Startup fabrica produtos químicos com carbono capturado da atmosfera

Mas isso não resolve o problema do lixo plástico

Crédito: Dioxcycle

Adele Peters 3 minutos de leitura

A cada ano, centenas de milhões de toneladas de plástico e poliéster são produzidas a partir de centenas de milhões de toneladas de etileno – um produto químico atualmente derivado de combustíveis fósseis, com uma grande pegada de carbono.

Mas a startup Dioxycle oferece uma alternativa mais sustentável, com etileno produzido a partir de emissões de carbono recicladas e energia renovável.

“Os produtos químicos têm um incrível potencial de descarbonização em termos de impacto, mas atualmente são negligenciados”, diz Sarah Lamaison, cofundadora e CEO da Dioxycle. A startup afirma que sua tecnologia é capaz de produzir produtos químicos que competem em custo com as versões feitas a partir de combustíveis fósseis.

Crédito: Dioxcycle

A equipe projetou um eletrólito personalizado, com módulos empilháveis que utilizam eletricidade para separar o CO2 e produzir produtos químicos à base de carbono, começando pelo etileno.

Embora os detalhes do processo sejam protegidos por patente, a empresa afirma que o consumo energético é baixo e acredita que essa é a abordagem de menor custo disponível para uma produção sustentável.

Depois de passar dos testes de laboratório de seus primeiros protótipos no ano passado, a Dioxycle utilizará os US$ 17 milhões obtidos recentemente em uma nova rodada de financiamento para construir equipamentos em escala industrial (um eletrólito terá a mesma capacidade de converter carbono que 20 mil árvores).

Crédito: Dioxcycle

O plano é trabalhar com parceiros da indústria química para instalar os equipamentos em fábricas existentes, onde as empresas poderão utilizar suas próprias emissões como matéria-prima. Outras fontes de CO2 capturado podem ser incorporadas posteriormente, incluindo carbono capturado diretamente do ar.

“Nos vemos como fornecedores de tecnologia para fabricantes de produtos químicos”, diz Lamaison. “Nosso objetivo é inovar não apenas no próprio eletrólito, mas também na forma como integramos nosso sistema nas indústrias.” Segundo ela, a infraestrutura já existente deve ser utilizada ao máximo para permitir uma expansão rápida e necessária.

Ajudar a indústria a fazer essa transição poderia eliminar centenas de milhões de toneladas de emissões de CO2 por ano. A chave para tornar isso possível, de acordo com Lamaison, é a rapidez com que o custo da energia renovável continua a diminuir.

Crédito: Dioxcycle

Mas é claro que reduzir as emissões de produtos como plástico, poliéster e PVC não resolve outro grande problema: o que acontece com esses produtos quando são descartados.

“Qualquer produto plástico vai continuar gerando poluição de microplásticos indefinidamente, enquanto existir no planeta”, diz Jennifer Congdon, diretora adjunta da Beyond Plastics, uma organização sem fins lucrativos que defende a eliminação de plásticos.

“Acredito que projetos como este desviam a atenção da necessidade de reduzir o uso de plástico de todas as formas possíveis”, opina. Segundo ela, é preciso fazer muito mais para acabar com a nossa dependência do plástico.

Lamaison concorda que o mundo precisa abandonar as embalagens plásticas descartáveis. Mas, para outros usos, como peças leves de carros, o plástico é a melhor opção disponível.

Do ponto de vista prático, não é provável que o mercado de etileno – que movimenta US$ 180 bilhões – desapareça em futuro próximo. Com uma janela tão apertada para enfrentar as mudanças climáticas, a nova tecnologia poderia ajudar a reduzir significativamente as emissões.

Sem dúvida, há espaço para ambas as abordagens: abandonar o plástico e outros produtos à base de etileno o mais rápido possível, enquanto desenvolvemos ferramentas para ajudar a indústria a fazer essa transição.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais