Se carros elétricos são o futuro, por que as vendas não deslancham?

Janet Ooi, da Keysight Technologies, explica quatro desafios que podem atrapalhar o futuro dos carros elétricos

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Janet Ooi 4 minutos de leitura

As vendas globais de veículos elétricos (EV) devem atingir 40 milhões até o final de 2030. Para cumprir a meta do governo norte-americano de que, até o final da década, 50% das vendas de carros novos no país sejam de veículos com emissão zero, a indústria precisa crescer rapidamente em escala. Antes disso, no entanto, é preciso superar alguns desafios fundamentais.

Entre eles estão a tecnologia de bateria, a infraestrutura de carregamento, os padrões universais e o gerenciamento de energia. A indústria precisará superar essas limitações para que suas ambições se tornem realidade.

TECNOLOGIA DE BATERIA

As baterias EV de hoje são caras e têm uma duração bastante limitada. Embora as pessoas normalmente dirijam menos de 50 quilômetros por dia, elas querem ter a possibilidade de fazer viagens mais longas sem precisar recarregar o carro.

A questão é ainda mais grave quando se trata de veículos comerciais, visto que parar várias vezes ao dia não é economicamente viável. A tecnologia de baterias EV ainda não é ideal para uso comercial. Por ser um setor responsável por enormes quantidades de emissões, resolver isso é fundamental.

No entanto, há inovações promissoras. Tecnologias iterativas, incluindo material de ânodo e cátodo, e baterias combinadas, prolongarão a duração da carga.

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Além disso, novas pesquisas estão desenvolvendo baterias com tecnologia de “estado sólido”, que têm uma densidade muito maior, fazendo com que sejam mais leves e durem mais. Os dados mostram que essas baterias podem ser recarregadas até 98% em menos de dez minutos. O desafio agora é comercializá-las.

Esses projetos visam resolver as limitações das baterias EV. O objetivo é que os veículos tenham autonomia de bateria próxima de mil quilômetros o final da década. Outro passo importante será o desenvolvimento de normas que regulem o desempenho das baterias automotivas.

Com mais pessoas utilizando carros elétricos, aumentará a demanda por diferentes matérias-primas, resultando em mudanças na cadeia de suprimentos. Assim, os custos da bateria vão demorar ainda mais para diminuir e isso continuará sendo um desafio para a indústria. No entanto, com mais esforços para garantir a sustentabilidade a longo prazo, os preços cairão.

INFRAESTRUTURA DE CARREGAMENTO

Outro grande obstáculo é a falta de infraestrutura. Na América do Norte, 80% do carregamento é feito em casa. Com 30% da população residindo em unidades multifamiliares, é imprescindível melhorar o acesso a estações de carregamento. Além disso, é necessário que haja uma rede robusta de estações para veículos comerciais, inclusive em áreas rurais. Até que isso seja resolvido, o crescimento do mercado permanecerá limitado.

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Construir estações de carregamento em todo o território exigirá ação do governo, bem como a colaboração da indústria. Iniciativas como a Alternative Fuel Corridors (Corredores de Combustíveis Alternativos) criarão uma rede de estações de recarga a menos de 1,6 quilômetros de saídas interestaduais e a não mais de 80 quilômetros de distância entre elas.

No entanto, o problema não é apenas de disponibilidade. A velocidade de carregamento é outro desafio, principalmente para veículos comerciais. Hoje, existem apenas seis mil estações de carregamento rápido nos EUA. Mas, com novas tecnologias de alta potência surgindo, o tempo total de recarga diminuirá.

GERENCIAMENTO DE ENERGIA

Com o aumento no número de VEs no mercado, outro obstáculo será a sobrecarga da rede elétrica. Isso exigirá uma gestão inteligente, com o governo assumindo a liderança para garantir o acesso à energia necessária. Fontes alternativas, como solar e eólica, serão fundamentais para equilibrar a geração e o consumo.

Pesquisadores estão desenvolvendo baterias com tecnologia de estado sólido, mais leves e duráveis.

Cada vez mais veremos uma tendência de distribuição descentralizada. Inovações, como carregadores bidirecionais que consomem energia durante a noite, quando a demanda é baixa, para carregar o veículo e depois vender o excesso de volta à rede, tornarão isso possível. A transição para o armazenamento de energia resolverá muitos dos problemas.

PADRÕES MUNDIAIS

A ampla adoção de VEs em todo o mundo requer um conjunto de padrões comuns. Nos EUA, por exemplo, não há um adaptador universal, ou seja, os motoristas precisam comprar outros conectores para evitar chegar a uma estação e descobrir que não podem recarregar seu veículo.

É necessário que as autoridades regulatórias desenvolvam uma estrutura para ajudar a facilitar a padronização, enquanto o setor impulsiona a adoção. Esses padrões serão abrangentes, incluindo conectores universais para evitar problemas de compatibilidade, localização da entrada do carregador, topologia de carregamento, sistemas de pagamento seguro e desempenho da bateria.

É um momento crucial para a indústria, uma vez que deseja ganhar escala. A menos que as barreiras mencionadas sejam superadas, o futuro da mobilidade elétrica continuará esbarrando em obstáculos. Apenas uma combinação de inovação tecnológica, apoio governamental e colaboração do setor poderá resolver essas questões.


SOBRE A AUTORA

Janet Ooi trabalha com soluções para a indústria automotiva na Keysight Technologies. saiba mais