Sem mudança de mentalidade dos líderes, não haverá futuro sustentável

Os riscos climáticos que enfrentamos exigem uma postura mais proativa

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Matthew Blake 4 minutos de leitura

Conforme várias partes do mundo enfrentam mais um ano de recordes de temperatura e eventos extremos, vai ficando cada vez mais claro que os impactos das mudanças climáticas não são mais uma ameaça distante. O perigo está à nossa porta e não há um porto seguro que nos proteja dos crescentes desafios que ele traz.

Líderes de todos os setores precisam urgentemente de uma mudança de mentalidade – de uma postura reativa para uma mais proativa – se quiserem lidar com os riscos da crise climática e construir um futuro resiliente.

Muitos deles, tanto do setor público quanto do privado, só tomam medidas depois que os danos já foram causados, apenas remediando os estragos de inundações, ondas de calor, incêndios florestais e tempestades. Esses eventos interrompem as cadeias de suprimentos, destroem colheitas e danificam ativos físicos, o que gera enormes custos.

A Swiss Re, uma das maiores seguradoras do mundo, estima que as perdas econômicas globais causadas por eventos extremos somam cerca de US$ 200 bilhões por ano. No entanto, o impacto financeiro é superado pelas perdas humanas, que infelizmente continuam a crescer.

Embora as evidências mostrem que a crise climática gera custos altíssimos para pessoas, empresas e sociedades, a ONU calcula que a lacuna de financiamento para adaptação climática seja de US$ 194 bilhões a US$ 366 bilhões por ano.

Isso reflete uma falta de urgência por parte dos principais atores – empresas, instituições financeiras e governos –, o que traz consequências devastadoras tanto para economias em desenvolvimento quanto para as desenvolvidas. 

Novas pesquisas mostram que a adoção de medidas de resiliência climática, como tecnologias de eficiência hídrica e agricultura regenerativa, resulta em um custo-benefício que varia de uma proporção de um para dois até um para 15 para as empresas.

Mesmo assim, poucas estão integrando sistematicamente essas estratégias de adaptação, deixando suas operações vulneráveis a interrupções que podem aumentar os preços de vários produtos, como materiais de construção, alimentos e apólices de seguro. 

estima-se que as perdas econômicas globais causadas por eventos extremos somem cerca de US$ 200 bilhões por ano.

Por que as estratégias de adaptação climática estão atrasadas? Em parte, porque são caras de implementar, especialmente para pequenas e médias empresas. Além disso, muitas companhias enfrentam dificuldades com a falta de dados e ferramentas analíticas para criar um modelo preciso dos riscos climáticos, o que complica análises de custo-benefício e outros cálculos financeiros.

Esses desafios estão presentes, em maior ou menor escala, tanto em economias desenvolvidas quanto em desenvolvimento. Sem regulamentações claras e incentivos para o setor privado, muitos líderes empresariais hesitam em agir.

Com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, investir em adaptação climática é a solução lógica. Quanto mais resiliente ao clima for uma organização, mais preparada ela vai estar para lidar com os abalos em suas operações e cadeias de valor.

Um estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial com 100 grandes empresas mostra que os impactos financeiros dos riscos climáticos correspondem a cerca de 10% das vendas anuais e 4% do valor de mercado. Implementar estratégias eficazes de adaptação poderia reduzir significativamente esse impacto ao longo do tempo.

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Conforme os riscos aumentam, também cresce a demanda por novos produtos e serviços, criando oportunidades para inovação e eficiência operacional. A mesma análise aponta um aumento de receita devido à maior capacidade de produção, além da redução de custos para empresas que adotam medidas de adaptação.

Exemplos de estratégias estão surgindo pelo mundo. A One Concern, empresa de tecnologia analítica, desenvolveu um “gêmeo digital” do Japão e dos EUA, coletando dados de cada infraestrutura existente nesses países.

Esse vasto banco de dados ajuda a prever como eventos extremos ou desastres podem impactar ativos específicos e sistemas interconectados, destacando a importância de uma infraestrutura resiliente na adaptação ao clima.

a ONU calcula que a lacuna de financiamento para adaptação climática seja de US$ 194 bilhões a US$ 366 bilhões por ano.

Os governos também estão se mobilizando. O Ministério da Agricultura da Índia lançou o Sandbox for Agricultural and Rural Security, uma plataforma que oferece produtos de seguro voltados para agricultores. O objetivo é reduzir a lacuna de cobertura para produtores rurais, aumentando a resiliência contra riscos climáticos.

O mundo precisa conhecer mais abordagens pioneiras como estas. E os líderes empresariais precisam entender que adaptação não significa aumento de custos.

Com políticas públicas eficazes e uma visão de longo prazo voltada para a prevenção de desastres climáticos, os benefícios econômicos das estratégias de adaptação podem nos ajudar a alcançar um futuro sustentável.


SOBRE O AUTOR

Matthew Blake é diretor da divisão do Fórum Econômico Mundial (FEM) para a América do Norte e membro do comitê executivo do FEM. saiba mais