Startup transforma a fumaça de navios em água salgada e devolve ao mar
Empresa usa calcário para resolver o problema das emissões de CO2 dos navios. Em breve, uma companhia de navegação começará a testar o processo
Os milhares de navios de carga que transportam desde roupas até carros emitem cerca de um bilhão de toneladas de CO2 a cada ano. Combustíveis de navegação mais limpos e inovações como velas modernas ainda levarão tempo para serem amplamente adotados.
Mas uma startup está trabalhando em uma solução que pode resolver o problema mais rapidamente. A empresa, chamada Calcerea, captura o CO2 que os motores dos navios emitem e o transforma em água salgada, que pode ser devolvida com segurança ao mar.
A tecnologia, derivada de pesquisas do Instituto de Tecnologia da Califórnia, imita um processo natural. “Esta é a reação de tamponamento que a Terra usa há bilhões de anos para lidar com o CO2 vulcânico que entra na atmosfera”, explica o professor do instituto e cofundador da Calcerea, Jess Adkins.
Ao longo de dezenas de milhares de anos, o CO2 no mar reage com conchas de calcário, transformando-se em íons de cálcio e bicarbonato. “É exatamente o mesmo que acontece no nosso estômago quando tomamos um antiácido”, compara Adkins. “É como um antiácido para o oceano.”
O CO2 que removemos hoje é muito mais importante do que o que removeremos em 10 ou 20 anos.
Adkins, um oceanógrafo químico, passou uma década estudando a ciência básica de como funciona o processo natural. Percebeu então que seria possível acelerar esse processo com um reator para ajudar a combater o aquecimento global.
Nos navios, o sistema vai usar um “depurador” para capturar o CO2 do exaustor de diesel. De lá, o CO2 vai para um reator junto com calcário e água do mar. A água passa pelos reatores, convertendo o CO2 em algo seguro e permanente.
Embora a tecnologia ocupe um espaço que poderia ser usado para carga, a startup acredita que esta será a forma mais barata de descarbonização para as empresas de transporte marítimo.
Como o CO2 é convertido em cálcio e bicarbonato, não há risco de que ele escape de volta para a atmosfera. O produto final pode ser liberado no oceano, de modo que o navio não precisa de espaço extra para armazenar o carbono capturado. Como o processo acontece em um reator, é possível monitorar quanto CO2 é convertido.
Cerca de 90% do CO2 pode ser removido do "escapamento" do navio. Metade é transformado em bicarbonato e o resto vai para o mar, onde a maior parte provavelmente será convertida pelo processo natural. O sistema também remove enxofre, outro grande poluente.
A startup testou protótipos da tecnologia básica em terra e comprovou que funciona. Agora, a companhia de navegação Lomar, em parceria com a Calcerea, vai desenvolver ainda mais o sistema. O último protótipo será testado em um dos navios da empresa no final deste ano ou no início de 2025.
A tecnologia não substitui alternativas que podem evitar completamente os combustíveis fósseis e eliminar outros problemas, como a pegada de carbono da produção de diesel. Mas é uma maneira barata de reduzir significativamente as emissões.
“O CO2 que removemos hoje é muito mais importante do que o que removeremos em 10 ou 20 anos”, afirma Adkins. “Fazer com que uma indústria que emite um gigatonelada por ano comece a removê-lo agora é muito melhor para o clima do que esperar que surjam combustíveis alternativos.”