Que tal trocar a carne bovina por um belo bife à base de plantas?

A “demanda fabricada” é uma estratégia que pode ser usada para conquistar o paladar do público em favor de produtos plant-based

Crédito: CSA Images/ GettyImages/ Rawpixel.com

Brian Kateman 4 minutos de leitura

Na semana passada, o CEO da Beyond Meat, Ethan Brown, anunciou aos participantes do Wall Street Journal Global Food Forum que sua empresa planeja lançar um bife à base de plantas que estará disponível em lojas de varejo ainda este ano. O bife fatiado vegano foi criado para replicar o sabor e a textura de sua contraparte de origem animal. Mas será que os consumidores vão querer comê-lo?

Aos olhos de muitos, os alimentos de carne à base de plantas são, até agora, produtos de nicho – isso na melhor das hipóteses. As empresas fizeram um grande esforço para se expandir fora do relativamente minúsculo mercado vegano e vegetariano nos últimos anos. Mas os números sugerem que essa estratégia não está funcionando tão bem quanto se esperava.

Diante de uma queda de 15% nas vendas ano após ano, alguns analistas dizem que a iniciativa de oferecer a carne à base de plantas para o público geral em supermercados e redes de restaurantes falhou. No geral, a maioria das pessoas prefere comer produtos de origem animal a consumir proteínas à base de plantas.

Mas a produção de carne é uma maneira bastante ineficiente, por caloria, de alimentar as pessoas. Conforme a população mundial continua crescendo e a crise climática se torna mais premente, fica claro que não podemos continuar comendo carne no ritmo a que estamos acostumados.

Nesse caso, a carne à base de plantas poderia ser uma boa solução. O problema é que a demanda por ela simplesmente não existe.

Contudo, talvez possamos nos inspirar em uma lição aprendida com outro alimento que antes não era um prato muito comum entre os norte-americanos: o frango.

CONSUMO ESTIMULADO

Desde o final dos anos 2000, a carne de frango se tornou a mais amplamente disponível per capita nos EUA. Mas nem sempre foi assim. Até a década de 1940, os norte-americanos comiam muito mais carne bovina e suína do que de frango.

a produção de carne é uma maneira bastante ineficiente, por caloria, de alimentar as pessoas.

Adivinha só o que mudou? O impulso foi todo econômico. E, como tantas outras maravilhas da história comercial, aconteceu por acaso.

Em 1923, a produtora de ovos Cecile Steele, da Península Delmarva, em Delaware, recebeu por engano 10 vezes mais pintinhos do que havia pedido: 500 em vez de 50. Em um exercício de empreendedorismo, Steele decidiu criá-los para abate.

Ao vender a carne em tal escala, ela conseguiu obter um lucro impressionante, muito mais do que teria conseguido apenas com ovos. Em uma década, espalhou-se a notícia da lucratividade da criação de frangos de corte e pelo menos 500 dessas operações surgiram.

Não havia uma demanda massiva por carne de frango, mas os agricultores encontraram suas bases de clientes em nichos de mercado, como a população imigrante judia de Nova York. A incipiente indústria de frango explodiu de vez quando os agricultores de meados do século começaram a usar a ciência para torná-la ainda mais lucrativa.

As galinhas foram criadas para ficarem cada vez maiores e sua alimentação, formulada para que exigissem cada vez menos recursos para crescer. À medida que se tornou mais barato produzir maiores quantidades, os preços caíram e o público começou a comer mais frango do que nunca – de cerca de nove quilos por pessoa, em 1950, para quase 19 quilos em 1972.

O frango tornou-se dominante porque, antes de mais nada, era lucrativo. A população não tinha o paladar adaptado, mas pegou o gosto por essa carne quando ela se tornou amplamente disponível e acessível. A indústria criou um produto que ninguém estava pedindo, mas os consumidores abriram espaço para ele.

DEMANDA FABRICADA

Annie Leonard, crítica cultural, defensora da sustentabilidade e co-diretora executiva do Greenpeace USA, usou a expressão “demanda fabricada” para descrever o fenômeno da indústria que faz com que as pessoas queiram algo, em vez de fazer algo que as pessoas querem.

A população pegou o gosto pela carne de frango quando ela se tornou amplamente disponível e acessível.

A demanda fabricada não é exclusivamente uma tática para empurrar cinicamente produtos que as pessoas não querem ou não precisam. Às vezes, a indústria tem uma solução para um dilema social – como alimentar uma nação em crescimento.

A indústria de frango fez isso com preços atraentes. A carne à base de plantas pode ser uma solução para alimentar o mundo de forma mais sustentável. Os fabricantes só precisam descobrir como fazer as pessoas desejarem comprá-la e consumi-la.

Talvez com um investimento de fé (ou um feliz acidente, como o de Cecile Steele), a expansão da escala de produção de hambúrgueres vegetais poderia reduzir os preços. Se a carne vegetal for a opção mais barata no supermercado, as pessoas vão dar um jeito de incluí-la no cardápio.

A demanda nem sempre precisa liderar a indústria. Às vezes, a indústria pode liderar a demanda. A carne de origem vegetal já apresenta vantagens significativas sobre a carne animal em termos de sustentabilidade e nutrição.

Se a indústria de alimentos à base de plantas conseguir descobrir o que mais precisa para se tornar a melhor opção nas prateleiras, tem chances de enfrentar a indústria da pecuária – e talvez, eventualmente, de derrubá-la.


SOBRE O AUTOR

Brian Kateman é cofundador e presidente da Reducetarian Foundation, organização sem fins lucrativos dedicada a reduzir o consumo de ca... saiba mais