Surge uma nova alternativa de material de construção: grama

Startup está usando fibras de grama de crescimento rápido, no lugar da madeira

Crédito: Plantd

Adele Peters 3 minutos de leitura

Depois de ter lançado uma startup de móveis sustentáveis durante a pandemia, o empreendedor Josh Dorfman viu o preço da madeira disparar. Quando ficou mais difícil encontrar madeira de alta qualidade, ele começou a se perguntar quais materiais alternativos poderiam ser usados.

Com esse problema na cabeça, Dorfman entrou em contato com dois ex-engenheiros da SpaceX que estavam interessados em alternativas à madeira por outro motivo: eles viram uma oportunidade de repensar os materiais da construção civil para acelerar a captura de carbono em larga escala.

As árvores absorvem CO2 enquanto estão crescendo. Mas o que eles notaram foi que as gramíneas de crescimento rápido conseguem capturar ainda mais CO2 – e podem ser transformadas em painéis estruturais usados para construir casas.

Crédito: Plantd

“Não precisamos ficar presos à ideia de plantar árvores”, diz Huade Tan, que já ajudou a desenvolver espaçonaves na SpaceX.

Dorfman, Tan e Nathan Silvernail, um colega engenheiro da SpaceX, fundaram a startup de materiais de construção Plantd, com o objetivo de trazer os novos produtos ao mercado. A empresa acaba de levantar US$ 10 milhões financiamento da Série A.

A Plantd usa um tipo alto de grama perene, capaz de crescer de seis a nove metros em um ano, absorvendo até 30 toneladas de carbono. “Nosso objetivo é retirar o carbono da atmosfera o mais rápido possível e capturá-lo”, diz Dorfman.

Crédito: Plantd

Enquanto um pinheiro cultivado em uma plantação manejada só pode ser derrubado após 15 anos, essa grama pode ser colhida até três vezes em uma estação e continua crescendo novamente. Como pode ser cultivada com mais facilidade, a grama também tem potencial para ajudar a evitar escassez na cadeia de suprimentos.

A equipe está desenvolvendo um equipamento próprio automatizado, modular e totalmente elétrico. Ele  é capaz de rasgar a fibra da grama e juntá-la novamente, para formar os painéis estruturais usados em paredes, telhados e contrapisos na construção.

Assim como a madeira, a grama contém fibras fortes de celulose. Ela pode ser manipulada de maneira semelhante à forma como as fábricas produzem madeira compensada.

Mas a startup está projetando equipamentos personalizados, com o intuito de aumentar a qualidade do produto final, manter os custos baixos e diminuir a pegada de carbono da produção. A fábrica também pretende produzir madeira laminada para edifícios maiores, para substituir o aço e o concreto com alto teor de carbono.

Crédito: Plantd

Em termos de custo, os produtos têm potencial para competir com painéis de madeira, dizem os fundadores, com as vantagens de serem mais fortes, mais leves e mais resistentes à umidade.

“Aproveitamos todas as oportunidades de reter o máximo de carbono, além de fabricarmos um produto superior ao que existe hoje. Fazemos isso de um jeito que o cliente final ainda pode construir exatamente da mesma maneira...  Não precisam mudar seus projetos em nenhum aspecto", afirma Dorfman.

Crédito: Plantd

No final do ano, um agricultor começará a plantar hectares de grama para a empresa. Por motivos de propriedade industrial, a equipe se recusou a compartilhar o nome da espécie de planta.

Dorfman afirma que já há interesse de outros agricultores. “A Carolina do Norte, onde estamos localizados, é a região do tabaco. Mas os produtores de tabaco não querem mais cultivar tabaco.” Eles estão em busca de uma cultura mais sustentável ambiental e economicamente, diz ele.

Se a empresa for bem-sucedida, poderá ajudar a diminuir a área de cultivo de árvores, abrindo espaço para florestas naturais de longo prazo crescerem novamente em seu lugar de origem.

“Em grande escala, o que isso nos permitirá fazer é reduzir a forma como a terra vem sendo usada para fazendas de monoculturas de árvores”, prevê Dorfman.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais