Reciclagem 3.0: robôs desmontam eletrônicos para reutilizar componentes

A Molg pretende tornar o setor de eletrônicos um sistema circular de reaproveitamento de peças

Crédito: Molg

Adele Peters 3 minutos de leitura

Depois de uma década desenvolvendo produtos eletrônicos de consumo, Rob Lawson-Shanks não conseguia parar de pensar em quantos dos produtos em que trabalhava iam parar em aterros sanitários.

“Comecei a perceber que estava alimentando esse enorme problema de 60 milhões de toneladas de lixo eletrônico por conta da forma como concebíamos, fabricávamos e, por fim, não recuperávamos os produtos”, ele conta.

Junto com Mark Lyons, ele decidiu mudar de rumo. A startup deles, a Molg, organiza “microfábricas” robóticas que desmontam aparelhos eletrônicos com eficiência para que os componentes possam ser reutilizados. E agora, quando trabalha com marcas de eletrônicos, ele ajuda os fabricantes a descobrir como projetar produtos para a circularidade.

Dentro de um depósito em Nashville, a primeira instalação dos robôs de Molg começou a desmontar servidores antigos no início deste ano. O processo utiliza vários braços de robôs, câmeras e software personalizado para retirar as peças com cuidado e rapidez e inspecioná-las, para que possam ser reutilizadas.

Os pequenos sistemas são projetados para caber dentro de instalações de processamento de lixo eletrônico ou fábricas já existentes. A velocidade varia de acordo com o produto, mas o robô é capaz de desmontar um servidor comum em cerca de cinco minutos. O objetivo principal não é a reciclagem, mas o reaproveitamento.

Crédito: Molg

“Como podemos retirar um componente de memória de um servidor de um provedor de nuvem em hiperescala e colocá-lo de volta em seu próprio data center, em sua própria cadeia de suprimentos, onde saberão exatamente o que ele é?”, diz Lawson-Shanks.

O objetivo é dar às peças uma segunda vida – e uma terceira, quarta, quinta... – antes de serem recicladas para recuperar apenas as matérias-primas.

Outros robôs são projetados para reciclar eletrônicos, como um da Apple feito para reciclar iPhones. O sistema da Molg, que é feito para trabalhar com vários tipos de eletrônicos, desmonta os aparelhos antigos com mais cuidado.

Crédito: Molg

“Usamos equipamentos de alta precisão e não destrutivos. Nos preocupamos com o que estamos tocando e movendo para que possamos retestar, requalificar e reimplementar”, explica Lawson-Shanks. “Em última análise, o objetivo é tentar manter as coisas com o maior valor possível.”

Muitas vezes, os componentes de um servidor ou laptop premium podem ser reutilizados para fabricar um produto de nível intermediário e, alguns anos depois, em um produto básico mais barato antes que as peças sejam, enfim, recicladas. 

“Estamos testemunhando casos em que acho que 100% de reutilização é perfeitamente possível, em que é possível pegar algo que normalmente tem um ciclo de vida de três anos e estender esse tempo até seis ou nove anos de uso”, diz ele.

AUMENTANDO A ESCALA DA CIRCULARIDADE

Ao usar robôs para o processo de desmontagem, é possível trabalhar com mais rapidez e precisão. Isso também pode ajudar a enfrentar o desafio da rotatividade nas instalações de reciclagem de eletrônicos, onde os funcionários costumam ficar 90 dias e depois sair, justamente quando começam a entender melhor quais peças são valiosas e quais não são.

Crédito: Molg

A tecnologia pode ser ampliada rapidamente em fábricas de reciclagem de eletrônicos existentes, diz a empresa. O desafio é enorme: apenas cerca de 22% do lixo eletrônico é reciclado atualmente. Mais de US$ 62 milhões em valor são perdidos nos produtos que são jogados fora.

Na outra ponta do processo, a startup também está trabalhando com fabricantes como Dell e HP para conceber produtos que, em última análise, serão mais fáceis de desmontar. 

“Alguns dos projetos em que trabalhamos são laptops que podem ser desmontados em menos de 60 segundos pelos robôs e não incluem as colas, os parafusos e todas as peças que podem tornar esses produtos ainda mais trabalhosos”, explica Lawson-Shanks. “O ideal seria que tudo fosse projetado tendo em mente a circularidade e a automação.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais