Zerar as emissões de carbono nos próximos seis anos. Será possível?

Com nossos atuais níveis de emissão, temos pouco tempo para atingir o zero líquido. Mas isso não significa que devemos perder a esperança

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Chris Smith e Robin Lamboll 4 minutos de leitura

Se a humanidade deseja ter uma chance de 50% de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, então só podemos emitir mais 250 gigatoneladas (bilhões de toneladas) de CO2. Na prática, isso significa que o mundo tem apenas seis anos para chegar ao zero líquido, de acordo com os cálculos feitos em nosso artigo publicado na revista "Nature Climate Change".

Atualmente, o nível global de emissões é de 40 gigatoneladas de CO2 por ano. Como esse número foi calculado a partir do início de 2023, o limite de tempo pode, na verdade, estar mais próximo de apenas cinco anos.

Nossa estimativa é condizente com uma avaliação divulgada por 50 dos principais cientistas do clima em junho e atualiza com novos dados climáticos muitos dos principais números informados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas em  agosto de 2021.

A quantidade de CO2 que ainda pode ser emitida sem que haja um aumento no nível de aquecimento é chamada de "orçamento de carbono". O conceito de orçamento de carbono funciona porque o aumento da temperatura média global da superfície da Terra aumentou de forma linear com a quantidade total de CO2 que a humanidade emitiu desde a Revolução Industrial.

O outro lado dessa equação é que, de modo geral, o aquecimento se interrompe quando as emissões de CO2 param: em outras palavras, quando o CO2 chega a zero. Isso explica por que o zero líquido é um conceito tão importante e por que tantos países, cidades e empresas adotaram metas de zero líquido.

Revisamos o orçamento de carbono restante com base nas 500 gigatoneladas informadas pelo IPCC no início de 2020. Parte dessa revisão é meramente temporal: passados três anos e 120 gigatoneladas de emissões de CO2, o mundo está mais próximo do limite de 1,5°C. Por causa de melhorias no método de cálculo dos ajustes no orçamento, o limite remanescente de carbono ficou ainda mais reduzido.

LIMPANDO O AR

Além do CO2, a humanidade emite outros gases de efeito estufa (GEEs) e poluentes atmosféricos que contribuem para a mudança climática. Ajustamos o orçamento para levar em conta o aquecimento estimado causado por esses poluentes que não são CO2.

Para isso, usamos um grande banco de dados de cenários de emissões futuras, a fim de determinar como o aquecimento não relacionado ao CO2 está relacionado ao aquecimento total.

A quantidade de CO2 que ainda pode ser emitida sem que haja um aumento no nível de aquecimento é chamada de "orçamento de carbono".

Parte do aquecimento causado pelos GEEs é compensado pelo resfriamento provocado pelos aerossóis. Quase todos os cenários de emissões projetam uma redução nas emissões de aerossóis no futuro, independentemente do fato de os combustíveis fósseis serem eliminados gradualmente ou de as emissões de CO2 continuarem como estão.

Mesmo nos cenários em que as emissões de CO2 aumentam, espera-se uma legislação mais rigorosa sobre a qualidade do ar e uma combustão mais limpa.

Em um relatório recente, o IPCC atualizou sua melhor estimativa do quanto a poluição do ar resfria o clima. Nossa expectativa é que a redução da poluição do ar vai contribuir mais para o aquecimento do que havia sido avaliado anteriormente. Isso reduz o orçamento restante de 1,5°C em cerca de outras 110 gigatoneladas.

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

É importante ressaltar que muitos aspectos de nossa estimativa de orçamento de carbono ainda são uma incógnita. O equilíbrio de poluentes que não sejam CO2 em cenários de emissões futuras pode influenciar o orçamento de carbono restante, assim como as diferentes interpretações de como o clima responderá.

Também não sabemos com certeza se o planeta realmente vai parar de aquecer com emissões líquidas zero de CO2. Esses fatores incertos são a razão pela qual indicamos uma probabilidade de 50% de limitar o aquecimento a 1,5°C com 250 gigatoneladas de CO2.

Crédito: Stefan Stefancik/ Pexels

Uma avaliação mais despreocupada com o risco indicaria uma chance de duas em três de ficar abaixo de 1,5°C com um orçamento restante de 60 gigatoneladas.

O tempo está se esgotando para que se consiga limitar o aquecimento global a no máximo 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Embora tenhamos revisado o orçamento de carbono restante, o recado das avaliações anteriores permanece inalterado: para deter as mudanças climáticas, é necessária uma redução drástica nas emissões de gases de efeito estufa.

Mesmo nos cenários em que as emissões de CO2 aumentam, espera-se uma legislação mais rigorosa sobre a qualidade do ar e uma combustão mais limpa.

A probabilidade de limitarmos o aquecimento a 1,5°C está diminuindo, mas isso não significa que devemos perder a esperança. Nossa atualização também revisou o orçamento em 2°C para baixo em relação à estimativa de 2021 do IPCC, mas em uma quantidade menor – de 1.350 para 1.220 gigatoneladas, ou de 34 para 30 anos de emissões atuais.

Os riscos de desencadear pontos de inflexão, como a extinção da floresta amazônica, aumentam com o aquecimento crescente, mas 1,5°C em si não é um limite absoluto depois do qual o caos climático se instalará automaticamente.

Com uma ação eficaz sobre as emissões, ainda é possível limitar o pico de aquecimento a 1,6 °C ou 1,7 °C, com o objetivo de reduzir as temperaturas para menos de 1,5 °C no longo prazo.

Essa é uma meta que vale muito a pena ser buscada.

Este artigo foi republicado do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original .


SOBRE O AUTOR

Chris Smith é pesquisador sênior em ciência climática na Universidade de Leeds. Robin Lamboll é pesquisador em ciência atmosférica no ... saiba mais