Startup desenvolve sistema de geração de energia usando as ondas do mar
A Eco Wave Power faz parte de um pequeno grupo de startups na corrida para provar que o oceano pode ajudar a atingir as metas de energia renovável
No porto de Los Angeles, dentro de um enorme armazém que agora incuba pesquisas e inovações relacionadas ao oceano, um contêiner de transporte cheio de tecnologia energética será instalado em breve em um cais próximo à água.
O equipamento vai se conectar a dispositivos flutuantes que captam energia conforme as ondas sobem e descem – um sistema que teoricamente poderia cobrir até 69% da produção de eletricidade do estado da Califórnia, se fosse ampliado.
Essa é a primeira instalação nos Estados Unidos da Eco Wave Power, empresa que já tem uma estação de energia oceânica conectada à rede elétrica em Israel. Como outras startups que trabalham na área, a empresa acredita que essa tecnologia pode ajudar a preencher uma lacuna na energia renovável.
“A energia oceânica é nossa fonte de eletricidade menos intermitente e mais estável”, explica a CEO, Inna Braverman. Ao contrário da energia solar e eólica, ela pode continuar funcionando continuamente, pois faz uso do movimento das ondas.
No entanto, a incipiente indústria de energia oceânica ainda está muito atrás da solar e da eólica. Algumas startups falharam, como a Pelamis, que construiu uma usina desse tipo em Portugal, em 2008, mas que precisou rebocar seus primeiros geradores de volta à costa meses depois, devido a problemas técnicos.
No final das contas, a instalação fechou, seguida por duas outras com falhas, até que a empresa acabou falindo. Mas a Eco Wave Power, que vem desenvolvendo sua tecnologia desde 2011, acredita que pode evitar alguns dos entraves que os outros enfrentaram adotando uma abordagem diferente.
Em vez de instalar equipamentos no mar – um processo caro que envolve navios, mergulhadores, amarras e cabos subaquáticos –, a empresa mantém a maior parte do sistema em terra e conecta dispositivos flutuantes a estruturas já existentes, como píeres, quebra-mares e molhes.
Os flutuadores, que, segundo Braverman, “parecem pequenos barcos”, sobem e descem com as ondas, comprimindo e descomprimindo cilindros hidráulicos, criando pressão que gira um motor e depois um gerador. “Quanto maior a onda, maior a pressão”, ela explica. Depois, um inversor transfere a eletricidade para a rede.
Devido à densidade da energia das ondas, a tecnologia ocupa um espaço relativamente pequeno, gerando cerca de 50 vezes mais energia do que os painéis solares gerariam na mesma área.
Em um quebra-mar de um quilômetro de extensão, é possível produzir entre 3 e 5 megawatts de eletricidade a qualquer momento, o suficiente para abastecer entre três mil e cinco mil residências. O piloto em Los Angeles terá cerca de 25 metros de comprimento, o suficiente para gerar 100 quilowatts.
Esta tecnologia já pode competir em custo com a energia eólica e, como pode funcionar ininterruptamente, consegue obter um retorno do investimento mais rápido que a solar, compara Braverman. O design modular pode ser instalado rapidamente.
Ainda assim, há desafios. A maioria dos governos ainda não conta com sistemas de regulamentação configurados para energia oceânica. “Demoramos apenas seis meses para instalar uma estação piloto, mas até dois anos para obter o licenciamento”, ela relata. “É muito importante fecharmos essa lacuna entre o nível de prontidão tecnológica e as políticas e regulamentações.”
Atualmente, a tecnologia de energia oceânica também depende de financiamento de capital, ao contrário da eólica e da solar, que podem usar taxas de financiamento mais baratas. Braverman tem esperanças de que isso vai mudar, porque as energias solar e eólica já passaram pelos mesmos desafios.
Ainda não está claro quanto a empresa irá crescer ou qual será o futuro de outras empresas no setor. Como o custo das baterias caiu, isso também podem ajudar a preencher lacunas quando o vento não estiver soprando e o sol não estiver brilhando.
Mas, para ter uma chance de atingir as metas climáticas, faz sentido investir em cada recurso de energia renovável que mostre potencial, e novos fundos estão fluindo para o setor. Na Europa, onde centenas de milhões foram investidos em energia oceânica, a UE tem como meta implantar 100 megawatts de capacidade de ondas e marés até 2025.