Sua empresa não cumpriu a meta climática? Conte para todo mundo

Algumas empresas não alcançarão suas metas de carbono zero. O que fazer quando isso acontece?

Créditos: Fernando Paredes Murillo/ Simon Lee/ Leonel Cuevas/ Unsplash

Matt Paver 4 minutos de leitura

Nos últimos anos, tornou-se uma prática comum estabelecer metas corporativas, como “zerar as emissões líquidas até 2030” e “reduzir a pegada de carbono pela metade”. Depois de criá-las, as empresas naturalmente buscam capitalizar seus esforços de sustentabilidade comunicando-os ao público.

Promover compromissos com a sustentabilidade pode ser algo positivo: a concorrência se sente pressionada a seguir o exemplo, os consumidores podem cobrar ações e mais pessoas passam a discutir caminhos para a neutralidade de carbono. No entanto, cada vez mais vemos empresas fracassando em sua busca pela sustentabilidade.

A Nestlé teve que voltar atrás em sua meta de se tornar neutra em carbono. A Crocs adiou a sua em uma década. E tanto a Fifa quanto a Apple foram criticadas por alegações exageradas.

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Algumas dessas metas foram prejudicadas pelo excesso de confiança na compensação de carbono e, à medida que mais estudos revelam sua ineficácia, é provável que mais empresas recuem diante da pressão. Então, o que acontece quando o risco para a reputação supera os benefícios de se tornar mais verde?

Algumas empresas adotaram a estratégia de “greenhushing” (não divulgar suas ações ambientais para se protegerem de possíveis reações negativas), enquanto outras podem simplesmente pausar iniciativas. Mas a crise climática é muito urgente para que o progresso pare dessa maneira.

O caminho para a neutralidade de carbono é um território desconhecido, e erros certamente serão cometidos. O que deve importar mais é como as empresas comunicam seus fracassos e corrigem o curso de suas ações. Veja como “compensar” falhas:

1. Aposte em transparência

Quando a empresa não consegue cumprir suas metas de sustentabilidade, é crucial ser transparente. Embora possa parecer contraditório, já que isso pode gerar reações negativas, é preciso resistir ao impulso de se manter em silêncio. Ignorar o problema não ajudará a reconquistar a confiança dos consumidores ou dos investidores.

Algumas empresas adotaram a estratégia de “greenhushing”, ou seja, não divulgar suas ações ambientais para se protegerem de possíveis reações negativas.

Em vez disso, é melhor detalhar quais metas não foram cumpridas (e quais estão sendo revisadas), com uma explicação dos principais motivos. A Crocs, por exemplo, atribuiu seu tropeço na neutralidade de carbono, em grande parte, à aquisição da empresa de calçados HeyDude no ano passado, explicando que isso não teria como ter sido considerado quando as metas originais foram estabelecidas em 2021.

Apresentar detalhes também pode dar às empresas a oportunidade de lembrar o público das metas que ainda serão alcançadas. No início deste ano, a Crocs divulgou que seu compromisso de reduzir pela metade a pegada de carbono do Classic Clogs (seu carro-chefe) até 2030 ainda está de pé e foi estendido para alguns produtos HeyDude.

Dessa forma, a marca explicou publicamente seu fracasso e começou a se concentrar na causa – no caso, emissões herdadas por conta de uma aquisição.

2. Seja realista

Qualquer empresa que reduza suas metas de neutralidade de carbono precisa apresentar um cronograma sólido, respaldado por dados. Assim, ela pode explicar como a estratégia revisada é, na verdade, uma abordagem mais concreta para resolver um problema com o qual está totalmente comprometida. Sem clareza sobre os próximos passos, corre o risco de parecer evasiva ou de descumprir compromissos.

Ignorar o problema não ajudará a reconquistar a confiança dos consumidores ou dos investidores.

Uma parte crucial da definição de metas realistas é se acostumar com conquistas menores e, ao mesmo tempo, construir uma estratégia mais ampla de emissões líquidas zero. Embora atingir a “neutralidade de carbono até 2050” possa ser o objetivo final, as empresas devem estabelecer e alcançar metas a curto prazo.

Ter metas menores e mais administráveis para os próximos 12 meses, ou dois a três anos, não somente as ajudará a permanecer no caminho certo, mas também fornecerá atualizações que podem ser compartilhadas com o público para restaurar a confiança.

3. Não seja pego de surpresa novamente

Não cumprir metas de carbono representa um grande risco para a reputação da marca, para as perspectivas de investimento e para o planeta. Isso nunca deve pegar as empresas de surpresa. Se metas irrealistas foram adotadas, provavelmente é porque não houve uma preocupação em criá-las com base em dados. Sem isso, é impossível avaliar o progresso, antecipar áreas de risco ou prever fracassos.

Qualquer empresa que reduza suas metas de neutralidade de carbono precisa apresentar um cronograma sólido, respaldado por dados.

Dados são a ferramenta mais valiosa que uma empresa pode ter quando se trata de estabelecer e alcançar metas de carbono líquido zero. Ter um meio de medir o sucesso das mudanças implementadas é fundamental. Realizar auditorias internas regulares do progresso em direção à neutralidade de carbono ajudará a antecipar problemas no cumprimento das metas e dará tempo para comunicar quaisquer mudanças de direção.

Empresas que foram pegas de surpresa por seu fracasso devem priorizar a coleta e maturação de dados. Sem isso, não serão sequer capazes de identificar onde suas metas deram errado.


SOBRE O AUTOR

Matt Paver é COO da consultoria de gerenciamento de emissões de carbono Carbon Responsible. saiba mais