Starbucks demite funcionários que buscavam a sindicalização nos EUA

Crédito: Fast Company Brasil

Kristin Toussaint 4 minutos de leitura

Menos de um mês após trabalhadores da Starbucks de Memphis, no Tennessee, terem anunciado um plano de sindicalização – juntando-se a trabalhadores de outras lojas em todo o país –, diversos membros do comitê de organização foram demitidos.

 De acordo com o Starbucks Workers United (o coletivo de trabalhadores que está se organizando em todos os estados dos EUA), essas demissões foram um gesto claro de retaliação por parte da empresa, depois de membros do movimento terem dado entrevistas à imprensa. As rescisões foram confirmadas pela Starbucks, que alega que os funcionários foram demitidos porque violaram várias políticas de segurança e proteção.

Ainda não se sabe exatamente quantos foram demitidos. O porta-voz da empresa, Reggie Borges, diz que os detalhes serão divulgados, pois as negociações com alguns dos trabalhadores ainda estão em andamento. Os membros do SB Workers United disseram que, entre os afastados, estava “praticamente toda a nossa liderança sindical em Memphis, na loja Poplar & Highland”.

De acordo com Reggie Borges, os funcionários demitidos desobedeceram as políticas da empresa quando abriram uma porta que havia sido trancada após o fechamento do estabelecimento; permitiram que colegas que não estavam em serviço entrassem na loja fechada; e deixaram “indivíduos não autorizados” entrarem na loja e acessarem “os fundos do estabelecimento, deixando a porta destrancada sem vigilância”. Além disso, Borges alega que um trabalhador “que não exercia por contrato a função de controlador de caixa” teria aberto o cofre da loja. Os indivíduos não autorizados em questão incluem membros da mídia, que entrevistaram trabalhadores dentro da loja.

Os funcionários da Starbucks, no entanto, discordam da resposta dada pela empresa e questionam as razões alegadas para as rescisões. Eles argumentam que, se o motivo tivesse sido a violação dessas políticas, os trabalhadores teriam recebido os avisos ou notificações usuais para esses casos. Além disso, apontam inconsistências na forma como tais políticas são aplicadas: “Fui demitido por ‘abrir uma porta’ e ‘estar atrás do balcão fora do horário’ “, escreveu um demitido no Twitter. “Quantas vezes preparei minhas próprias bebidas na hora do almoço? Quantas vezes estava trabalhando normalmente durante o que deveria ser minha hora de almoço? Quantas vezes abri a porta dos fundos para pedidos para viagem quando o café já estava fechado?”

De acordo com a Lei Nacional de Relações Trabalhistas, a demissão por envolvimento em atividades sindicais é considerada prática injusta. Os funcionários da Starbucks classificam essas rescisões como “o ato mais flagrante de repressão sindical até agora” e, mais especificamente, como uma “retaliação contra o comitê organizador do sindicato”. Borges rebate dizendo que há meses os trabalhadores têm falado com a mídia sem serem demitidos, que não há problema em darem entrevistas e que ninguém foi “repreendido ou penalizado” por isso.

O ônus de provar que a rescisão foi um ato de retaliação agora recai sobre os trabalhadores. De acordo com a More Perfect Union, eles podem apresentar uma acusação contra a Starbucks no National Labor Relations Board (Conselho Nacional de Relações Trabalhistas). A partir daí, a empresa provavelmente argumentará que não demitiu funcionários por sua atividade sindical, mas por violar as políticas da empresa, acredita Cathy Creighton, diretora da Cornell University ILR Buffalo Co-Lab (uma extensão da Escola de Relações Trabalhistas Industriais da Universidade de Cornell). “Caberá aos funcionários provar que a posição do empregador é um pretexto e que o verdadeiro motivo da demissão foi sua atividade sindical”, explica.

O caso poderia durar meses, pois exigiria tempo para uma investigação do NLRB, uma resposta do empregador e – se o conselho acreditar que a empresa violou a lei – um julgamento perante um juiz.

Mas, independentemente da conclusão específica que o caso terá – e isso vai depender de a justiça considerar ou não que esses funcionários foram demitidos por sua atividade sindical –, o momento tem se mostrado crucial para o esforço geral de sindicalização que vem se espalhando pelas lojas Starbucks em todo o país. “Para mim”, diz Creighton, “a questão mais interessante é: essa ação vai inflamar ainda mais o esforço dos trabalhadores? Em outras palavras, esses funcionários serão mártires e promoverão mais sua organização? Ou essa ação impedirá que eles se organizem? Que efeito ela terá?”

Até agora, o que se sabe é que a SB Workers United criou um fundo online para ajudar os demitidos e que, apenas uma hora após essa iniciativa ser compartilhado no Twitter, a vaquinha já contava com quase US$ 2.000. Além disso, as postagens sobre o caso revelaram haver forte apoio online aos trabalhadores. Diversos usuários, inclusive, sugeriram um boicote à Starbucks ou escreveram diretamente para a empresa, condenando o incidente.


SOBRE A AUTORA

Kristin Toussaint é editora assistente da editoria de Impacto da Fast Company. saiba mais