Um substituto para caminhões: vagões de carga que viajam sem condutor

Startup converte vagões de trem para funcionar autonomamente com baterias, o que reduz consideravelmente as emissões

Crédito: Intramotev

Adele Peters 3 minutos de leitura

Todos os dias, milhões de vagões ficam parados nos pátios ferroviários, esperando para serem acoplados a trens longos. Mas uma startup chamada Intramotev quer aproveitá-los com mais eficiência: a tecnologia da empresa converte individualmente vagões de carga, para que eles funcionem com baterias, permitindo que eles andem sozinhos.

Essa flexibilidade poderia ajudar o transporte ferroviário a substituir muitas das remessas que atualmente são feitas por caminhões, reduzindo substancialmente a poluição.

"Quando se olha para o transporte de mercadorias feito por caminhões, ele foi otimizado em termos de velocidade e flexibilidade. Mas se paga um preço cinco a dez vezes mais alto por isso e se tem nove vezes mais emissões de gases de efeito estufa do que com o transporte ferroviário tradicional", explica Timothy Luchini, cofundador e CEO da Intramotev.

Segundo ele, a conversão de apenas 1% do transporte feito por caminhões para o transporte ferroviário usando a nova tecnologia poderia eliminar 4,4 milhões de toneladas de CO2 por ano.

Crédito: Intramotev

Em alguns países, as ferrovias costumam usar trens de três a cinco quilômetros de comprimento, porque é mais econômico. Mas isso significa que "é preciso esperar até que se tenha três quilômetros de material que possa ser transportado em conjunto.

O transporte ferroviário é mais barato e melhor para o meio ambiente do que o rodoviário, mesmo quando o trem funciona a diesel. Mas é uma forma muito mais lenta de se fazer uma entrega.

a conversão de 1% do transporte feito por caminhões para o ferroviário poderia eliminar 4,4 milhões de toneladas de CO2 por ano.

A nova tecnologia, chamada TugVolt, acrescenta baterias, sensores, motor e sistema de transmissão a um vagão comum e possibilita a movimentação rápida e econômica de um contêiner de mercadorias nos trilhos disponíveis.

É claro que essa solução não tem como substituir todas as viagens de caminhão, pois os vagões só podem circular em ferrovias. Mas vagões autônomos poderiam substituir os deslocamentos de caminhões entre portos e armazéns e entre algumas empresas.

Os primeiros clientes da Intramotev – que faz parte de um novo grupo da aceleradora Ignite, da Intel – são empresas de mineração que já usavam trens para transportar materiais como lítio e podem economizar dinheiro usando vagões autônomos.

Crédito: Intramotev

O modelo básico pode percorrer cerca de 160 quilômetros antes de ser recarregado. Uma versão de maior alcance pode percorrer 600 quilômetros. "Os veículos ficam em movimento na maior parte do tempo, logo, precisamos de menos deles", explica Luchini.

Quando se dimensiona isso para vários milhões de toneladas de material indo de uma mina para um centro de processamento, isso representa uma enorme redução de custos. "Os clientes costumam gastar US$ 50 milhões ou mais por ano somente com o diesel usado nessa rota circular", diz o empreendedor.

O transporte ferroviário é mais barato e melhor para o meio ambiente, mesmo quando o trem funciona a diesel.

A tecnologia elimina o "green premium" (o custo adicional da produção livre de poluição) para que as empresas mudem para o transporte de baixa emissão. Além disso, é muito mais barato eletrificar um vagão de trem do que um trem completo.

Os caminhões elétricos também enfrentam desafios devido ao tamanho das baterias necessárias e à distância que conseguem percorrer antes de precisar recarregar. Eles causam ainda outros problemas, inclusive o aumento do congestionamento nas cidades e a ocorrência de acidentes fatais.

Crédito: Intramotev

"Conseguiremos transportar 100 toneladas de carga útil por 160 quilômetros com 100 quilowatts-hora de bateria", diz Luchini. "Isso significa que podemos fazer com que um veículo com três vezes e meia o peso de um carro de passeio percorra 160 quilômetros com uma bateria do tamanho das de um carro da Tesla."

Outra parte do sistema da empresa, chamada ReVolt, permite que os vagões elétricos sejam acoplados a trens mais longos, de modo que possam viajar para uma cidade a outra de se separarem por conta própria para concluir a viagem até um destino próximo.

Se for integrado a um trem, o vagão ainda pode ajudar a reduzir as emissões, recarregando as baterias sempre que o trem mais longo frear. "Hoje, a força de frenagem é transformada em calor e, portanto, é energia desperdiçada", explica Luchini.

Os primeiros clientes do setor de mineração estão usando a tecnologia em suas próprias linhas ferroviárias privadas, mas em breve ela poderá ser usada em redes maiores e interconectadas.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais