Teleféricos urbanos podem ser uma boa solução de transporte sustentável
Frequente, rápida e confiável, alternativa de transporte coletivo está sendo adotada em várias cidades pelo mundo
Em países como Colômbia, Alemanha, Turquia e Argélia, os teleféricos estão sendo reconhecidos como um grande avanço para o transporte público urbano. Na Bolívia, por exemplo, estudos mostram que a implementação desse sistema de transporte em massa ampliou o acesso à escola para alunos de baixa renda e reduziu a segregação socioeconômica entre escolas.
No Rio de Janeiro, o teleférico do Complexo do Alemão passa por reforma e deve voltar a operar no final de 2025. O transporte funcionou entre 2011 e 2016, com uma linha de 3,5 km de extensão e integração com o sistema ferroviário. A operação foi interrompida devido à falta de pagamento ao consórcio operador e ao desgaste de um dos cabos de tração.
Embora possam parecer uma escolha incomum para cidades, os teleféricos são uma alternativa que oferece um transporte altamente frequente, rápido (não para em semáforos ou enfrenta congestionamentos) e confiável – três fatores que, segundo pesquisas, influenciam diretamente na escolha das pessoas pelo transporte público em vez do carro particular.
Movidos a energia elétrica, os teleféricos utilizam a rede de energia local, que pode incluir fontes renováveis, como solar e eólica. Além disso, são altamente eficientes: não desperdiçam energia com paradas bruscas no trânsito, não dependem de baterias para armazenamento e eliminam o chamado “tempo morto” – aquele intervalo no qual os ônibus circulam vazios para retornar às garagens.
Esse tipo de sistema pode ser ainda mais simples: em Friburgo, na Suíça, existe um funicular movido por águas residuais. A água é adicionada ao tanque da cabine que desce a montanha, aumentando seu peso e gerando a força necessária para puxar a outra cabine para cima.
Outro ponto positivo é que os teleféricos não dependem de minerais como lítio e cobalto, usados em baterias. A crescente demanda por veículos elétricos pode levar a um aumento significativo na mineração desses recursos, colocando em risco ecossistemas vulneráveis, ameaçando a biodiversidade e intensificando conflitos geopolíticos.
MENOS ESPAÇO, MENOS POLUIÇÃO
A expansão do transporte público é essencial para alcançar as metas climáticas, ao mesmo tempo em que reduz os impactos ambientais da mineração.
Os benefícios dessa alternativa já estão sendo reconhecidos: em Medellín, na Colômbia, o sistema MetroCable recebeu financiamento do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da ONU por sua contribuição na redução de emissões de carbono.
Em cinco anos, suas três linhas geraram apenas 22.250 toneladas de CO2 – cerca de 30% das emissões que outros meios de transporte produziriam no mesmo período.
Outro benefício dos teleféricos é sua ocupação mínima de espaço urbano. Enquanto as ruas são disputadas por ciclovias, calçadas, ônibus, carros e estacionamentos, eles operam acima do solo, exigindo apenas pequenas áreas para torres e estações. Isso reduz custos, acelera a construção e evita disputas por espaço.
Se bem planejados, esses sistemas podem atender tanto pessoas que dependem do transporte público quanto aquelas que possuem carros, integrando diferentes públicos. O Othering and Belonging Institute promove a abordagem de universalismo direcionado, que define metas abrangentes enquanto considera as necessidades específicas de cada grupo.
Diante dos problemas no transporte urbano e da crise climática, é fundamental investir em sistemas de transporte público de qualidade, movidos por energia renovável e capazes de atrair mais usuários.
Embora veículos elétricos sejam importantes no combate às mudanças climáticas, sua adoção descontrolada pode agravar problemas como a mineração de lítio, além de não resolver questões como congestionamentos, segurança de pedestres e desigualdades sociais.
Como questiona o relatório Mais Mobilidade, Menos Mineração: “como garantir que a transição para energias renováveis não crie novas zonas de sacrifício, nas quais ecossistemas são destruídos, direitos humanos são violados e conflitos sociais são exacerbados em nome da luta contra a crise climática?”.
Um dos caminhos para um futuro urbano sustentável é, sem dúvida, investir em sistemas de teleféricos.
Esta artigo foi publicado originalmente pela “Next City”, um veículo sem fins lucrativos que cobre soluções para cidades.
Com informações da redação da Fast Company Brasil