Você respira o equivalente a um cartão de crédito em microplástico por semana

Apesar da onipresença do material no meio ambiente e em nossos corpos, ainda não sabemos seus impactos no longo prazo em nossa saúde

Créditos: Martin de Arriba/ Unsplash/ eranicle/ iStock

Sofia Quaglia 4 minutos de leitura

Os microplásticos estão por toda parte. 

Itens de uso diário, como roupas, embalagens de alimentos, cosméticos e pneus de carro, liberam minúsculas partículas de plástico que, por sua vez, acabam sendo encontradas no sangue, nas fezes dos bebês, nas placentas e no leite materno. De acordo com pesquisas recentes, os plásticos já estão presentes até mesmo no tecido complexo que compõe os pulmões.

De acordo com um estudo recente publicado na revista "Physics of Fluids", respiramos cerca de 16 pedaços de microplástico por hora, o equivalente a um cartão de crédito por semana.

Os especialistas estão começando a correlacionar os microplásticos com inflamação pulmonar, falta de ar e maior risco de câncer de pulmão.

"Os pesquisadores nunca tinham cogitado que poderíamos inalar microplástico, por isso os dados estavam defasados e o problema é mais grave", afirma Saidul Islam, principal autor do estudo e professor da Universidade de Tecnologia de Sydney. 

Esses plásticos podem se alojar em nas vias respiratórias e permanecer nelas por muito tempo. Apesar de estarem onipresentes no meio ambiente e em nossos corpos, os cientistas ainda não compreendem totalmente seus impactos de longo prazo sobre a saúde. 

De acordo com o Programa Ambiental das Nações Unidas, pesquisas feitas com os mais de 13 mil produtos químicos associados aos plásticos revelaram que pelo menos 3,2 mil deles são perigosos para a saúde humana. Experimentos de laboratório demonstraram que os microplásticos podem causar danos às células.

DOENÇAS PULMONARES

Os produtores de plástico, como a British Plastics Federation, apontaram para os tratados internacionais que visam "eliminar, restringir, reduzir ou eliminar" os poluentes orgânicos persistentes (POPs) do meio ambiente para proteger a saúde humana. 

Em resposta a um relatório recente do Greenpeace sobre produtos químicos tóxicos encontrados em plásticos, a BPF respondeu que combater a poluição plástica "é essencial, mas que isso não pode ser feito isoladamente, sem considerar o impacto de outras questões ambientais globais importantes". 

A maioria dos estudos tende a se concentrar apenas na ingestão de microplásticos, embora também estejamos inalando esses plásticos, argumenta Islam. Seu estudo está entre os primeiros desse tipo a quantificar quanto plástico estamos respirando.

Os especialistas estão começando a correlacionar os microplásticos com inflamação pulmonar, falta de ar e maior risco de câncer de pulmão. Pesquisas em ratos sugerem que, quando os microplásticos se infiltram nas células pulmonares, eles podem começar a alterar a composição celular. Isso indica que a exposição a esse material também pode causar lesões pulmonares em humanos. 

 "Precisamos de mais estudos sobre como o plástico se incorpora à superfície do pulmão, como ele age na superfície desse órgão, como sua toxicidade aumenta com o tempo e como gera doenças", explica Islam, acrescentando que sua equipe planeja abordar essas questões em breve. "Estamos apenas começando a entender como ele se transporta nas vias aéreas."

Cerca de 99% do plástico é proveniente de produtos químicos feitos de combustíveis fósseis.

Islam realizou experimentos com três formas de microplásticos (esférica, tetraédrica e cilíndrica), em diferentes tamanhos (1,6, 2,56 e 5,56 mícrons). Ele descobriu que a forma, o tamanho e os padrões de respiração afetavam o destino dos materiais. 

Os participantes do estudo que realizavam atividades físicas pesadas e respiravam intensamente, inalavam mais plásticos em volume do que quando estavam em repouso. Mas a respiração mais lenta, associada ao sono, foi associada a partículas menores que se alojaram profundamente nos pulmões. 

POPULAÇÕES VULNERÁVEIS

As pesquisas sobre microplásticos e saúde humana ainda estão no início, diz Mary Johnson, cientista pesquisadora da Harvard T.H. Chan School of Public Health. Mas uma coisa é certa: todos os estágios do ciclo de vida do plástico afetam desproporcionalmente as comunidades vulneráveis.

Pesquisas feitas com os mais de 13 mil produtos químicos associados aos plásticos revelaram que pelo menos 3,2 mil deles são perigosos para a saúde.

Ela citou um relatório das Nações Unidas de 2021 sobre a poluição global por plásticos. O estudo detalhava o deslocamento de comunidades indígenas para a extração de petróleo, a contaminação da água em comunidades de baixa renda, problemas de saúde entre comunidades predominantemente negras que vivem perto de refinarias de petróleo no Sul, entre outros perigos enfrentados por comunidades em risco.

Outro estudo publicado no início deste ano constatou que os trabalhadores do setor de combustíveis fósseis, os produtores de plástico e as comunidades que vivem perto de locais de produção e descarte de plásticos apresentam taxas mais altas de determinados tipos de câncer, doenças respiratórias e complicações na gravidez e no parto. 

Aproximadamente 99% do plástico é proveniente de produtos químicos feitos de combustíveis fósseis. Ao longo de seu ciclo de vida, a produção de plástico gera aproximadamente 3,4% das emissões globais de gases de efeito estufa. 

"Os plásticos são altamente tóxicos", diz Islam. "Porque quando estamos inalando os plásticos, não se trata apenas do plástico, mas ele também pode carregar produtos químicos mais tóxicos." 

Este artigo foi publicado originalmente no Nexus Media News, serviço de notícias sem fins lucrativos que cobre as mudanças climáticas, e na Discover Magazine.


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