Trabalhar perto de casa pode reduzir emissões de CO2 em até 90%

Uma nova pesquisa analisou diferentes cenários e concluiu que locais de trabalho mais próximos ao local de moradia têm uma pegada de carbono muito menor

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Adele Peters 3 minutos de leitura

Muita gente gostaria de poder ir de casa para o trabalho andando ou de bicicleta, num trajeto curto até um local não muito longe – distante o suficiente para nos afastar das distrações do home office mas não tanto a ponto nos obrigar a passar horas no trânsito ou no transporte coletivo.

Para aqueles que defendem que as empresas adotem pontos de trabalho remoto, aqui vai outro bom argumento em favor dessa ideia: isso pode ajudar a reduzir as emissões de carbono.

Cidades como Paris querem proporcionar mais oportunidades de trabalhar perto de casa como parte de seu plano de se tornarem “cidade de 15 minutos”.

Um novo estudo analisou diferentes cenários de trabalho: a semana tradicional de cinco dias de deslocamento para um ponto no centro da cidade; um esquema de alguns dias de trabalho presencial por semana; e um arranjo no qual a pessoa vai até um escritório local (como um espaço de coworking ou uma filial da empresa) distante não mais do que 15 a 20 minutos de casa.

A comparação foi feta não só em termos de emissões de carbono dos meios de transporte, mas também em relação à quantidade de energia usada em cada uma dessas instalações. Locais de trabalho perto de casa apresentaram uma pegada de carbono até 90% menor do que trabalhar todos os dias na matriz da empresa em um centro urbano.

A empresa de design e engenharia Arup realizou o estudo em parceria com a IWG, uma companhia que cria espaços de coworking e escritórios compartilhados em várias partes do mundo – e, é claro, tem interesse direto nessa questão.

“A verdade é que muita gente está optando por escritórios próximos de onde moram – um número que vem crescendo mês a mês”, diz o CEO da IWG, Mark Dixon. A empresa viu sua receita crescer 24% no ano passado e planeja abrir cerca de mil novas instalações até 2024.

Segundo Dixon, a demanda vem crescendo conforme os contratos de aluguel corporativo de longo prazo vão chegado ao fim e as empresas começam a oferecer alternativas mais flexíveis de esquema de trabalho. Algumas cidades, como Paris, querem ainda proporcionar aos moradores mais oportunidades de trabalhar perto de casa como parte de seu plano de se tornarem “cidade de 15 minutos”.

CADA CASO É UM CASO

Outra pesquisa recente mostrou que, nos Estados Unidos, cerca de 12% dos funcionários atualmente trabalham de casa em tempo integral, 60% vão todo dia ao escritório e 28% têm um esquema de trabalho híbrido.

O estudo pesquisou uma amostra de seis cidades e descobriu que o benefício, em termos ambientais, do regime híbrido de trabalho depende da cidade. Uma metrópole dependente do automóvel como Los Angeles, o impacto do deslocamento é três vezes maior do que em Londres, onde muita gente usa o transporte público.

Em Los Angeles, uma mudança desse tipo poderia reduzir as emissões de gás carbônico em até 87%.

O nível de emissões no melhor cenário possível para Los Angeles – no qual as pessoas trabalhassem perto de onde moram – seria parecido com o nível de emissões do pior cenário possível em Londres.

Em Los Angeles, uma mudança que implicasse abandonar o atual esquema de deslocamento por um em que as pessoas trabalhassem perto de casa poderia reduzir as emissões de gás carbônico em até 87%.

Trocar o processo de deslocamento atual por uma combinação de home office, escritório local e eventuais idas à matriz geraria redução de cerca de 79%nas emissões. Em Atlanta, o corte seria de 90% se mais pessoas passassem a trabalhar perto de casa.

O impacto depende ainda das particularidades de cada local. O estudo usou as taxas de ocupação das instalações da IWG – que, no momento, são muito maiores do que as de prédios de escritórios tradicionais – para calcular a energia gasta por pessoa. A conclusão foi de que a quantidade é bem menor em espaços “não-tradicionais”.

O estudo não comparou cenários nos quais o trabalho seria 100% remoto. Mas outras pesquisas mostram o quão complicadas as coisas podem ser. Quando a pessoa trabalha de casa, o consumo de energia da residência aumenta – para citar um exemplo. Além disso, se o trabalhador passa a usar o transporte público, o carro fica liberado para ser usado em outras horas do dia, piorando o trânsito.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais