Vem aí a primeira pílula específica para o tratamento da depressão pós-parto

A FDA acaba de aprovar um medicamento que pode mudar o jogo no tratamento da depressão pós-parto

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Sarah Bregel 4 minutos de leitura

Um novo medicamento está se revelando promissor no tratamento de pacientes que sofrem de depressão pós-parto (DPP), um transtorno de humor que pode aparecer de dias a meses após o parto. O remédio, chamado zuranolona, foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA, agência reguladora ligada ao departamento de saúde do governo norte-americano).

Ao todo, 196 mães com DPP grave participaram de um estudo de Fase 3, financiado pelos parceiros farmacêuticos Sage Therapeutics e Biogen, sendo que 170 delas chegaram à etapa final. Metade recebeu zuranolona e metade, placebo.

A saúde de todas as mães melhorou, mas as que tomaram o novo medicamento tiveram avanços muito mais significativos, que se mantiveram até quatro e seis semanas depois, de acordo com o estudo.

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Os efeitos a longo prazo ainda não são conhecidos, nem está claro ainda se o medicamento representaria um risco para bebês amamentados. Ainda assim, um remédio capaz de tratar especificamente mães que sofrem de depressão pós-parto é inovador, pois esse é o primeiro tratamento que elas podem administrar por conta própria. Outro medicamento havia sido aprovado em 2019, mas na forma de injeção intravenosa, não de pílula.

Depois que a pílula passar por uma análise de 90 dias exigida pela Agência de Fiscalização de Drogas, ela será comercializada sob a marca Zurzuvae, embora não se saiba ao certo quanto ele custará.

Muitos dos problemas que ocorrem no pós-parto decorrem de questões sociais que não tendem a desaparecer tão cedo.

O "baby blues" é uma experiência comum para as puérperas, caracterizada pela sensação de desamparo e pelo choro sem motivo nos dias que se seguem ao parto. Entretanto, os transtornos de humor pós-parto que se estendem além das semanas iniciais são muito comuns.

Cerca de uma em cada sete mulheres apresenta problemas de saúde mental que afetam negativamente suas experiências com a maternidade, bem como sua capacidade de cuidar de si mesmas, de forma grave e que transforma a sua vida. 

Depressão, insônia, ansiedade incontrolável, raiva e o sentimento de não conseguir criar laços com o novo bebê são apenas alguns dos sintomas que as recém-mães com transtornos de humor pós-parto podem apresentar.

É por isso que a medicação e a terapia são fundamentais para ajudar as mulheres com DPP. No entanto, como ainda existem estigmas pesados em relação às mães que buscam tratamento após o parto, e como a triagem ainda não é o que deveria ser, o sofrimento de muitas passa despercebido.

FATORES EXTERNOS

Novos medicamentos que possam tratar especificamente os transtornos de humor pós-parto são inegavelmente importantes – isso é fato. No entanto, não é somente a química do cérebro que leva as mulheres a sentimentos de desespero total depois de ter um bebê.

Muitos dos problemas que ocorrem no pós-parto decorrem de questões sociais que não tendem a desaparecer tão cedo, afirma Lucy Hutner, psiquiatra reprodutiva da cidade de Nova York.

Ela diz que, embora "por um lado seja sempre bom quando temos boas opções de medicamentos, e particularmente um alívio para mulheres que são mais sensíveis a alterações hormonais após o parto" (que, segundo ela, podem se beneficiar mais com esse medicamento), muitas outras questões além da biologia estão em jogo.

Cerca de uma em cada sete mulheres apresenta problemas de saúde mental que afetam negativamente suas experiências com a maternidade.

Hutner chama a DPP de "crise de direitos humanos e de saúde mental", que, segundo ela, afeta mais as comunidades marginalizadas. Isso se deve ao fato de que essas comunidades têm menos acesso a cuidados de saúde mental e apoio social.

Estatísticas mostraram que as taxas de DPP subiram até 35% quando as mulheres ficaram mais isoladas durante a pandemia, o que demonstra que há um elemento comunitário claro envolvido na saúde mental pós-parto.

Muitas vezes, as mães são forçadas a voltar ao trabalho antes mesmo de seus corpos terem tido tempo de se recuperar do parto, quanto mais antes de se ajustarem à nova situação. Além disso, faltam mais políticas e mecanismos que ajudem as mulheres a ter sucesso em casa e no trabalho durante o crescimento dos filhos.

Os medicamentos desenvolvidos para tratar especificamente os transtornos de humor pós-parto são necessários e certamente salvarão vidas, devolvendo a alegria às novas mães. Mas, enquanto as mulheres sentirem em suas costas o peso esmagador da falta de políticas que as apoiem, o pós-parto continuará sendo um período sombrio para muitas delas.


SOBRE A AUTORA

Sarah Bregel é uma escritora, editora e mãe solteira que mora em Baltimore, Maryland. Ela contribuiu para a nymag, The Washington Post... saiba mais