Turbinas que sugam carbono: o futuro da aviação?

Companhias aéreas estão começando a comprar o combustível de aviação neutro em carbono desenvolvido pela Air Company

Crédito: Air Company/ rawpixel.com

Adele Peters 4 minutos de leitura

No mês passado, um drone da força aérea norte-americana decolou em um voo de teste promissor: ele havia sido abastecido com um novo tipo de combustível, feito com CO2 capturado e energia renovável. O combustível testado se parece com os combustíveis de aviação padrão e age de forma semelhante, mas sua queima é neutra em carbono.

A Air Company, startup sediada em Nova York que criou o combustível, está desenvolvendo agora sua primeira unidade de produção comercial para esse novo produto. “A indústria da aviação, para nós, é realmente interessante, porque é uma das mais difíceis de descarbonizar”, diz Gregory Constantine, CEO e cofundador da Air Company.

Stafford Sheehan e Gregory Constantine, cofundadores da Air Company (Crédito: Air Company/ Divulgação)

Algumas startups estão desenvolvendo aviões elétricos, mas, no momento, tal tecnologia só é viável em pequenas aeronaves e em voos curtos. Outras estão projetando aviões que podem funcionar com células de combustível de hidrogênio, mas isso também significa que as aeronaves precisariam ser redesenhadas.

A vantagem do combustível à base de CO2, diz Constantine, é que ele pode ser usado nos aviões atuais, sem a necessidade de uma nova engenharia. “O benefício do produto que conseguimos criar é que ele é 100% pronto para o uso. Portanto, nenhuma mudança precisa ser feita nos motores já existentes.”

A Air Company, que trabalha desde 2017 na tecnologia de conversão de CO2, usa energia renovável para produzir hidrogênio a partir da água e depois adiciona o hidrogênio a um reator com CO2 capturado de usinas de etanol.

“Podemos pegar esses fluxos totalmente puros de CO2 antes de serem emitidos para a atmosfera e utilizá-los em nosso processo”, explica Constantine. Em uma única etapa, o CO2 pode ser transformado em combustível de aviação. É, basicamente, uma versão mais eficiente do que as plantas fazem na fotossíntese, com o oxigênio sendo o único subproduto.

Como a empresa usa CO2 de instalações de etanol, e esse etanol é feito de plantas que capturaram CO2 à medida que crescem, o combustível é neutro em carbono quando usado. À medida que o custo da “captura direta do ar”, ou sucção de CO2 do ar, diminui, esse CO2 capturado também pode ser usado para produzir o combustível.

Neste momento, “temos um monte de poluidores por aí que estão apenas emitindo dióxido de carbono concentrado diretamente para a atmosfera”, diz Stafford Sheehan, cofundador e CTO da Air Company. “Portanto, é mais eficiente em termos de energia e carbono simplesmente pegarmos e usarmos esses fluxos concentrados.” Quando esse problema for mitigado, diz ele, a empresa se voltará para a captura direta de ar.

Crédito: Air Company/ Divulgação

Atualmente, a aviação é responsável por 2% a 3% das emissões globais de CO2. A indústria pretende atingir zero emissões líquidas até 2050, mas planeja comprar compensações e pagar pela captura de carbono por cerca de 20% dessas emissões, em vez de eliminá-las diretamente.

Embora seja provável que algumas compensações sejam necessárias, prevê Constantine, “investimentos significativos nesse setor podem reduzir esse número para muito menos de 20% e acelerá-lo, para que isso aconteça antes de 2050”. Outras startups, como a Twelve e a Dimensional Energy, também estão correndo para produzir combustível de aviação a partir do CO2 usando diferentes abordagens tecnológicas.

Crédito: Air Company/ Divulgação

O combustível de aviação sustentável “tem o potencial de alcançar a viabilidade comercial em grande escala – um divisor de águas para nossa indústria reduzir significativa e rapidamente nossas emissões”, comemora Sara Bodgan, diretora de sustentabilidade da JetBlue, que já se comprometeu a comprar 95 milhões de litros do novo combustível da Air Company nos próximos cinco anos.

Essa compra faz parte do compromisso da própria empresa de atingir zero emissões líquidas até 2040, uma década antes do setor como um todo. No longo prazo, a companhia aérea também vê potencial para aviões elétricos e a hidrogênio, segundo Sara.

“O objetivo é realmente mudar a indústria de energia, fazendo com que ela deixe de ser baseada em combustíveis fósseis para ser baseada em combustíveis que, de diversas formas, são feitos de dióxido de carbono”, acrescenta Sheehan.

“A escala potencial é enorme, é global. Obviamente, levará muito tempo para alcançarmos nossa meta final, porque a indústria de combustíveis fósseis construiu sua infraestrutura ao longo de mais de 180 anos... Não é algo que vai ser mudado da noite para o dia.  Mas podemos adotar agora as medidas para tornar isso uma realidade.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais