Recifes de detritos estão ajudando a recuperar a vida marinha na costa do Texas

Pesquisadores têm estudado o maior recife artificial na costa do Texas. E, após um ano, os resultados parecem promissores

Crédito: UTRGV

Elissaveta M. Brandon 4 minutos de leitura

A 20 quilômetros da costa do Texas, no leito oceânico, existe uma complexa estrutura composta por 76 milhões de toneladas de material fabricado pelo homem. Conhecida como recife Rio Grande Valley (ou recife RGV), essa estrutura artificial se estende por quase 668 hectares e é formada por diversas embarcações afundadas, blocos de concreto e cerca de 11 quilômetros de trilhos de trem doados pela companhia ferroviária BNSF Railway.

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Há décadas, os recifes artificiais têm sido exaltados por seu potencial em aumentar as populações de peixes, restaurando habitats naturais perdidos devido às mudanças climáticas. Além disso, eles podem auxiliar nos esforços de conservação e, em condições adequadas, atuar como barreiras naturais contra a erosão costeira. Mas será que também podem capturar carbono?

Um ambicioso estudo de dois anos, que atualmente está na metade, sugere uma resposta positiva. Ao longo dos últimos 12 meses, pesquisadores da Universidade do Texas no Rio Grande Valley descobriram que o recife RGV está, de fato, capturando carbono.

A quantidade exata e se é o suficiente para ter um impacto significativo são dados que precisarão aguardar até a conclusão do estudo. Contudo, se os resultados forem conclusivos, isso poderá abrir caminho para a construção de mais recifes artificiais.

Essas estruturas são como cidades subaquáticas complexas. Precisam ser construídas com os materiais certos e posicionados nas localizações corretas para atrair espécies marinhas. Também precisam resistir às correntes marítimas e à constante ameaça de corrosão, o que torna embarcações antigas, destroços e objetos feitos de concreto e aço (que são pesados e não enferrujam) opções muito melhores do que vagões de metrô de aço inoxidável – ou pior ainda, pneus.

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Curtis Hayungs, diretor da organização sem fins lucrativos Friends of RGV Reef, lembra que, quando sua equipe afundou a primeira embarcação, em 2015, “não havia um único peixe à vista”. Porém, apenas dois dias depois, ele se viu gravando vídeos de “milhares de peixes de 15 a 20 espécies diferentes”.

Ao longo de oito anos, a área se transformou em um ecossistema próspero, abrigando mais de 100 espécies de peixes e 300 mil pargos em apenas um dos diversos micro-habitats dentro do recife.

Para entender como essas estruturas artificiais capturam CO2, é importante dar um passo atrás e compreender o papel que os peixes e outras espécies marinhas desempenham no ciclo do carbono.

Assim como plantas e árvores capturam CO2 por meio da fotossíntese e o armazenam em sua biomassa, os peixes o armazenam em seus tecidos. O processo começa na superfície, com o fitoplâncton. À medida que os peixes menores se alimentam do plâncton e os maiores se alimentam dos menores, o carbono é transferido de um para o outro.

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Quando um peixe morre, sua matéria orgânica afunda em um processo chamado “neve marinha”. Nesse ponto, o carbono fica retido nos sedimentos do leito oceânico, de acordo com Richard Kline, professor de ciências ambientais e marinhas na Universidade do Texas no Rio Grande Valley, que lidera o estudo.

Tecnicamente, o ciclo do carbono existiria mesmo sem recifes, sejam eles artificiais ou naturais. No entanto, como Kline destaca, os peixes precisam de um habitat para se estabelecerem e crescerem.

Os recifes artificiais em si não atuam na captura, mas proporcionam um habitat essencial para os peixes que, de outra forma, poderiam morrer de fome em águas abertas ou se tornar vítimas de predadores sem ter onde se esconder. Em outras palavras, quanto mais recifes construirmos, mais peixes eles atrairão e mais carbono será capturado.

A equipe de pesquisa mediu apenas a quantidade de carbono presente nos próprios peixes encontrados no recife. Para isso, utilizaram uma combinação de veículos operados remotamente, equipados com câmeras de vídeo de alta definição e sonares acústicos.

Crédito: UTRGV

Kline diz ter ficado surpreso ao encontrar cerca de 15% de carbono orgânico nos tecidos moles dos peixes. Pode não parecer muito, mas é equivalente ao que normalmente é encontrado em um organismo aquático chamado briozoário, conhecido por sua capacidade de capturar CO2.

No entanto, ele espera obter resultados ainda mais promissores na análise dos sedimentos acumulados na superfície e ao redor do recife. A equipe coletou amostras raspando materiais e sugando-os com um aspirador de piscina adaptado.

“Tivemos que desenvolver novas técnicas, porque, uma vez que você raspa alguma estrutura do fundo, ela começa a flutuar e os peixes podem se alimentar dela antes que você consiga recuperá-la”, explica Kline. Agora, a equipe precisa analisar essas amostras em laboratório.

Os resultados só estarão disponíveis daqui a um ano, mas, se forem convincentes, poderão ajudar a Friends of Rio Grande Valley a garantir financiamento para expandir o recife e construir outros nas proximidades. “Se puderem reter mais carbono, isso poderá nos ajudar a criar mais recifes e convencer as pessoas de que eles são realmente importantes.”


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais