Uma nova era na arquitetura: edificações construídas com raízes de fungos

O resultado? Uma estrutura que parece uma mistura de tenda com um pedaço de pão mofado

Crédito: Hub for Biotechnology in the Built Environment

Nate Berg 3 minutos de leitura

Recentemente, pesquisadores do Reino Unido concluíram um protótipo de uma estrutura feita a partir do crescimento do micélio fúngico dentro de uma forma de tecido. Ela se parece com uma cúpula em formato de tenda, com mais de 1,8 metro de largura, e demonstra que os fungos podem levar o design arquitetônico a caminhos completamente inovadores.

Batizado de BioKnit, o sistema foi criado inserindo micélio (a rede de ramificações que dá sustentação ao fungo) e serragem em uma forma de tecido feito de lã e linho, que serviu como guia para o crescimento do fungo.

Após atingir uma densidade específica e passar por um processo de secagem, o micélio preenche a estrutura e endurece, criando uma construção experimental moderadamente resistente, que lembra uma mistura de tenda com pedaços de pão mofado.

Crédito: Hub for Biotechnology in the Built Environment

O projeto foi liderado pelo Grupo de Pesquisa em Têxteis Vivos no Hub de Biotecnologia em Ambientes Construídos da Universidade de Newcastle, na Inglaterra.

Jane Scott, membro do grupo de pesquisa, e Romy Kaiser, estudante de doutorado, explicam que os têxteis têm excelente biocompatibilidade com sistemas microbianos e que a pegada de carbono da estrutura é muito menor em comparação com uma feita com materiais de construção convencionais.

O micélio está sendo cada vez mais visto por pesquisadores como um biomaterial promissor para a construção. Estudos anteriores demonstraram que ele pode ser cultivado em formas semelhantes a tijolos e utilizado na construção de estruturas, embora a maioria seja experimental ou obras de arte.

Outros materiais de origem vegetal, como cânhamo, têm sido utilizados para criar materiais de construção similares e componentes, como painéis de isolamento.

Crédito: Hub for Biotechnology in the Built Environment

Embora sejam menos resistentes do que tijolos convencionais, eles têm um menor impacto ambiental. Em vez de serem produzidos em fornos, os biomateriais, como os tijolos de cânhamo e micélio, são curados ou secados naturalmente.

Os pesquisadores ressaltam que a construção com biotijolos tem algumas desvantagens, como possíveis pontos fracos e a necessidade de materiais de marcenaria adicionais.

No caso do protótipo BioKnit, a estrutura cresceu dentro de uma forma de tecido, criando um material contínuo, sem juntas. Eles também descobriram que usar um molde de tecido a tornava ainda mais resistente do que usar apenas os tijolos de micélio.

O micélio está sendo cada vez mais visto por pesquisadores como um biomaterial promissor para a construção.

“A grande vantagem da tecnologia de tecelagem em comparação com outros processos têxteis é a possibilidade de criar estruturas e formas 3D sem costuras e sem desperdício”, explicam Scott e Kaiser.

“O crescimento como método de construção nos permite repensar muitos dos processos tradicionais, como produzir no local, reduzir o transporte de peças para montagem e desenvolver práticas sustentáveis.”

O BioKnit é visto como um campo de testes para o uso do micélio em estruturas que não suportam peso e também como isolante ou revestimento flexível. Além disso, o trabalho tem como objetivo mostrar que formas baseadas em tecido podem ser utilizadas para criar novos tipos de arquitetura.

“A possibilidade de produzir novas geometrias, superfícies curvas e formas orgânicas é muito atraente”, escrevem Scott e Kaiser.

Crédito: Hub for Biotechnology in the Built Environment

A equipe já está explorando esse conceito. Recentemente, eles concluíram outro projeto usando a mesma abordagem, focando em superfícies curvas e formas orgânicas.

A “Living Room” é uma pequena estrutura em formato de caverna feita de lã, na qual o micélio cresceu e endureceu. Tem quase quatro metros de diâmetro e não requer suporte.

Como bônus, toda a estrutura lembra um pouco um cogumelo cantarelo invertido, aprofundando ainda mais sua conexão com as raízes naturais desse novo e inovador material de construção.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais