Veículos elétricos são uma solução que acabará causando mais problemas

Toda solução promissora tem suas contrapartidas, e os veículos elétricos não são uma exceção

Crédito: Kindel Media/ Pexels

Vince Beiser 4 minutos de leitura

Toda solução promissora vem acompanhada de desafios, e os veículos elétricos não fogem à regra. Eles resolvem o problema da poluição por carbono dos veículos movidos a gasolina, mas a cadeia produtiva dos metais essenciais para sua fabricação (assim como nos painéis solares, turbinas eólicas e outros eletrônicos) traz novos dilemas. Por isso, reduzir o consumo continua sendo fundamental, mesmo quando falamos de energia renovável.

A seguir, Vince Beiser, escritor e jornalista premiado, compartilha cinco insights de seu novo livro “Power Metal: The Race for the Resources That Will Shape the Future” (Power Metal: a corrida pelos recursos que vão moldar o futuro).

1. Veículos elétricos ajudam o clima, mas prejudicam o planeta

Para extrair lítio, cobalto, níquel e outros metais necessários para fabricar veículos elétricos, florestas tropicais estão sendo devastadas, rios contaminados e crianças colocadas para trabalhar em minas. Enquanto alguns enriquecem, muitas vidas humanas são perdidas.

Embora dirigir um carro elétrico não gere emissões de carbono, sua produção causa danos consideráveis ao meio ambiente e às pessoas. E o impacto não para por aí. Os mesmos metais críticos usados nesses veículos também são essenciais para a fabricação de painéis solares e turbinas eólicas, além de estarem presentes em nossos dispositivos, de celulares a consoles de videogame.

Para suprir a demanda de veículos elétricos, infraestrutura de energia renovável e eletrônicos nas próximas décadas, serão necessárias bilhões de toneladas de metais – mais do que já extraímos em toda a história da humanidade.

Isso significa mais mineração, gerando mais destruição, poluição e emissões de carbono. A transição para energia renovável traz um paradoxo: precisamos combater as mudanças climáticas, mas, ao fazer isso, podemos criar uma nova série de problemas.

2. Tudo tem seu preço

Como lidar com os problemas ligados aos metais críticos? Seria possível reciclar mais, em vez de extraí-los? Aqui vai um exemplo sobre reciclagem.

Em minhas pesquisas para “Power Metal”, passei um tempo com catadores de lixo eletrônico em Lagos, na Nigéria. Milhares de pessoas vivem de coletar celulares, notebooks e outros dispositivos descartados, retirando pequenas quantidades de cobre, ouro e outros metais valiosos.

Crédito: Camston Wrather

Enquanto isso, o restante dos materiais – plásticos, cabos, telas – é descartado ou queimado a céu aberto, liberando fumaça tóxica que afeta quem vive por perto. Embora todos gostem da ideia de reciclar, o que vi em Lagos reflete a realidade: reciclar consome muita energia, gera poluição e, muitas vezes, prejudica as pessoas mais pobres do mundo.

Para deixar claro, reciclar metais, mesmo sob essas condições, costuma ser menos prejudicial do que extraí-los da natureza. Mas, como qualquer solução, isso tem seu preço.

Não existem tecnologias ou avanços sociais e econômicos que tragam apenas benefícios. Todo progresso tem seu lado negativo. A transição para energia renovável será, no geral, positiva, mas vai impor custos elevados a alguns. O desafio é minimizar esses custos.

3. Reduzir o consumo é a melhor solução

A maneira mais eficaz de reduzir o impacto dos metais críticos é simples: consumir menos. Isso inclui não comprar carros – nem mesmo elétricos. Os carros são, de longe, os bens mais intensivos em energia e recursos que a maioria de nós possui, além das nossas casas.

Hoje, existem mais de um bilhão de carros movidos a combustíveis fósseis circulando no mundo. Se substituirmos todos por elétricos, trocaremos um problema por outro. Claro, precisamos migrar para veículos elétricos, pois eles causam menos danos ao planeta do que os movidos a gasolina.

Mas, se pudermos reduzir a quantidade total de carros ao mesmo tempo em que fazemos essa transição, vamos economizar energia e recursos, trazendo benefícios imensos. Além disso, existem vantagens em nível pessoal, como não precisar arcar com custos de compra, estacionamento, manutenção e seguro.

precisamos combater as mudanças climáticas, mas, ao fazer isso, podemos criar uma nova série de problemas.

Alguns anos atrás, eu e minha família nos mudamos para Vancouver, no Canadá. Ao longo das últimas décadas, a cidade foi sendo redesenhada para tornar mais fácil e seguro o deslocamento a pé, de bicicleta ou usando transporte público. Assim, acabamos vendendo nosso segundo carro, pois não precisávamos mais dele.

Nossas decisões sobre como e onde obter os metais críticos necessários para a transição energética, e sobre quanto realmente precisamos deles, são cruciais. Toda escolha terá custos, mas algumas serão muito mais caras do que outras.

O ideal é trabalhar em direção a um futuro no qual possamos manter uma boa qualidade de vida consumindo menos energia, menos recursos e menos produtos – inclusive veículos elétricos.

Este artigo foi publicado originalmente em "Next Big Idea Club” e reproduzido com permissão. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Vince Beiser é jornalista e escritor, autor de "Power Metal: The Race for the Resources That Will Shape the Future (O Poder do Metal: ... saiba mais