A temperatura sobe (ou cai), a tinta muda de cor e você economiza energia
A tinta branca reflete calor. A tinta preta absorve. Mas essa nova tinta pode fazer as duas coisas, resultando em uma economia de energia de 20 a 30% por ano

A cor da sua casa é importante não só por motivos estéticos, mas também por questões de conforto e de eficiência energética. Um grande número de estudos mostra que pintar as construções de branco (que reflete o calor) pode deixá-las mais frescas e pintá-las de preto (que absorve calor) pode aquecê-las.
Por isso, muitas casas na Grécia são brancas, e em boa parte da Escandinávia, muitas são pretas. Mas e no resto do mundo, onde as temperaturas costumam mudar com as estações?
Pensando nesse problema, o designer industrial Joe Doucet desenvolveu o que ele chama de tinta adaptável ao clima. Ela tem a capacidade de mudar de cor dependendo da temperatura externa.
A fórmula é uma inovação da tinta termocrômica e segue o mesmo princípio daqueles anéis de humor que eram febre nos anos 1990. Só que, em vez de mudar a cor de uma bijuteria, é a fachada inteira de um prédio que muda.
Se a temperatura externa estiver abaixo de 25ºC, ele fica preto. Se estiver acima de 25ºC, fica branco. Ou seja, é uma tinta que mudar de cor com o passar das estações do ano – uma tinta adaptável ao clima.
A fórmula pode ser misturada com outras cores. Se você quiser uma casa azul, por exemplo, ela ficaria azul claro no verão e azul escuro no inverno. Doucet estima que pintar uma construção com essa tinta que muda de cor de acordo com o clima pode economizar, em média, de 20% a 30% nos custos de energia.
Uma tinta adaptável ao clima poderia fazer a diferença para casas e prédios de apartamentos, mas também para grandes instalações industriais, como fazendas e armazéns climatizados, que, de outra forma, precisariam recorrer ao ar-condicionado ou a sistemas de aquecimento para manter a temperatura desejada.
“É caro aquecer e esfriar uma estrutura grande, então qualquer coisa que você possa fazer para mitigar esse custo faz sentido comercialmente”, diz Richard Hinzel, parceiro e diretor-geral da Joe Doucet & Partners.
Doucet teve a ideia da tinta adaptável ao clima quando reformava sua própria casa em Nova York. “Deixei para decidir a cor porque queria entender como ela interfere em termos de consumo de energia”, ele lembra.
O designer construiu dois modelos em escala de sua casa, com o mesmo tipo de material de isolamento que usou na construção real. Pintou o primeiro modelo de preto e o segundo, de branco.
Durante um ano, o designer mediu a temperatura da superfície da parte de fora e de dentro de ambos os modelos e descobriu que, em estações como o verão e o inverno, as temperaturas entre os dois variavam até 7ºC.
No verão, a casa branca estava até 7ºC mais fria por dentro do que a casa preta, enquanto no inverno, a casa preta estava 4ºC mais quente por dentro. Ele diz que o oposto também é verdade: a casa preta estava 7ºC mais quente no verão e branca, 4ºC mais fria no inverno.

No final do experimento, ele percebeu que a resposta para sua pergunta inicial – de que cor pintar a casa? – seria pintá-la de preto no inverno e de branco no verão. Mas isso não seria uma solução muito prática.
COMO CRIAR UMA TINTA ADAPTÁVEL AO CLIMA
A solução mais prática – uma tinta que consiga fazer os dois ao mesmo tempo – levou dois anos para ser desenvolvida e mais de 100 modelos para os técnicos acertarem a fórmula.
A equipe usou tinta látex comum como base e misturou com a fórmula que eles criaram. Mas criar uma fórmula que conseguisse sustentar a transição do claro para o escuro sem degradar foi difícil.
Se você já teve óculos com lentes de transição que ficaram “presos” no modo escuro e nunca voltaram ao estado claro, então entende o problema. Se a tinta degrada muito rápido e é preciso repintar a casa todo mês, ninguém vai querer.

As primeiras fórmulas estavam degradando muito rápido, mas a equipe acabou criando uma “fórmula secreta” que ajuda a tinta a durar pelo menos um ano sem degradação. É um número baseado no tempo que Doucet tem testado a tinta em seu estúdio.
A tinta adaptável ao clima ainda não passou por testes rigorosos em laboratórios, então ainda existem muitas incógnitas. A ideia é licenciar a fórmula para fabricantes de tintas que, a partir daí, a levariam para a linha de produção e lançariam no mercado.

Se a ideia fizer sentido e as empresas entrarem na onda, elas terão que desenvolver um produto competitivo que seja durável e tenha um preço adequado.
Por enquanto, Doucet estima que a tinta adaptável ao clima custará de três a cinco vezes mais do que um galão de tinta padrão, embora argumente que o consumidor recuperaria rapidamente esse custo com a economia de energia.
Enquanto isso, Doucet terminou a reforma de sua casa e optou pela tinta preta. “Não consegui esperar”, conta, dando uma risada.