomar.

Em pesquisa de 2021 publicada pela Zippia e verificada pelo Bureau of Labor Statistics e pelo Census, cientistas de dados descobriram que 64,2% dos CEOs são homens e 30,9%, mulheres. Além disso, a etnia mais comum relatada é branca (81,1%), seguida por hispânica ou latina (7%) e asiática (6,8%). A idade média dos CEOs ativos é 52 anos.

De acordo com a Investopedia, embora os negros representem cerca de 13,4% da população dos EUA, apenas seis eram CEOs em 2021, contra cinco em 2020. Na verdade, o número anual de CEOs negros nas empresas da Fortune 500 permaneceu tão estagnado que oscilou entre quatro e sete nos últimos 18 anos.

Agora que está ciente desses dados, talvez o choque inicial da minha experiência tenha passado. Afinal, os dados de fato apontam para uma grande probabilidade estatística de um CEO ser um homem branco. Mas espero que ler sobre a minha experiência pelo menos o deixe você consciente. Consciência de que você não é seus preconceitos. De que, com a escolha consciente, podemos alinhar nossas ações com a mudança que queremos ver.

Eu desafio você a escolher conscientemente suas ações – não por causa de seus preconceitos, mas apesar deles.


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