A Patagonia doou a empresa ao planeta. Três anos depois, o que mudou?
O modelo que chocou o mundo da moda em 2022 agora aponta benefícios reais para a preservação e para o futuro da empresa

Há três anos, o fundador da Patagonia, Yvon Chouinard, tomou uma atitude sem precedentes. Ele e sua família doaram a empresa. Em vez de vender a varejista multibilionária ou abrir seu capital, eles criaram um novo fundo fiduciário e uma organização sem fins lucrativos que usariam os lucros da empresa para combater as mudanças climáticas e proteger a natureza.
Em um novo relatório que analisa o impacto da empresa ao longo de seus 52 anos de história, a Patagonia compartilha como essa mudança ampliou seu trabalho ambiental.
Embora o trabalho interno diário da empresa não tenha mudado significativamente, "estamos doando muito mais dinheiro para proteger o planeta", afirma Corley Kenna, diretora de impacto da Patagonia.
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A empresa tem um longo histórico de doações para causas ambientais. Ela foi pioneira na criação de um "imposto sobre a Terra" na década de 1980, destinando 1% de seus lucros a causas ambientais, posteriormente formalizado como 1% para o Planeta, uma organização que já conta com a adesão de milhares de companhias. Mas a nova estrutura do negócio permite doações em uma escala muito maior.
A cada ano, até 98% dos lucros da empresa podem ser destinados a ações climáticas, após a dedução de quaisquer fundos necessários para reinvestimento no negócio. A empresa não divulgou exatamente quanto desse valor retorna para o próprio negócio, mas precisa de recursos para construir lojas, comprar estoque e manter uma reserva financeira para enfrentar imprevistos como uma pandemia.
Os 2% restantes dos lucros financiam o "fundo fiduciário de propósito" da Patagonia, criado para garantir que todas as decisões sejam tomadas em consonância com seu propósito de ajudar a salvar o planeta, mesmo após a morte de Chouinard e sua família. "Ele foi realmente projetado para consolidar os valores da empresa", afirma Corley. Um futuro CEO "não poderá agir por conta própria e levar a empresa para uma direção totalmente diferente".
REPASSE A PROJETOS AMBIENTAIS
Desde a reestruturação da empresa no final de 2022, a Patagonia doou US$ 180 milhões para o Holdfast Collective, um grupo de cinco fundações sem fins lucrativos criadas pela empresa para financiar projetos ambientais. Isso se compara aos US$ 10 milhões a US$ 15 milhões anuais que a companhia doa por meio do programa 1% for the Planet.
O financiamento possibilitou a realização de muitos outros projetos do tipo que a empresa já apoiava. No Alabama, por exemplo, contribuiu com US$ 2 milhões este ano para ajudar grupos de conservação a comprar 8.000 acres no pântano de Okefenokee, na Geórgia, um ecossistema único com animais raros e ameaçados de extinção, que estava ameaçado pelo desenvolvimento de uma nova mina. No Alasca, investiu US$ 3,1 milhões em um momento crítico para impedir o desenvolvimento de outra mina na bacia hidrográfica da Baía de Bristol. Na Austrália, ajudou a comprar 92.000 acres de terra.
Como a Patagonia distribui dividendos para o Holdfast Collective, os fundos são essencialmente gastos imediatamente. “O objetivo da Holdfast é direcionar esse dinheiro para necessidades urgentes rapidamente”, diz a executiva. “Muitas instituições filantrópicas estão criando fundos patrimoniais e querem economizar esse dinheiro. A opinião dos Chouinard é que o planeta precisa do dinheiro agora. Então, [a Holdfast] está tentando agilizar o processo o máximo possível.”
ATIVISMO AMBIENTAL DA PATAGONIA
Tudo isso se soma ao trabalho que a equipe de ativismo ambiental da Patagonia já realizava para apoiar organizações sem fins lucrativos que atuam em questões como proteção de terras, agricultura sustentável e clima.
Essa equipe trabalha em estreita colaboração com as organizações sem fins lucrativos, buscando maneiras não apenas de doar dinheiro, mas também de fazer com que a empresa dê visibilidade a questões específicas para obter apoio de seus clientes — como ajudar a estabelecer o Monumento Nacional Bears Ears e, posteriormente, lutar contra o governo Trump quando este reduziu o tamanho do monumento.
A equipe de ativismo ambiental é estratégica em relação ao que apoia. Este ano, a Patagonia trabalhou com uma coalizão para lutar contra parte do projeto de lei de reconciliação que previa a venda de centenas de milhares de hectares de terras públicas nos EUA.
"Essa foi uma grande vitória em um momento difícil", diz a executiva. "Acho que não conseguiríamos esses sucessos se estivéssemos tentando fazer tudo, se estivéssemos tentando vencer todas as batalhas. Simplesmente não podemos fazer isso."
A Patagonia também continua trabalhando para reduzir seu próprio impacto ambiental, embora o relatório reconheça os desafios que ainda enfrenta para atingir suas metas climáticas. Algumas metas para 2025, como a de que metade de seu tecido sintético seja feita a partir de resíduos, não serão atingidas a tempo.
É crucial, segundo a Patagonia, que outras empresas também se concentrem em ações climáticas — tanto em suas operações internas quanto em filantropia — em um momento em que a política caminha na direção oposta. "Percebemos que não pode ser apenas a Patagonia tentando fazer negócios de forma diferente", diz Corley.
Leia mais: Qual é o valor ideal para economizar aos 20 anos? Veja se você já atingiu: A Patagonia doou a empresa ao planeta. Três anos depois, o que mudou?As empresas "definitivamente precisam existir para fazer mais do que enriquecer um punhado de indivíduos", escreve Chouinard no relatório, afirmando que tem "trabalhado mais do que um homem de 87 anos deveria" desde que se desfez da Patagonia.
As empresas podem e devem existir para resolver problemas. A influência corporativa já ultrapassa fronteiras e molda as políticas governamentais em todos os lugares. Imagine o que poderia acontecer se grupos de interesse e lobistas priorizassem a saúde planetária e humana em vez da desregulamentação ambiental. Ou se ao menos algumas megacorporações multinacionais dedicassem parte de seus lucros a ações sociais que vão além da dedução fiscal.
Da mesma forma, se um número suficiente de companhias se unisse e decidisse que o nosso planeta é mais importante que o lucro, poderíamos mudar o mundo. Poderíamos mudar o capitalismo para sempre.