Startup quer desenvolver a indústria de algas marinhas – no Alasca
A Macro Oceans transforma algas marinhas em substitutos de produtos petroquímicos usados em tudo, de cosméticos a embalagens
Em uma fazenda subaquática na costa do Alasca, as algas marinhas estão crescendo rapidamente, penduradas em longos varais flutuantes. Daqui a algumas semanas, toda essa alga – que foi plantada no final do ano passado – será colhida e vendida para a Macro Oceans. A startup, por sua vez, vai transformar esse material em blocos de construção para a fabricação de produtos como embalagens biodegradáveis.
A maioria das fazendas de algas do mundo fica na Ásia, onde a maior parte da colheita é usada para alimentação. A Macro Oceans quer ajudar a alavancar essa indústria no Alasca e usar as algas marinhas para começar a substituir petroquímicos e compostos que normalmente vêm de cultivos extensivos, como o milho.
O fundador e CEO da empresa, Matthew Perkins, trabalhava com genética de sementes na agricultura tradicional. “Passei uma década nessa indústria e pude observar o impacto que a agricultura moderna tem no planeta. Tanto nos ecossistemas quanto o impacto de carbono do plantio de todas essas culturas que dependem de fertilizantes sintéticos”, diz ele.
As algas marinhas crescem usando apenas luz solar e água do mar, dispensando irrigação, fertilizantes ou a derrubada de florestas para limpar a terra para a agricultura. Conforme crescem, as algas rapidamente sugam carbono. Globalmente, as algas selvagens sequestram cerca de 200 milhões de toneladas métricas de CO2 por ano.
O potencial das algas como solução climática despertou o interesse de outras startups. A Running Tide planeja cultivá-las e depois devolvê-las ao fundo do oceano, armazenando o carbono. Outras, como a Macro Oceans e a Carbonwave, querem transformá-las em produtos.
Perkins ficou impressionado com o fato de que a composição de uma alga – a divisão entre carboidratos, proteínas e gorduras – era semelhante à do milho, usado para fabricar uma ampla variedade de produtos, de ração animal a combustível e bioplásticos.
“É lógico que, se o milho é usado em inúmeras aplicações, então por que a alga marinha não poderia ser usada para tudo também? É basicamente uma versão de impacto muito menor da mesma coisa”, explica Perkins.
O bioplástico feito de milho, chamado PLA, não se decompõe facilmente. “O detalhe inconveniente é que ele não é realmente biodegradável e compostável, a menos que seja levado para uma instalação de compostagem industrial. A maior parte acaba em aterros sanitários”, afirma. Por outro lado, o plástico feito de algas marinhas pode, sim, se biodegradar rapidamente.
Embora resolver o problema do plástico também dependa de reduzir o uso de plástico, o plástico à base de algas marinhas pode ser um substituto viável para algumas aplicações. A Sway, uma empresa com a qual a Macro Oceans está trabalhando, está produzindo uma versão de filme plástico, não reciclável, feito à base de algas marinhas.
“Além dos plásticos, ficamos mais entusiasmados com o uso desses blocos de material à base de algas marinhas para descarbonizar produtos industriais acabados, como têxteis, polímeros, surfactantes, pesticidas, fertilizantes, corantes e géis que hoje são predominantemente fósseis”, diz Alex Laplaza, sócio da Lowercarbon Capital, um dos investidores da Macro Ocean.
No Alasca, o tipo de alga marinha que a startup usa é colhido uma vez por ano e, normalmente, passa por um processo de secagem ou congelamento que consome muita energia. A empresa desenvolveu um método para armazená-lo úmido por até um ano.
Em seguida, a alga molhada é decomposta em diferentes biomateriais. Em uma “biorrefinaria” piloto na Califórnia, foi iniciada a produção em pequena escala.
“Usamos a planta inteira”, diz Perkins. “Não deixamos nada para trás. Isso é importante porque o produtor pode faturar mais por quilo de alga, o que faz nossa unidade econômica funcionar e também nos dá uma pegada ambiental menor.”
Globalmente, as algas selvagens sequestram cerca de 200 milhões de toneladas métricas de CO2 por ano.
Os ingredientes produzidos – que podem eventualmente incluir substâncias como dextrose, ácido acético, etanol e etileno – serão inicialmente mais caros, diz ele, mas ficarão mais baratos à medida que a empresa crescer.
Em breve, a Macro Ocean vai construir uma biorrefinaria maior e uma instalação no Alasca para trabalhar localmente. A produção de algas está nos estágios iniciais e um pequeno grupo de pescadores começa a experimentá-la. Outros na indústria pesqueira estão interessados em se envolver quando fica claro que há demanda.
A Macro Oceans planeja se instalar em outros locais nos EUA e em outros países, para trabalhar com diferentes espécies de algas marinhas. “Nossa ideia, obviamente, não é recriar as monoculturas que temos na terra”, diz Perkins.
“Vemos nosso trabalho muito mais como uma solução local, na qual as pessoas cultivam muitas espécies diferentes e apropriadas localmente. E, assim, descobriremos como processá-las e transformá-las em produtos únicos para nossos clientes”.