Quais as consequências da quebra de recordes climáticos para os humanos

Tendência de aquecimento segue o que cientistas previram com base no acúmulo de CO2 decorrente do aumento do uso de combustíveis fósseis

Crédito: malerapaso/ iStock

Suman Naishadham 3 minutos de leitura

Mês após mês, as temperaturas globais continuam quebrando recordes. Enquanto isso, cientistas alertam sobre a crescente probabilidade de que o planeta ultrapasse, em breve, a meta de aquecimento estabelecida no Acordo de Paris, em 2015.

Entender essa série de eventos climáticos extremos pode ser um desafio para alguns. Veja o que os cientistas estão dizendo.

1. Quais recordes climáticos foram quebrados recentemente?

A agência de monitoramento climático da União Europeia, Copernicus, divulgou que maio foi o mais quente já registrado, marcando o 12º mês consecutivo de recorde de alta temperatura.

Já a Organização Meteorológica Mundial estima que há quase 50% de chance de que as temperaturas globais médias entre 2024 e 2028 ultrapassem o limite de aquecimento de 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais, conforme acordado nas negociações de Paris.

Além disso, a Terra aqueceu a uma taxa ligeiramente mais rápida em 2023 do que em 2022, de acordo com um grupo de 57 cientistas que produziu um relatório publicado na revista “Earth System Science Data”.

2. Os cientistas climáticos estão surpresos?

Não exatamente. Muitos afirmam que as tendências de aquecimento estão seguindo o que eles estudaram e previram com base no acúmulo de CO2 decorrente do aumento do uso de combustíveis fósseis.

Em 2023, os níveis de CO2 na atmosfera atingiram máximas históricas, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês).

O dióxido de carbono, em particular – que é o mais abundante e importante dos gases de efeito estufa produzidos pela atividade humana – aumentou em 2023, atingindo o terceiro maior nível em 65 anos de registros, de acordo com a NOAA.

3. O que isso significa para os humanos?

Mais sofrimento. As mudanças climáticas induzidas pelo homem trouxeram oscilações extremas, tempestades cada vez mais imprevisíveis e ondas de calor que permanecem sobre uma determinada área por períodos mais longos.

Recentemente, uma onda de calor na Ásia forçou o fechamento de escolas nas Filipinas, matou pessoas na Tailândia e quebrou recordes na Indonésia, Malásia, Maldivas e Mianmar. Semanas de ondas de calor em partes da Índia em maio também causaram o fechamento de escolas e mortes.

A humanidade não será extinta se as temperaturas ultrapassarem o limite de 1,5ºC, mas as coisas vão piorar, de acordo com os cientistas.

Estudos da ONU mostram que mudanças massivas no ecossistema da Terra são mais prováveis de ocorrer entre 1,5ºC e 2ºC de aquecimento, incluindo a perda dos recifes de coral, do gelo do mar Ártico e de algumas espécies de plantas e animais, junto com eventos climáticos extremos ainda piores que podem causar mais mortes e danos a infraestruturas.

“O limite [estabelecido pelo acordo de] Paris não é um número mágico. Atingir esse nível de aquecimento em uma média de vários anos não causará um aumento perceptível nos impactos que já estamos vendo”, afirma Jennifer Francis, cientista do Centro de Pesquisa do Clima Woodwell, nos EUA.

4. O que pode ser feito?

Os cientistas estão convencidos de que o uso de combustíveis fósseis deve ser eliminado para evitar consequências piores. A queima de petróleo, gás e carvão é o principal contribuinte para o aquecimento global causado pela atividade humana.

A humanidade não será extinta ultrapassarmos o limite de 1,5ºC, mas as coisas vão piorar,

“Até que as concentrações de gases de efeito estufa se estabilizem, continuaremos quebrando recordes de temperatura, além de testemunhar eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos”, diz Francis.

As energias renováveis têm crescido rapidamente, mas precisam crescer ainda mais. Elas estão sendo estudadas, desenvolvidas e implementadas em toda a economia – por exemplo, na forma como aquecemos casas e prédios, cozinhamos os alimentos e produzimos cimento –, mas os cientistas afirmam que a necessidade de adaptação é urgente.


SOBRE A AUTORA

Suman Naishadham é repórter de clima e meio ambiente na Associated Press. saiba mais