Proposta do Brasil pode recolocar o país à frente do combate à mudança climática

Governo brasileiro propõe a criação de metas globais alinhadas aos limites de temperatura definidos pelo Acordo de Paris

guarda-chuvas protegem o planeta Terra
Créditos: Pollyana Ventura/ Roberts Rob/ Getty Images/ Karolina Kołodziejczak/ Unsplash

Shannon Gibson 5 minutos de leitura

Nas Ilhas Marshall, que estão, em média, a apenas dois metros acima do nível do mar, os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos pela população. Os habitantes vivem nesse arquipélago do Pacífico há milhares de anos, mas o avanço do mar agora inunda com frequência comunidades inteiras e contamina plantações com água salgada.

Além disso, o aquecimento dos oceanos também tem causado episódios de branqueamento em massa de corais, prejudicando habitats essenciais para o turismo e a pesca, pilares da economia local.

Se o mundo não conseguir reduzir as emissões de gases de efeito estufa que agravam a crise climática, estudos indicam que ilhas baixas como as Ilhas Marshall poderão se tornar inabitáveis nas próximas décadas.

Mas o problema vai muito além das ilhas. Países em todos os continentes já enfrentam tempestades mais intensas, ondas de calor extremo e a elevação do nível do mar conforme as temperaturas globais sobem.

vista aérea da cidade de Majuro, nas Ilhas Marshall
Majuro, capital das Ilhas Marshall (Crédito: Anna Maria Vaccaro/ Wikimedia Commons)

Mesmo após 30 anos de negociações internacionais e depois de uma década do tratado global que prometia conter o aquecimento, além de trilhões de dólares em prejuízos, o mundo ainda está longe de frear o aumento das temperaturas. As emissões de gases de efeito estufa atingiram níveis recordes em 2024 – o ano mais quente já registrado no planeta.

Estamos acompanhando as novas metas climáticas dos países – conhecidas como contribuições nacionalmente determinadas (NDCs, na sigla em inglês) – para entender quem está avançando, quem está recuando e quem está propondo soluções capazes de garantir um futuro mais seguro para todos.

NOVAS PROMESSAS

Mesmo com a pressão do governo de Donald Trump para que outros países abandonem seus compromissos climáticos, muitos seguem firmes.

A China, atualmente o maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, foi elogiada por alcançar suas metas de energia limpa cinco anos antes do previsto. A rápida expansão da produção de energia renovável e da fabricação de veículos elétricos reduziu a poluição nas cidades chinesas, impulsionou a economia e ampliou a influência global do país.

O presidente Xi Jinping anunciou a primeira meta absoluta de redução de emissões da China: cortar entre 7% e 10% das emissões líquidas até 2035, em relação ao pico atual. O país também se comprometeu a triplicar a geração de energia solar e eólica e ampliar seus programas de reflorestamento.

Embora ativistas e outros governos esperassem metas mais ambiciosas, o novo plano representa uma mudança importante em relação aos anteriores, que se baseavam apenas na intensidade de carbono – ou seja, reduziam as emissões por unidade de produção econômica, mas ainda permitiam o aumento das emissões totais.

A União Europeia ainda não apresentou suas novas metas, mas os 27 países do bloco enviaram uma carta de intenção se comprometendo com uma redução coletiva de 66% a 72% nas emissões líquidas até 2035, em comparação com os níveis de 1990.

gráfico de estimativas de redução de emissões de carbono
Os novos NDCs compilados pelo ClimateWatch até 20 de outubro de 2025 ainda estavam longe de manter o aquecimento global abaixo de 2 °C, muito menos de 1,5 °C. O total inclui 62 países que apresentaram compromissos, incluindo um compromisso dos EUA apresentado antes da posse do governo Trump. Não inclui o compromisso anunciado pela China nem o esperado da União Europeia (Gráfico: ClimateWatch)

O crescimento acelerado das energias renováveis no continente foi impulsionado, em parte, pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que comprometeu o fornecimento de gás natural. A UE também avançou ao estender suas políticas de precificação de carbono para além de suas fronteiras.

O Mecanismo de Ajuste de Carbono nas Fronteiras, que entrará em vigor em janeiro de 2026, será o primeiro sistema a cobrar pelo impacto climático de produtos importados de países que não possuem regras equivalentes. A medida, criada para equilibrar a competitividade das indústrias europeias, estabelece um precedente global ao vincular as emissões de carbono ao comércio internacional.

A PROPOSTA DO BRASIL PARA COMBATER A MUDANÇA CLIMÁTICA

O Brasil, por sua vez, prometeu reduzir suas emissões líquidas entre 59% e 67% até 2035 e manter a meta de neutralidade de carbono até 2050. No entanto, foi criticado por aprovar planos de exploração de petróleo próximos à foz do rio Amazonas.

Para fortalecer os esforços nacionais e aumentar a transparência, o governo propôs uma nova abordagem chamada “contribuição globalmente determinada”.

Diferente do Protocolo de Kyoto, de 1997 – que impunha metas fixas de redução de emissões para cada país com base em níveis históricos – e do Acordo de Paris, de 2015 – que permite que cada nação defina suas próprias metas –, a proposta do governo brasileiro criaria metas globais alinhadas aos limites de temperatura definidos pelo Acordo de Paris.

Crédito: photoman e filo/ Getty Images

A contribuição globalmente determinada poderia, por exemplo, estabelecer que o mundo deve triplicar a geração de energia renovável e reverter o desmatamento até 2030. Metas desse tipo ofereceriam um caminho mais claro para a ação.

O novo formato também permitiria contabilizar o esforço de estados e cidades de forma independente, incentivando uma participação mais ativa dos governos locais.

Como anfitrião da Conferência do Clima da ONU, que acontecerá entre 10 e 21 de novembro de 2025, o Brasil está em uma posição privilegiada para liderar essa proposta.

A iniciativa pode representar uma oportunidade única para que os países fortaleçam coletivamente seus compromissos climáticos e reformulem a linguagem dos tratados, abrindo caminho para avanços reais.

Este artigo foi republicado do “The Conversation” sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE A AUTORA

Shannon Gibson é professora de estudos ambientais, ciência política e relações internacionais na Faculdade Dornsife de Letras, Artes e... saiba mais