Reciclagem: seu próximo frasco de xampu pode vir em uma latinha de refrigerante

Startup sueca aposta em latas de alumínio para revolucionar embalagens de cuidados pessoais

Crédito: Prado/ Divulgação

Adele Peters 2 minutos de leitura

Ao buscar uma forma de tornar as embalagens de cuidados pessoais mais sustentáveis, a startup sueca Meadow encontrou inspiração em uma fonte inusitada: a reciclagem de latinhas de alumínio usadas para bebidas. A empresa desenvolveu um sistema de refil que armazena xampu, loção e outros produtos em cartuchos de alumínio selados.

Diferente de uma lata de refrigerante comum, os cartuchos – chamados de Kapsul – não têm lacre com anel de abertura. Eles são ativados ao serem encaixados em um dispensador reutilizável desenvolvido pela Meadow, que perfura a tampa com um estalo. Após o uso, a lata pode ser reciclada com facilidade.

“Sabíamos que não conseguiríamos desenvolver uma solução de embalagem totalmente nova,” explica Victor Ljungberg, CEO e cofundador da Meadow. “Não temos tempo nem recursos para criar uma infraestrutura do zero. Precisávamos olhar para o que já existe.”

A resposta estava nas próprias embalagens de alumínio. Na Suécia, a taxa de reciclagem de latinhas é de cerca de 90%. No Brasil é de quase 100%. Já nos EUA o índice é bem menor (43%), mas, ainda assim, supera em mais de três vezes a taxa de reciclagem das embalagens plásticas. Além disso, o alumínio pode ser reciclado indefinidamente sem perda de qualidade, o que não ocorre com o plástico.

“A lata de bebida de alumínio, o recipiente mais reciclado do mundo, já está disponível no mercado. Mas toda a indústria em torno dela foi construída com foco em alimentos e bebidas. Nós nos perguntamos: o que precisamos fazer para levar esse tipo de embalagem a novas categorias como cuidados pessoais, farmacêuticos e produtos de limpeza?”, conta Ljungberg.

Pensando na segurança do consumidor, a empresa optou por um sistema que impede que alguém confunda o conteúdo com uma bebida. Por isso, o cartucho só é aberto quando inserido no dispensador específico da marca.

Crédito: Meadow

Ljungberg defende que o design também oferece uma experiência mais prática do que os refis tradicionais, que muitas vezes exigem o manuseio de frascos frágeis ou difíceis de transferir. A Meadow prefere chamar sua embalagem de “prefill”, já que vem pronta para o uso. Ljungberg acredita que mudanças muito radicais ainda são um obstáculo para boa parte dos consumidores.

“É preciso reconhecer que há uma cultura global profundamente enraizada no uso único,” afirma. “O que fazemos é encontrar o consumidor onde ele está, sem exigir uma grande mudança de comportamento. Ele continuará comprando latas nas prateleiras, como já faz hoje.”

transformação de lata de bebida feita de alumínio em embalagem de xampu
Crédito: Meadow

Para viabilizar a ideia, a Meadow firmou parceria com a norte-americana DRT, pioneira na criação da aba de abertura das latas, e com a Ball Corporation, maior fabricante de latas do mundo, que também investiu na startup. Até o momento, a empresa já levantou cerca de US$ 15 milhões em rodadas iniciais de investimento.

lata de bebida feita de alumínio transformada em embalagem de xampu

Como a fabricação dos cartuchos pode ser feita com equipamentos já existentes, a produção tem potencial de escalar rapidamente. As marcas interessadas podem personalizar os cartuchos e os dispensadores, pagando uma taxa de licenciamento para usar o sistema.

Empresas como Ikea e Muji, por exemplo, poderiam criar dispensadores universais compatíveis. A suíça Nuniq, que já evita embalagens plásticas, começou recentemente a adotar o sistema da Meadow em seus produtos de cuidados pessoais. A expectativa é de que outras marcas sigam o mesmo caminho.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais