Adora usar IA para tudo? Poluição de data centers pode afetar sua saúde

Pesquisa mostra que as emissões na atmosfera podem levar a até 1.300 mortes prematuras a cada ano até 2030; uma solicitação feita por meio do ChatGPT consome 10 vezes mais eletricidade do que uma pesquisa no Google

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Eve Upton-Clark 4 minutos de leitura

Os data centers, fundamentais na indústria de inteligência artificial (IA), são responsáveis por alimentar níveis mais altos de poluição atmosférica perigosa, de acordo com uma nova pesquisa.

Em um artigo intitulado "The Unpaid Toll: Quantifying the Public Health Impact of AI" (O pedágio não pago: quantificando o impacto da IA ​​na saúde pública), cientistas dizem que essa poluição pode levar a até 1.300 mortes prematuras, apenas nos Estados Unidos, a cada ano até 2030.

Além disso, os custos de saúde pública — que vão desde o tratamento de câncer e asma até a cobertura de dias perdidos no trabalho e na escola — são estimados em cerca de US$ 20 bilhões anualmente.

Quando falamos sobre os custos da IA, geralmente é discutido em termos de eletricidade consumida, carbono liberado na atmosfera e água necessária para operar grandes data centers.

"Embora esses custos sejam realmente importantes, eles não são o que impactará as comunidades locais onde os data centers estão sendo construídos", disse o coautor Adam Wierman, diretor de Ciência da Informação e Tecnologia da Caltech, em comunicado.

PROBLEMA NO AR

À medida que a IA se torna mais profundamente incorporada à vida diária, a poluição atmosférica resultante na forma de partículas finas que penetram nos pulmões e outros poluentes regulamentados pelo governo federal (no caso dos EUA), incluindo óxidos de nitrogênio, só deve aumentar.

Até 2030, se espera que o fardo da saúde pública seja o dobro do da indústria siderúrgica dos EUA e pode rivalizar com o de todos os carros, ônibus e caminhões da Califórnia, aponta o estudo.

Estimativas recentes do Departamento de Energia americano descobriram que o uso de energia do data center deve dobrar ou triplicar até 2028. Só em 2023, os data centers produziram pelo menos 106 milhões de toneladas métricas de emissões — rivalizando com as da indústria aérea comercial dos EUA, que produz cerca de 131 milhões de toneladas métricas de CO2 anualmente, de acordo com a MIT Technology Review.

Um exemplo é a geração da eletricidade necessária para treinar um grande modelo de linguagem na escala do Llama-3.1 da Meta, lançado em julho de 2024. A poluição do ar produzida seria equivalente a mais de 10.000 viagens de ida e volta de carro entre Los Angeles e Nova York, disse o relatório.

Embora a IA não vá a lugar nenhum, é importante que a indústria seja responsabilizada pelos impactos ambientais e de saúde pública. Os autores recomendam que sejam adotados padrões e métodos que exijam que as empresas de tecnologia relatem a poluição do ar causada por seu consumo de energia e geradores de backup, para que os custos ocultos possam ser contabilizados.

ALERTA GLOBAL

Em setembro de 2024, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) divulgou uma nota em que alertou para os problemas ambientais atrelados ao crescimento do uso da IA e da capacidade cada vez maior dos data centers.

Se por um lado há que se destacar o papel da IA como parte dos recursos para o enfrentamento às emergências ambientais. A tecnologia, como citou o texto do PNUMA, já é usada para mapear a dragagem destrutiva de areia e as emissões de metano, um dos gases de efeito estufa (GEE).

Ainda segundo a agência da ONU, a proliferação de data centers que abrigam servidores de IA produz lixo eletrônico. "Eles são grandes consumidores de água, que está se tornando escassa em muitos lugares, e dependem de minerais essenciais e elementos raros, que muitas vezes são extraídos de forma insustentável", detalha a PNUMA. Além disso, são usadas grandes quantidades de eletricidade, o que estimula a emissão de GEE que contribuem para o aquecimento do planeta.    

O Google é um exemplo do impacto ambiental do crescimento do uso de IA. Em julho passado, a companhia divulgou em seu relatório ambiental de 2024 que suas emissões aumentaram quase 50% em relação a 2019. A alta tem a ver com o maior consumo de energia nos centros de dados e com as emissões da cadeia de suprimentos, alavancados também pela demanda crescente de IA.

“Ainda há muito que não sabemos sobre o impacto ambiental da IA, mas alguns dos dados que temos são preocupantes. Precisamos ter certeza de que o efeito líquido da IA no planeta é positivo antes de implantarmos a tecnologia em escala", declarou Golestan (Sally) Radwan, diretor Digital do PNUMA.

DISPARADA

Globalmente, de acordo com a agência da ONU, a infraestrutura atrelada à IA poderá em breve consumir seis vezes mais água do que a Dinamarca, um país de 6 milhões de habitantes.

Para alimentar os grandes equipamentos, os data centers demandam muita energia - gerada, em muitos lugares, a partir da queima de combustíveis fósseis. A Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou no ano passado que uma solicitação feita por meio do ChatGPT (assistente virtual baseado em IA) consome 10 vezes mais eletricidade do que uma pesquisa no Google.

A AIE estima ainda que no caso do centro tecnológico da Irlanda, o avanço da IA poderá fazer com que os data centers respondam por quase 35% do uso de energia do país europeu até 2026, ou seja, pouco de um terço.  

Na prática, o que se vê ao longo dos últimos anos uma proliferação de data centers. Em 2012, eram cerca de 500 mil. Hoje, já são mais de 8 milhões. Nesse ritmo, os especialistas esperam que as demandas da tecnologia no planeta continuem aceleradas.  (Com Fast Company Brasil)


SOBRE A AUTORA

Eve Upton-Clark é jornalista especializada em cultura digital e sociedade. saiba mais