Seca extrema na Bolívia ameaça o lago navegável mais alto do mundo

Volume de água no lago Titicaca atinge níveis críticos e ameaça a sobrevivência de comunidades indígenas na fronteira entre Peru e Bolívia

Crédito: Juan Karita/ AP Photo

Paola Flores 3 minutos de leitura

Os pés de um homem de 70 anos afundam no solo enquanto ele passa por barcos abandonados onde costumava haver água do Lago Titicaca. O lago navegável mais alto do mundo recuou para o que as autoridades bolivianas afirmam serem níveis criticamente baixos, devido a uma seca persistente.

"Está completamente seco", diz o líder comunitário Jaime Mamani, enquanto caminha ao longo da nova linha costeira em Huarina, cidade agrícola a 70 quilômetros de La Paz.

Crédito: Juan Karita/ AP Photo

O Serviço Nacional de Hidrografia Naval colocou o lago em estado de alerta depois que o nível da água caiu 2 centímetros abaixo do estágio de alerta de seca, ou 3.807,8 metros acima do nível do mar.

Mas a agência diz que isso é apenas o começo. A situação preocupa as comunidades indígenas aymarás, que dependem do lago para seu sustento e temem que o período de seca possa impactar permanentemente a flora e a fauna da região.

Crédito: Juan Karita/ AP Photo

A unidade hidrológica da marinha boliviana alertou que a água pode atingir níveis historicamente baixos nos próximos meses. Até dezembro, há uma "alta probabilidade" de que o lago Titicaca esteja 64 centímetros abaixo do nível de alerta de seca, quebrando um recorde estabelecido em 1998 por 33 centímetros.

"A água diminuiu 30 centímetros em três meses. Considerando que a radiação solar é muito mais forte durante esta época do ano... esperamos que continue diminuindo", afirma Carlos Carrasco, engenheiro hidráulico do serviço hidrográfico.

A seca é resultado de uma combinação de fatores, incluindo fenômenos naturais como La Niña e El Niño, que chegaram bem mais cedo este ano. Além disso, foram particularmente fortes devido, em parte, às mudanças climáticas, de acordo com Lucía Walper, que lidera a Unidade de Previsão Hidrológica do Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia da Bolívia.

Crédito: Juan Karita/ AP Photo

O grande lago é vital para esta região dos altiplanos bolivianos, onde centenas de comunidades rurais aymarás dependem dele há centenas de anos para agricultura de subsistência e criação de animais.

As autoridades da cidade peruana de Puno também emitiram um alerta sobre a diminuição dos níveis de água e expressaram preocupação com o impacto potencial no turismo.

"Estamos chegando a um ponto crítico. Haverá uma perda significativa de água", reconhece Juan José Ocola, presidente da Autoridade Binacional do Lago Titicaca. O lago serve como fronteira entre a Bolívia e o Peru.

Crédito: Juan Karita/ AP Photo

Mateo Vargas, de 56 anos, um pescador que vive na região há 28 anos, lembra que costumava pegar muitos peixes todos os dias. Agora, ele se considera com sorte se conseguir pegar meia dúzia deles. A esposa, Justina Condori, compartilha suas preocupações. "Os peixes desapareceram", diz ela, prevendo que haverá fome se as coisas continuarem assim.

A água do lago diminuiu 30 centímetros em três meses e espera-se que o nível continue a cair.

A evidência do recuo do lago parece estar em todos os lugares. Mulheres que vendem peixe frito e outros petiscos nas redondezas veem o preço dos ingredientes aumentar. Os transportadores que ganham a vida levando pessoas de um lado para o outro do lago estão alterando suas rotas porque jangadas e barcos já não alcançam os cais.

Os criadores de gado que dependem das plantas que crescem às margens do Titicaca para alimentar os animais também estão vendo sua subsistência ameaçada. "Há um grande prejuízo para a economia dos habitantes da região", alerta Mamani.

Vargas, o pescador, está preocupado com o que a redução do nível da água vai significar para o futuro. "Parece que vai continuar diminuindo, dia a dia", diz ele. "Estamos preocupados porque, se continuar assim, o que vai acontecer com nossos filhos?'


SOBRE A AUTORA